Emerson 13/09/2018Uma digna obra de fantasia nacionalAtenção: esta resenha possui spoilers dos livros anteriores.
Sempre que finalizamos o segundo livro de uma trilogia já começamos a teorizar e tentar prever os eventos finais do terceiro livro. É certo que muitas vezes o desfecho de uma trilogia é meio previsível, e em outros casos o autor esfrega em nossa cara elementos presentes nos livros anteriores que sequer notamos. Não que Morte e Ressurreição seja este último caso, mas é um livro cheio de eventos dos quais eu não esperava.
Não há vitória sem sacrifício.
O fracasso do Guardião de Livros em impetrar o juízo final sobre Olam abriu novas possibilidades. Com o retorno do senhor da escuridão e dos shedins aprisionados no Abadom, o poderio das trevas está em seu auge. Se não bastasse isso, o cashaph movimenta grandes poderes em Nod. O pequeno exército de rebeldes que antes precisava contar com o acaso para vencer, agora enfrenta simultaneamente todos os inimigos.
À medida que se aproxima o desfecho na pior de todas as batalhas, outros conflitos muito mais íntimos seguem sem solução para Ben. A reaproximação com Leannah, os mistérios que ainda envolvem sua identidade, seu direito a usar Herevel, despertam nele sentimentos contraditórios. Será que, finalmente, o Olho de Olam e Herevel vão agir conjuntamente, ou novos desencontros os colocarão em posição oposta?
O início deste terceiro volume passas-se algumas semanas após os eventos de Mundo e Submundo. E o ciclo repete. Novamente um final inesperado com derrotas por parte dos exércitos das forças do bem e com os exército da Sombra cada vez mais forte. Mas citando um quote deste livro que gostei bastante, ainda há esperanças para os humanos e seus aliados.
”Mesmo quando falhamos, o plano que rege a existência segue seu curso, sem falhas. Peças numa grande engrenagem simplesmente servem aos propósitos de quem as projetou. Não podem esperar ser mais do que isso.”
O destino é que rege a vida dos protagonistas dessa trilogia. Há sempre um plano maior, não há somente justiça, mas também escolhas difíceis serão importantes para um bem maior que rege o mundo. Só há bem maior quando existe um bem menor, grandes coisas vem de pequenas escolhas, e fazer o certo em cada pequeno ato é garantia de que os grandes aconteceriam. Tudo influência no curso do mundo.
”Se há um destino, ele é um tirano.”
E no meio de tudo isso está Ben, que após descobrir sua origem, e que sua alma é dividida tanto pela luz quanto pelas trevas, acaba questionando se não é ele o catalisador de toda esta guerra e qual é seu papel nisso tudo. O jovem guardião de livros ainda possui sua essência, mas já não é o mesmo.
”O ser humano luta contra seu pior inimigo quando enfrenta a si mesmo e olha para dentro de si…’‘
Como eu disse, os eventos desse livro me foram inesperados, agora vou explicar o meu ponto. Desde o início da trilogia, é profetizada uma guerra final, uma espécia de apocalipse ou armagedom, então eu esperava ação do início ao fim, mas não é bem assim que acontece, há sim uma guerra, mas antes desse evento acontecer, os personagens ainda tem papéis a cumprir.
Leannah, ao contrário do livro anterior, possui um grande destaque. Cabe a ela o papel de se infiltrar onde as Trevas estão localizadas para destruir a rede de pedras sombrias que o senhor das trevas está quase terminando de estabelecer. Agora com a posse do Olho de Olam, ela está mais forte do que nunca. Com certeza minha personagem favorita da série. ❤
”Não há mulher mais bela no mundo,
no submundo ou nos altos céus
Como aquela que remove as trevas
como quem remove um véu.
Agradecemos por deixar contemplarmos
sua sabedoria em laurel.
A qual desde agora será para nós
como o maior de todos os troféus.''
Já Adin traiu o movimento. Não resistiu ao sofrimento lhe imposto, mas de certa forma ainda possui um papel a desempenhar, eu li os capítulos dele com total desprezo, mas seus capítulos neste livro são bastante interessantes e importantes. Porém ele é imaturo demais e só faz cagada. Mas quem sabe ele não consiga se redimir? Seus capítulos são cheios de arrependimentos, principalmente sobre o que aconteceu nas terras bárbaras. Seu temperamento impulsivo desempenhou a morte de centenas de inocentes e agora ele está nas mãos de antagonistas aliados as Trevas, mas que possuem seus próprios desejos de poder.
”Quem pode dizer quais as consequências de nossos atos? O certo é que eles sempre têm consequências. Faz parte da vida enfrentá-las. O amor que você sente pode ser responsável por grandes mudanças. Não seria a primeira vez… Nem a última…”
Tzizah e Ben possuem capítulos interligados em praticamente no livro todo. Ambos possuem papéis a desempenhar juntos, principalmente de forma política para atingir um bem maior.
Este último livro é muito mais dinâmico e fluido que os outros dois. Não possui nenhum arco que que acaba se tornando enfadonho, como a viagem ao Submundo, por exemplo. Muito pelo contrário, todos os arcos são interessantíssimos e de suma importância para os eventos finais do livro. E não posso citar todas as reviravoltas inesperadas que este volume possui, mas muitas coisas me surpreenderam. As cenas de ação protagonizadas pelos personagens são excelentes, principalmente a batalha final que é muito bem escrita e épica. Consegui visualizá-las e aproveitar cada trecho e por ventura gostar mais ainda desta incrível narrativa.
A trilogia como um todo realmente vale a pena. O autor L.L Wurlitzer sabia o que estava fazendo desde o início e conseguiu de forma plena ligar todos os pontos que foram apresentados lá em Luz e Sombras, no início da trilogia. E não posso deixar de citar a narrativa que é realmente muito boa, os livros são muito bem escritos, a narrativa é surpreendentemente boa e muitos trechos são poéticos. O lirismo das músicas criadas pelo autor é incrível. Eu diria que a narrativa é o ponto forte dos livros.
Sabemos também que o autor é pastor da Igreja Presbiteriana, mas isso não quer dizer que ele nos empurra goela à baixo sua religião, muito ao contrário, sempre há duvidas dos personagens em relação a El, o criador, se ele existe mesmo de fato e se todos possuem um papel no que rege o universo. E embora o autor mescle a ficção com a religião, os elementos presentes no livro somente são inspirados em conceitos da cultura Hebraica, como nomes de personagens, objetos e lugares, da mesma forma que Tolkien mescla a ficção com a religião em seus livros não incomodando a crença de nenhum tipo de leitor.
Sendo assim, Morte e Ressurreição merece quatro estrelas. Uma digna obra de fantasia nacional e com certeza um divisor de águas nessas terras brasileiras.
site:
https://leitoresvigaristas.wordpress.com/2018/09/11/resenha-as-cronicas-de-olam-morte-e-ressurreicao-l-l-wurlitzer/