Georgeton.Leal 14/05/2022Entre conflitos e bonançaMagistral. Esse é o termo que posso usar pra definir essa grandiosa obra de Tolstói. Já fazia uns anos que eu postergava a leitura deste clássico com receio do tamanho dele, achando que seria um livro moroso e denso demais pra mim. Engano meu. Logo após o início do primeiro tomo, fui logo conquistado pelo enredo e seus personagens, os quais ainda que em meio a dezenas de situações diferentes, estavam entrelaçados através do mesmo fio condutor.
Todos os acontecimentos históricos usados por Tolstói enriquecem muito a trama e trazem um ar de verossimilhança incrível para a obra. Há também vários ganchos que favorecem o desenrolar dos capítulos e a maneira como o autor narra tudo é bastante fluida, apesar dele ser um tanto prolixo em certos parágrafos.
Esse calhamaço é um retrato de sua época e reflete muito bem o espírito russo diante do confronto com o exército francês. Achei interessante o ponto de vista de Tolstói a respeito da Campanha de 1812. Geralmente, sempre vejo historiadores enaltecendo a "genialidade" e "transcendência" de Napoleão, mas aqui, temos uma perspectiva mais humana que revela as falhas e arrogância do dito imperador.
Gostei também do desenvolvimento da maioria dos personagens, principalmente de Pierre, isso sem falar das oportunas "coincidências" que ocorrem durante vários momentos cruciais da história. Toda superficialidade da pomposa aristocracia russa em contraste com os acontecimentos da guerra e a forma como cada um lida com seus próprios desafios é algo notavelmente bem descrito e conduzido.
Apesar de tudo, tenho uma ressalva quanto ao final do romance, pois senti falta de algum parágrafo que culminasse de modo satisfatório toda aquela longa jornada. A narrativa simplesmente encerra em meio às trivialidades do cotidiano das famílias Rostóv e Bezukhóv e nada mais é dito além das teorias históricas de Tolstói nas últimas páginas do epílogo (única parte que achei maçante). Claro que isso não desmerece o conjunto da obra, mas fiquei com aquela sensação de que faltou algo no desfecho. No demais, essa foi uma leitura amplamente proveitosa que agregou em muito à minha vida de leitor. Liev Tolstói é um dos grandes autores da literatura universal e, de fato, não há como negar isso.
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