alineaimee 22/11/2011Na primeira novela, "A idade da discrição", temos uma protagonista que, tal como a autora, é uma estudiosa. Ela se defronta com duas difíceis realidades: o filho, que não compartilha de seus ideais políticos, decidindo abandonar os doutorado para tentar o sucesso econômico no comércio; e a má recepção de seu livro mais recente. É angustiante acompanhar a angústia da mãe que se sente cada vez mais irrelevante para o filho, bem como sua frustração ao acreditar que a velhice a impede de avançar intelectualmente. É difícil não ver um pouco da própria Simone no texto, que é muito emocionante.
Em "Monólogo", temos o devaneio de uma mulher solitária, dividida entre o perpétuo incômodo que as pessoas lhe causam e o abandono. Novamente, estamos diante de um texto forte, que por vezes nos faz odiar essa senhora reclamona e orgulhosa, mas que também nos toca com a extrema solidão na qual ela se encontra.
O último texto, "A mulher desiludida" é o mais angustiante de todos. A protagonista, uma típica dona de casa com duas filhas já adultas, narra num diário a descoberta de que o marido tem uma amante, mas não é capaz de abandoná-lo nem de obrigá-lo a desfazer o romance adúltero. Ela se resigna, humilhada, e gradativamente perde espaço para a amante, que exige cada vez mais tempo, mais dias, mais feriados, férias ect. Nos inúmeros embates que tem com o marido, ele lhe acusa de não ter se cuidado, de ter estagnado intelectualmente, de não se interessar por seu trabalho e de ter sido tão controladora na educação das filhas que as tornou infelizes. Em meio à tristeza, solidão, insegurança, dúvidas, essa mulher se arrasta, sucumbe arrasada, percebendo que a vida perfeita que acreditava ter não passava de uma ilusão.
Todos os textos são narrados em primeira pessoa e conseguem comover sem cair na pieguice. A estrutura psicológica das personagens é tão bem construída, que quase duvidamos tratar-se de uma obra ficcional. Pode-se pensar que Simone desejasse chamar a atenção para a condição feminina, em sua época. Mas é interessante como, apesar de algumas das teorias de Beauvoir estarem subjacentes em inúmeros episódios narrados, o livro não se reduz à mera ficção de tese, na qual os textos servissem unicamente de ilustração das ideias filosóficas da autora. Eles se sustentam, mantêm sua força, ainda que o leitor não conheça nada do trabalho filosófico de Simone.
Muitos anos se passaram desde à publicação de A mulher desiludida, e muitas mulheres ainda são violentadas física ou moralmente por seus maridos ou grupos sociais, são discriminadas no mercado de trabalho, são subestimadas, o que mostra que o livro tem ainda muita relevância nos tempos ditos pós-modernos.