thay 03/04/2017É desesperador de tão real"A mulher desiludida" é um compilado de contos escritos e publicados pela pioneira da segunda onda do feminismo, Simone de Beauvouir. Durante a leitura eu fiquei impactada com a profundidade, suavidade e sutileza de sua escrita, suas personagens encarnam todos os medos que nós mulheres interiorizamos durante o dia a dia para que não nos achem fracas, ou bobas. Todas nós já nos sentimos pelo ao menos uma vez como cada uma dessas personagens. A primeira mulher, é a forma externada do nosso medo de envelhecer, medo esse que fora criado junto ao conceito de feminilidade, nós mulheres não podemos ficar velhas, quanto mais o tempo passa, mas devemos nos preocupar e comprar remédios que escondam nossos anos. E isso nos atormenta. Isso nos tira o sono. Enquanto para os homens, a velhice trás sabedoria e os cabelos brancos são um sinal de que a vida fora muito bem aproveitada, nas mulheres é um sinal de desleixo, de descuido. E todas essas inseguranças vemos nessa personagem. Esse conto, para mim, é libertador, porque mostra o quanto essas preocupações que nos foram expostas são tolas e devem ser desvalidadas. Ser e aparentar estar velha não é razão para desespero e sim de alegria, você passou por essa vida e a viveu sem arrependimentos. Seja feliz por isso. Dei 4/5 estrelas.
O segundo conto, monologo, foi o meu menos favorito. Aqui temos a decadência de uma mulher que foi abandonada por sua família, seu marido a deixou e levou seu filho, depois que a filha mais velha do casal se suicidou. Ele culpa a esposa e a deixa sozinha. O conto se passa em um espaço de tempo muito restrito e conseguimos notar o quão as paranoias que também foram incutidas na cabeça dessa mulher a degradam. Note, não estou eximindo-a de culpa pelo suicídio de sua filha, talvez seu egoísmo tenha mesmo a cegado e não a deixou ver até onde a situação iria, mas porque a culpa recaída apenas para ela? Porque ninguém culpa o pai? Não vemos o personagem masculino se questionando, porque em cima do papel de pai não existem as mesmas pressões que no papel da mãe. Se um jovem comete um crime logo nos perguntamos se "esse menino não tem mãe" ou "cadê sua mãe? não te deu educação?" sorrateiramente eximimos o homem da culpa pelo fracasso do filho. Apesar dessa critica forte a sociedade, achei o texto muito denso, a falta de pontuação também fora um problema (sei que a ausência de virgulas existia apenas para salientar o desespero da mulher, mas não consegui excluir isso dos pesares na hora da avaliação) e algumas partes que onde a personagem fora homofóbica achei desnecessária. O conto ficaria significativo da mesma forma sem a necessidade desses discursos. dei 3/5 estrelas.
O terceiro e ultimo conto que da nome a esta coletânea, a mulher desiludida, foi (de longe) o meu favorito. Nos é apresentado aqui a história de Monique e Maurice, que são casados a 22 anos e aparentemente felizes, até que um dia, ela o confronta sobre ele ter ou não casos fora do casamento e ele confirma. Após essa confirmação tudo muda na vida do casal, a personagem principal começa a questionar tudo, desde seu casamento, até a criação de suas filhas a (inclusive) suas qualidades. Monique desistiu de sua carreira porque o amor de seu marido a bastava e agora aos 43 anos ela se vê solitária, sem suas filhas e sem seu esposo. O conto fora pesado para mim pois me vi muito na personagem, todos os questionamentos que ela trouxe, eu já tive, eu já pensei. "Porque ele deixou de me amar?" "Será que não fui boa o suficiente?" "Talvez eu não devesse ter gritado com ele naquela ocasião a 8 anos atrás" Você constantemente buscando justificativas para eximi-lo da culpa da traição, jogando-a em cima de si mesma. Essa situação é vivida por várias mulheres, chegando até casos mais extremos, como a tentativa de justificar uma agressão. Vi várias amigas da personagem justificando a traição inclusive com "é difícil para os homens manter tantos anos de fidelidade, eles precisam de casos". Por fim, dei 5/5 estrelas a este conto.
Bem, não sei se estou sendo compreendida por você que chegou até aqui nessa resenha, mas o que eu quero ressaltar aqui é a importância dessa coletânea para a classe feminina no geral. Quando você consegue se identificar em uma dessas mulheres, em uma dessas histórias, você começa a se questionar e esses questionamentos é o que irão evitar que você se encontre em situações abusivas. Precisamos começar a educar nossas meninas que elas não precisam carregar o mundo nas costas, não há essa necessidade. Somos apenas uma parte do relacionamento, não somos todo ele. Precisa haver comprometimento da parte do homem também, ou as coisas não vão funcionar.
Recomendo este livro para todas as garotas. Ele é o feminismo do modo mais sutil que você pode ver. Importante e deve ser lido, apreciado e discutido por todas.
No fim, dei 4,5/5 estrelas (média da nota dos 3 contos).