Bruno.Rafael 18/12/2023Uma experiência de leitura diferentePrimeira folha da narrativa da HQ aberta, quatro desenhos em um traço simples em preto e branco, e nenhum diálogo ou menção de fala. Volto as páginas de apresentação para ter certeza se a história se inicia daquele ponto mesmo, e sim, esse é o início. Primeiro susto com essa HQ. A leitura continua com imagens sequenciais tendo como objeto central um banco público de madeira. E nenhuma conversa. Algumas folhas a mais, e nenhuma conversa. Mas as imagens acabam falando mais do que palavras, e é isso que vemos nessa HQ.
Ler: percorrer com a visão o que está escrito, interpretando os sinais gráficos e/ou linguísticos. As primeiras ideias ao se pensar em leitura são: letras, palavras e frases. Mas esquecemos que ler pode ir além de interpretar palavras e frases. E nessa HQ está a prova disso, mais de 300 páginas sem uma única palavra. Minha primeira experiência com esse tipo de formato em uma HQ. E como muitas novidades na vida, um pouco de relutância para aceitar, mas muita curiosidade para continuar e ver no que isso vai dar. E a resposta do corpo para essa falta de textos foi virar o próprio narrador da história, por vezes falando alto o que estava acontecendo e narrando os sentimentos envolvidos entre os personagens. E isso ocorreu naturalmente, como se fosse uma necessidade do cérebro, algo interessante como tema de pesquisa para psicólogos e neurocientistas, não é? Parece que dessa forma, a história se tornava mais completa e absorvível.
E o protagonista? Mudinho, mais mudo do que todos os personagens, e nem o narrador leitor conseguiu dar voz a esse ser passivo. Pouca empatia com esse banco no início. Qual a finalidade de contar uma história com um banco, um simples pedaço de madeira e aço? Mas ao longo das páginas essa concepção foi mudando e as últimas páginas foram muito prazerosas de se ver, ler e narrar. Por que no final das contas, não era só uma narrativa sobre um banco, era sobre um pequeno universo.