Neve

Neve Orhan Pamuk
Orhan Pamuk




Resenhas - Neve


99 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Mauricio (Vespeiro) 31/08/2017

Advertência: Você terá poucas chances de ler um livro tão chato quanto este!
Escolhi “Neve” porque quis ler uma obra de escritor contemporâneo ganhador do Prêmio Nobel de Literatura (2006). Imaginava que isso me garantiria qualidade no estilo, na narrativa e, de quebra, uma boa história. Errei feio. Orhan Pamuk, o laureado autor, escreveu um livro longo, chato demais, arrastado, muito mal escrito e de cunho essencialmente político, grosseiramente maquiado por um romance conduzido por personagens insípidos. Eu não conhecia o trabalho do escritor turco. Trata-se um militante político (daqueles insuportáveis) que faz das suas obras bandeiras esfarrapadas em defesa de causas específicas (desconfio que por exclusiva autopromoção). Processado (em 2005) no próprio país por “insultar e desacreditar a identidade turca”, foi ameaçado por muçulmanos e trabalhou nos bastidores para que saísse da perigosa obscuridade. Conseguiu, através de forças políticas de oposição ao governo, a indicação e consequente honra do Prêmio Nobel. Não pretendo entender quais caminhos o levaram a tal êxito, mas desconfio que o Nobel (um conjunto de instituições suecas e norueguesas) pode ceder a influências políticas, mais sedutoras que efetivamente a qualidade literária. Enfim... A melhor parte do livro foi conseguir terminá-lo (depois de tê-lo interrompido para ler “Dunkirk”). Resta-me agora esquecê-lo.

“Neve” conta a história de Ka, um poeta turco, exilado em Frankfurt (Alemanha), que volta a Istambul (Turquia) para o enterro da mãe. Lá consegue ser contratado para ir até a pequena Kars, cidade fronteiriça à Armênia, para investigar e escrever sobre uma série de suicídios de jovens islâmicas. Na verdade, mostra-se um pretexto para procurar Ipek, antiga colega de universidade por quem nutre algum interesse. Chegando lá, uma nevasca se intensifica, fechando as saídas da cidade por três dias. É neste feriado forçado que tudo acontece. Ka apaixona-se por Ipek, envolve-se com a conturbada política local justamente no momento que uma trupe de atores de teatro prepara um golpe para tomar o poder da cidade.

Se a narrativa de Pamuk tem qualquer elegância ou riqueza, não será encontrada neste livro. Uma atenuante seria a possibilidade (justificável) de esta qualidade ter sido perdida em meio às traduções, uma vez que a obra foi escrita em turco, uma língua bastante complexa. No entanto, esta desculpa é inaplicável à horrível construção dos personagens e às quase 500 modorrentas páginas em que eles se perdem. A começar pelo narrador da história: trata-se do próprio autor, Orhan, incluindo-se como personagem. Um despropósito detestável que nunca vi dar certo! (Aceito indicações de sucesso.) Para piorar, é um narrador onipresente, o que seria impossível, pois ele escreve o livro baseado nas anotações póstumas do personagem principal. Aliás, o protagonista Ka é deprimente. Um homem infantilizado, inseguro, pouco refinado, em crise existencial, personalidade dúbia, índole pouco confiável, mas que é idolatrado e imaculado pelo narrador. Não obstante, “aprendi” neste livro que os homens turcos são chorões e se apaixonam por qualquer mulher. Sendo ela bonita, então vale tudo. Tudo mesmo. Ka chega a dizer que é melhor não conhecer uma mulher para casar-se com ela. Como assim? O autor trata da questão do uso dos mantos para cobrir a cabeça de forma superficial, filosofia rasa, sendo que é um tema que permeia praticamente toda a história. As personagens femininas não conseguem salvar o elenco. Cientes da sua reafirmada beleza valem-se apenas desta virtude para conquistarem e segurarem seus homens. O autor conta uma história sobre três dias na vida de um personagem tosco, descrevendo eventos no mínimo estranhos. Uma peça de teatro (transmitida pela TV para toda a cidade) que pretende ser um golpe político não parece subestimar a inteligência de uma população inteira? No meio disso, romances, traições, mentiras, religiosidade se contrapondo ao mundo secular, tudo colocado nos vagões de um trem descarrilhado. Um turbilhão de diálogos com inúmeras opiniões sobre os assuntos tratados, mas praticamente nada fica interessante, pois são proferidos por pessoas de pouca ou nenhuma cultura. Um sonho febril onde dezenas de personagens com ações risíveis dão o ar da graça e nenhum cativa.

Se você acha que a política brasileira é uma bagunça, ainda não conhece a turca. Kars resume um microcosmo da Turquia atual, uma profusão de conflitos raciais, políticos, sociais, religiosos e étnicos. Por que Pamuk escolheu esta cidade como cenário? Basicamente porque é um barril de pólvora cercado por gasolina. E onde poderia (tentar) ilustrar com mais propriedade as questões curdas (sua bandeira mais saliente), já que esta etnia sem país forma 40% da população de Kars (a cidade é real). Porém, as motivações dos personagens são tão obscuras e inexplicáveis que, apesar de reconhecer a complexidade daquela sociedade, nada do que foi levantado conseguiu me sensibilizar.

O texto é muito pobre e repetitivo. A ode à neve é de matar de tédio. Nos primeiros 16 capítulos (de 44), o protagonista devaneia sobre a neve de oitocentas formas diferentes. E mais oitocentas iguais. Peguei raiva da inocente música “Roberta”, de Peppino Di Capri, de tanto que ela é citada no livro, sem propósito algum, ultrapassando as barreiras do ridículo. O autor enrola, enche linguiça com gordura e jornal, somando páginas e mais páginas sem nenhuma razão. Personagens completamente inúteis aparecem para desaparecerem logo em seguida. Cada vez que alguém saía para um passeio pelas ruas de Kars, invariavelmente passava “sob os oleandros”, via as crianças brincando com bolas de neve, entrava numa casa de chá e enchia a cara de raki (bebida típica da Turquia). Mas muito pior foi ter que ler a descrição de cada endereço, de cada nome de rua da cidade, seus cruzamentos, dezenas de vezes, sempre que alguém estava indo de A para B, como se isso interessasse a alguém que não é de Kars e nem pretende visitá-la nesta vida. Por fim, o protagonista sofre da síndrome de incontinência poética. Seja no meio de um tiroteio, de uma guerra civil, na chuva, na neve, no momento em que a mulher da sua vida lhe diz “eu te amo”, o cidadão para tudo, pega seu bloquinho de anotações e começa a escrever uma inadiável e inevitável poesia. Desculpem-me, mas não pude deixar de associar com diarreia. E foram 19 durante todo o livro. Sempre de forma súbita. Houve quem reclamasse, mas - acredite - nenhuma delas é transcrita no livro. AINDA BEM! Seria o cúmulo ainda ter que ler poesias de um personagem tão insosso.

Nota do livro: 5,17 (2 estrelas).
Cezar 02/10/2017minha estante
undefined


Cezar 02/10/2017minha estante
null


JANAINA GUSMÃO 10/12/2018minha estante
Já li mais de 200 páginas e não tô suportando mais! Muito chato e arrastado.


PARA TODOS OS LEITORES 30/01/2019minha estante
Minha vontade era copiar toda a sua resenha e colar nos postes RS.... Eu confesso que tenho a mesma sensação!!! Deixou a desejar... Fiquei bem decepcionada.


Mauricio (Vespeiro) 30/01/2019minha estante
Também conseguiu se arrastar até o final, sob os oleandros e ao som de "Roberta"? Se ainda fosse um livro de 100 páginas...


Duchesse 02/03/2019minha estante
Nossa, achei exatamente a mesma coisa! Livro chatíssimo! Impressão de que estava perdendo tempo... Parabéns por ter conseguido chegar até o fim; eu não consegui...


Mauricio (Vespeiro) 03/03/2019minha estante
Ainda não sei se há méritos em concluir um livro ruim. O tempo perdido não volta mais, mas eu tenho costume de ir até o fim, mesmo que seja para aprender com os maus exemplos. Do Orham Pamuk não tenho mais vontade de ler nem a orelha de outros livros.


Duchesse 03/03/2019minha estante
Eu não consegui chegar até o fim, mas também não compro mais nenhum livro do Orham Pamuk. Tentei ler ?Istambul? e achei a mesma chatice...


PARA TODOS OS LEITORES 06/03/2019minha estante
E o Meu nome não é Vermelho? Será que é melhor?


Duchesse 06/03/2019minha estante
Nao li . Vou procurar para ver se desfaço (ou confirmo) essa má impressão


Mauricio (Vespeiro) 06/03/2019minha estante
Peguei birra até com estilo (chatíssimo) da narrativa. Eu não perco mais meu tempo com Orham Pamuk. Talvez alguém que se interesse muito pela cultura turca possa aproveitar um pouco mais. Não é o meu caso.




Bruno 09/10/2009

Brilhante
Próximo à maestria de Dostoiévski ao desvendar as entranhas de seus personagens, Pamuk consegue a proeza de tornar universais e atemporais algumas idéias/conceitos que soam tão datados e distantes quando abordados por acadêmicos ou jornalistas. De todas as artes, acho que somente a boa literatura é capaz de transportar-nos para uma realidade totalmente diversa da nossa e, ao mesmo tempo, fazer com que ela se mostre tão familiar. O cinema e o teatro até procuram fazê-lo, mas em última instância, o cinema e o teatro também são literatura.
A forma com que o narrador apresenta a história, primeiro a partir da percepção poética do personagem principal para depois adquirir, paulatinamente, um olhar mais burocrático do romancista-narrador, é de uma singeleza sem igual. Talvez aqueles que se decepcionaram com a obra estivessem esperando uma historinha que mostrasse como as mulheres sofrem nos países de religião muçulmana ou qualquer outra coisa do tipo, mas Pamuk constrói personagens que vão muito além de qualquer maniqueísmo barato.
Certamente uma das histórias mais tocantes que já li. Jamais esquecerei deste livro e um dia pretendo lê-lo novamente.
Nathália Vargas 26/01/2012minha estante
só me responda uma coisa, acabei de terminar o livro. o ka foi mesmo o responsavel pela morte do azul?


tlmota 29/08/2012minha estante
Cuidado com os SPOILERS, srta. Vargas.


Edilaine 29/12/2012minha estante
Bruno, Muito bom seu comentario...agora entendi porque nao consigo levar adiante este livro...estava com uma ideia totalmente diferente e vc eslareceu.


Renata 27/08/2013minha estante
Obg pelo Spoiler ¬¬


liziane.herberts 22/01/2015minha estante
Eu pretendo ler novamente pq sinto que não captei o todo do livro, fiquei meio perdida... Quando terminei achei ele de uma beleza poética, talvez só daí conseguindo fechar a história na minha cabeça. Merece ler relido, em outro tempo, com outro olhar.


Rafael 05/01/2017minha estante
spoiler não :(


Dézalc 20/03/2020minha estante
Eu li recentemente "crime e castigo" e não consigo deixar de notar a semelhança com a narrativa de Dostoiévski. Concordei totalmente!


AlexAff 11/04/2022minha estante
As personagens dele mal podem ser chamadas de humanos. Não é possível que exista humano que pense e aja daquela forma.




ElisaCazorla 14/08/2019

Por que esse autor ganhou um Nobel de literatura?
Esse não é o primeiro autor ganhador de um nobel de literatura que leio. Quando lemos um García Marquez, um Saramago, um Coetzee, um Vargas Llosa, um Mo Yan, Le Clézio, Alice Munro, e até mesmo uns que não gostei muito como Toni Morisson, Patrick Modiano e Ishiguro, conseguimos sentir a força da obra e sua importância que justificam um prêmio tão importante.
Orhan Pamuk entrou na minha lista de leituras justamente porque é um vencedor de um nobel. Li Meu Nome é Vermelho porque esse título é maravilhoso - como não ler? - e detestei. Fui para Neve para dar mais uma chance e por ser uma de suas obras mais aclamadas. Detestei novamente.
Continuo com a dúvida sobre os motivos que deram ao Pamuk esse prêmio grandioso. Já fiz uma resenha sobre Meu Nome é Vermelho então falarei apenas das minhas impressões de Neve - que, honestamente, não são muito diferentes do anterior.
O protagonista é um ser desprezível. O que não fica claro é se o protagonista é em si uma crítica a tudo de ruim que ele representa ou se o autor quis colocá-lo como um herói, o que seria medonho! Ka é desprezível! Egocêntrico, mentiroso, egoísta, machista, arrogante, imbecilizado, cansativo, desprezível!
O tema do livro é interessante mas o autor passa por cima de tudo o que poderia ser bom nessa história: o pensamento religioso, a lógica fundamentalista, o pensamento de um terrorista, suicídio e o pensamento ocidental e o pensamento oriental.
A maior importância deste livro está em seguir Ka, o protagonista desprezível, percorrendo uma cidade fantasma e fria isolada pela neve enquanto recebe suas inspirações e para em qualquer lugar para escrever seus poemas num caderno verde. São inspirações que chegam em momentos tão descabidos que chegam a ofender o leitor, por exemplo, quando Ka está sendo levado pelo exército para dar explicações sobre sua relação com um terrorista que está escondido e, no caminho, ele pede para que o camburão pare num café para que ele possa escrever o seu poema - COMO ASSIM???
Ao invés de entrarmos no triste universo das garotas que tem se suicidado e nesta cidade que sofre com uma democracia falha e delicada e que tenta se proteger de terroristas fundamentalistas que querem instalar uma teocracia, ficamos percorrendo o nada com um turco metido a poeta que só quer escrever os seus versos e seduzir as mulheres para o seu prazer próprio sem se importar um pouco com a desgraça que assola aquele lugar e a miséria que aquelas pessoas vivem e depois voltar para a Alemanha.
Ka ignora toda a tristeza que o cerca. Ele só quer escrever poesias.
Não consigo nem descrever o absurdo das cenas que acontecem no teatro. Para mim as cenas no teatro são ridículas e descabidas. Enfim, leitura que não vale a pena. Um autor que não vale a pena.
regifreitas 15/08/2019minha estante
eu cheguei à conclusão que essas premiações nem sempre são um bom parâmetro para se avaliar uma obra!

Mondiano eu detestei! Toni Morrison eu achei apenas mediana, mas fiquei frustrado pois tinha uma expectativa muito alta em relação a ela. o mesmo aconteceu com a Svetlana. até gostei do livro dela, mas não achei tão surpreendente a ponto de receber a tal premiação. é um trabalho excelente como jornalismo, mas como autora... ela só fez compilar os depoimentos! mas, para ser justo, só li uma obra de cada um desses autores; tenho que ler outras coisas para ter uma opinião definitiva.

o MEU NOME ? VERMELHO gostei muito na época que li. até está na fila de releituras, mas o tamanho tem me feito protelar até agora. esse NEVE não achei tudo isso, mas também não desgostei a ponto de odiar.


ElisaCazorla 16/08/2019minha estante
Concordo com você, Regi. Acho que temos a mesma sintonia em vários livros que lemos :)


Marta Skoober 17/01/2024minha estante
Confesso que a sua resenha me deixou mais curiosa do que se fosse uma resenha positiva. Se o exemplar ainda existir na biblioteca tentarei ler um dia.


Marta Skoober 17/01/2024minha estante
Segundo o G1 a Academia Sueca justificou a premiação assim: ". O júri disse que Pamuk, "na busca pela alma melancólica de sua cidade natal, descobriu novos símbolos para o combate e a mistura de culturas".12 de out. de 2006




Fernanda 05/02/2020

null
Uma história que me tirou completamente da zona de conforto, fui conquistada nas primeiras frases e fiquei imersa na história, amei o fato de se passar na Turquia o que aumentou o interesse por essa cultura e a escrita do autor é completamente fluída.
Ana 05/02/2020minha estante
Eu comecei a ler e parei porque não consegui entender muito bem, fica mais fácil depois do começo?


Fernanda 06/02/2020minha estante
Fica sim, você vai ficando por dentro da história e consegue se encontrar na narrativa.


Ana 06/02/2020minha estante
Ah vou tentar de novo então, obrigada!!


Fernanda 06/02/2020minha estante
De nada, espero que goste.




sérgio c. 12/03/2016

não deu
fiz o máximo que pude, expandi e procurei não desistir. mas não teve como: parece que não se chega a lugar nenhum. chato, desinteressante, maçante. uma pena, mas um dos poucos que abandonei, mesmo tendo chegado lá pelas 200 páginas.
FEbbem 27/06/2016minha estante
me perguntei o mesmo o pq de tanto alarido para esse livro.. eu consegui terminar mas pra mim foi um tedio


Aline 01/08/2016minha estante
Também abandonei, tô pensando em tentar ler de novo, mas a história não me agrada


Ligia 25/10/2016minha estante
Poxa Sérgio. Aconteceu comigo isso. Mas passado um tempo comecei a reler sem intenção e achei incrível.


JANAINA GUSMÃO 10/12/2018minha estante
Tedioso!




Nat 10/01/2022

^^ Pilha de Leitura ^^
Livro superpremiado, autor ganhou Nobel. Poeta Ka volta para Turquia para analisar uma série de suicídios, mas acaba se envolvendo indiretamente com a revolta religiosa de sua cidade. Gosto muito de livros que falando da cultura e política locais, porém o livro aqui gira em torno, principalmente, de um romance, é o romance quem decide o final, e disso não gosto muito. Foi um livro interessante, mas esperava mais de uma história tão aclamada.

site: https://www.youtube.com/c/PilhadeLeituradaNat
Debora 10/01/2022minha estante
Depois de ler A mulher ruiva, me desfiz deste livro sem ler hehe


Nat 10/01/2022minha estante
olha, esse livro tem tds as coisas pra me fazer amar uma história e eu apenas achei ok rsrs então acho q vc fez certo com o livro hahaha


Debora 11/01/2022minha estante
hahaha Obrigada por não me fazer ficar arrependida rsrs




Samarithan 02/05/2020

Todo mundo tem o seu floco de neve
Em meados dos anos 90, o poeta turco Ka, retorna ao seu país de origem 12 anos após o exílio que passou na Alemanha, depois de deixar Istambul, ele decide visitar a pequena cidade fronteiriça de Kars, com o pretexto de fazer uma reportagem sobre uma onda de suicídios entre jovens islâmicas. Ao chegar no local, Ka fica preso na cidade devido a uma nevasca, e vai descobrir que a região passa por um momento conturbado, com o confronto muitas vezes sangrento entre os islamitas radicais e o Estado que pretende ser secular. O medo dos radicais chegarem ao poder por meio da democracia é o gatilho para o golpe militar que acontece em Kars, e os confrontos ficam cada vez mais violentos, com uma onda de crimes sendo cometidos dos dois lados.

Apesar do forte teor político que permeia a obra, a narrativa mantém um foco nos sentimentos e no lado psicológico dos personagens, em especial o protagonista Kars, um homem solitário e melancólico, que ao descobrir sua paixão por Ipek (uma antiga colega da escola), enxerga neste relacionamento uma última oportunidade de ser feliz na vida. Mesmo sem querer, Ka se torna um dos protagonistas dos conflitos políticos, religiosos e étnicos da região, tentando contornar o violento choque entre as diferentes facções.

Um trecho muito interessante do livro, ainda bem no início, quando Ka pergunta ao proprietário do jornal da região, o motivo da cidade, que foi tão próspera no passado, agora ser um lugar pobre, decadente e repleto de pessoas infelizes, ele recebe a seguinte resposta:

"Durante o período otomano, nenhum dos povos que decidiram ficar na região, saiu por aí batendo no peito e gritando "Nós somos otomanos!". Os turcomenos, os lazes da cidadezinha de Posof, os alemães que foram expulsos para cá pelo Czar - todos estavam aqui, mas nenhum sentia orgulho de se proclamar diferente. Foram os comunistas e sua rádio Tiflis que incitaram o orgulho tribal, e fizeram isso porque queriam dividir a Turquia. Agora todo mundo está mais orgulhoso...e mais pobre."

O livro tem vários outros trechos e reflexões marcantes, um dos aspectos que me prenderam na leitura foi conhecer um pouco de uma cultura e um povo totalmente diferente da nossa realidade, apesar de achar que intrinsecamente, os problemas humanos permanecem os mesmos independentes do credo ou etnia. Ka por exemplo, quando mais novo era um jovem idealista capaz de morrer por seus ideais políticos, após passar 12 anos de exílio e perceber que não chegou a lugar nenhum com isto, não crê mais em nenhum destes ideais, e pretende levar sua vida sem se envolver com política, mas esta, como sabemos, age como um câncer que vai corroendo tudo que toca, sendo praticamente impossível permanecer totalmente alheio a ela.

Os diferentes personagens, cada um com uma visão de mundo diferente, enriquecem a obra com diálogos e questionamentos interessantes sobre a vida, felicidade e Deus, servindo muitos vezes até como um alívio, diante da crueldade e violência da realidade.

Orhan Pamuk criou um romance intrincado, expondo as engrenagens de uma sociedade complexa e conflituosa, mas que nas inquietações espirituais e artísticas de Ka, consegue manter a beleza de sua narrativa. Primeiro livro que leio do autor, já na expectativa para ler outros!
Ginete Negro 02/05/2020minha estante
É um livro muito bom. Recomendo "Meu nome é vermelho".


Samarithan 02/05/2020minha estante
Estou na dúvida entre Meu Nome é Vermelho e Istambul, qual leio primeiro!


Ginete Negro 02/05/2020minha estante
"Meu nome é Vermelho" é espetacular.




Ane Vasconcel 13/07/2018

A Neve de uma cultura
Um dos melhores livros que já li. Tocante e revelador, com uma representatividade cultural perceptível a cada página.
Gill Fidelis 15/07/2019minha estante
Belíssimo!


Ane Vasconcel 18/07/2019minha estante
Também, achei! Quero reler após um tempo. :)




Fabio Shiva 26/02/2017

o canto da Musa
O que primeiro me interessou na leitura desse livro foi o fato do autor, Orhan Pamuk, ter sido laureado com o Nobel de Literatura em 2006. Depois que comecei a ler, vi que o livro é uma bela oportunidade de conhecer um pouco sobre o islamismo e os conflitos a ele associados. Mas o grande proveito que tirei de “Neve” foi mesmo o mergulho nas emoções e motivações de um poeta em pleno processo de criação!

O livro é escrito com muita sensibilidade e criatividade, com o uso de recursos como saltos temporais na narrativa e a inclusão do próprio autor como personagem. A narrativa tem um sabor inegavelmente “estrangeiro”, fora do padrão a que eu pelo menos estou mais acostumado, o que por momentos foi muito interessante, mas que também torna a leitura um pouco cansativa às vezes. E os assuntos abordados também ajudam a provocar essa estranheza: boa parte da história gira em torno de jovens que se suicidam porque o governo as proíbe de usar o manto em escolas e outros locais públicos...

Esse livro trará deleite especial para poetas e para os que amam a poesia. O autor coloca de forma muito vívida o processo de “inspiração poética”, quando o poeta “ouve” o poema, mais do que o cria, a ponto de ter a sensação de que simplesmente foi o anotador do poema. Senti isso muitas vezes, graças à Musa! Bem diferente é o processo da prosa, que exige um trabalho disciplinado e até meio burocrata, “de sentar para escrever todos os dias à mesma hora”, como bem coloca o autor.

Uma bela e inspiradora leitura, muito atual!


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Ferreira.Souza 12/01/2021minha estante
belíssimo, uma visão da intorecia
belíssimo


Fabio Shiva 15/01/2021minha estante
Lindo mesmo!




spoiler visualizar
Cíntia 28/05/2015minha estante
Estou quase no fim do livro e o achei muito cansativo e mesmo irritante, o personagem Ka é extremamente irritante, o jeito deles se comunicarem, a ideia de que amor se resume a beleza... tudo isso me irrita e cansa bastante, não é um livro que eu colocaria entre minhas leituras preferidas.


Toni 29/06/2015minha estante
Oi Cíntia! Concordo contigo que o livro não é fácil. E que a postura do K. é, para dizer o mínimo, a de um bocó. Mas pelo que entendi do livro, esse protagonista foi pensado justamente para causar um desconforto entre o que está sendo narrado e o que ele percebe do mundo, como forma de assinalar o descompasso gerado cada vez que tentamos ver o oriente (representado pela cidade de Kars) com os olhos do ocidente (personificado em K.). Obrigado por ter parado pra comentar!




Lindsey 18/03/2017

Revelador
Esse é aquele tipo de livro que você escolhe pela capa e que fica mega feliz pela história também ser ótima. A trama fala de Ka, um poeta turco, que logo após voltar pra casa, depois de realizar uma pesquisa/investigação sobre uma onda de suicídios entre jovens muçulmanas numa vila, se vê preso na cidade por conta de uma grande nevasca. Durante esse isolamento ele fica em meio a um golpe militar, recheado de conflitos raciais, políticos e étnicos. É um romance com fundo histórico tão bem escrito que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
* Confira minhas outras resenhas no Instagram @livro100spoiler

site: https://www.instagram.com/livro100spoiler
Guilherme 27/07/2017minha estante
Romances não ganham o prêmio Nobel, autores que ganham.




Clio0 02/03/2024

Sempre leio romances políticos com uma certa expectativa, e é isso o que esse livro trata.

O crime que se torna o fio narrativo é apenas a forma escolhida por Pamuk para poder escancarar o conflito religioso-político que atualmente domina a Turquia. Uso esse advérbio de tempo com cuidado, pois pelo que lembro de História, nunca deixou de o ser na região.

Ka, nosso protagonista, é o responsável pela divisão do livro. Na primeira parte, seus pensamentos parecem os de um estrangeiro - resultado de sua estada na Alemanha, sem dúvida -, são cheios de curiosidade e uma certa maravilha que aos poucos se apaga na segunda parte, quando a violência finalmente retorna ao seu mundo e agora a beleza do lugar, se revela em pensamentos e escrita singela. Todo o resto é guardado para o horror do que acontece.

Essa balança parece ter sido a escolha de Pamuk para criticar a presença europeia na Turquia que, sem se ver como tal, se ressente de sua presença e exige uma autonomia que não oferece aos seus cidadãos.

O forte da crítica não chega a tocar verdadeiramente em outras questões sociais como feminismo e emancipação. O autor é cuidadoso nesse momento, e a pergunta permanece...

Recomendo.
comentários(0)comente



montemor 14/04/2009

Detalhista
O livro é muito interessante, aborda fatos reais. No entanto, em determinado momento torna-se uma leitura arrastada... Detalhista ao extremo
comentários(0)comente



Samirr 14/04/2009

Muito bom
Eu adorei Neve,Pamuk consegiu me transportar para a Turquia,as vezes eu até me sentia lá haha,tem umas partes que fazem vc querer parar de ler,mas essa vontade logo se vai. :D
comentários(0)comente



99 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR