Lurdes 08/04/2023
Uma família sobrevivente. A autora vai, pouco a pouco, reconstruíndo a história de sua família e dividindo conosco suas descobertas.
A partir de relatos de tias, mãe, avó, bisavó, Eliana passou a pesquisar e foi conseguindo localizar e resgatar a documentação de que se utilizou para a escrita do livro.
A narrativa acompanha a saga da família desde 1850, com a vinda de
?wà Oluwa e Akin para o Brasil, no veleiro Boa Ventura após uma viagem de cerca de 50 dias.
A partir daí, acompanhamos as sucessivas gerações que vão moldando o caráter de verdadeiras guerreiras.
Outros personagens surgem e criam vínculos, sejam eles de amizade, quando se trata de outros escravizados, ou de poder e opressão, no caso dos senhores de escravos.
Conhecemos o jovem Firmino, que consegue sua alforria indo lutar na Guerra do Paraguai, a pequena Anolina, quituteira talentosa que, ainda criança, conquista o Imperador com seus doces, quando este visita a localidade, e tantos outros.
A maior parte da narrativa acontece na Bahia e depois, no Rio de Janeiro, para onde parte da família se muda.
Confesso que no início demorei um pouco a me conectar com os personagens pois sentia falta de uma protagonista mais forte.
As referências históricas e a apresentação das famílias que detinham o poder político e econômico tomavam conta de grande parte da narrativa e desviavam um pouco o foco.
Mas entendo a necessidade da autora em nos munir destas informações para nos situar historicamente aos acontecimentos.
Mas aí vem a abolição e surge Damiana que era a protagonista que eu buscava, forte, determinada, apaixonada e apaixonante.
A leitura, a partir dai, adquire uma força nova, talvez alimentada pela esperança de novos tempos, livres dos grilhões da escravidão.Não foram tempos fáceis, como ainda não os são, mas vamos, junto com a autora e os personagens, comemorando cada conquista, cada passo dado em direção a novas oportunidades de trabalho, estudo e dignidade.