Thalia58 23/03/2023
Todos os brasileiros deveriam ler esse livro pelo menos uma vez na vida. Impactante e muito bem escrito
Todos os brasileiros deveriam ler esse livro pelo menos uma vez na vida, porque conta a nossa história enquanto nação, mas na voz de das pessoas que foram escravizadas, quem de fato construiu esse país, com suor, lágrimas e sangue e que infelizmente são apagadas da história. A leitura é importante para que nunca esqueçamos dessa história e possamos refletir e entender para lutar contra o racismo estrutural que acompanha o Brasil por mais de 500 anos.
Este é um romance histórico com a história da família da própria autora juntamente com o que estava acontecendo politicamente no país, desde que seus antepassados foram sequestrados da África para serem escravizados aqui no Brasil, e o mais interessante é que a autora fez muitas pesquisas, então além dos depoimentos de seus parentes, ela teve o respaldo de documentos, fotos e cartas que fazem esse livro ser ainda mais impactante porque é uma história real. É a história de uma esmagadora maioria brasileira, mas que foi sendo apagada ao longo do tempo e apesar de ter temas e situações muito pesadas, como as torturas, abusos físicos e psicológicos, imposição de uma religião que não eram a deles, a escrita é leve e fluida, o que contrapõe com temas tão difíceis de digerir.
“Estar na casa-grande era um privilégio na visão da maioria, mas Helena não demonstrava gratidão por essa ‘sorte’. Percebeu que todo e qualquer serviço, por mais ínfimo que fosse, era deles. Os brancos não se mexiam para nada. [...] Um trabalho sem fim e sem descanso, temperado com caprichos os mais bizarros e, por vários momentos cruéis. [...]”
Algo que a autora falou em uma entrevista me fez ter uma perspectiva diferente da história que além de ter esse tom de denúncia sobre as atrocidades que foram cometidas, é também uma forma de mostrar que essas pessoas escolheram sobreviver e criaram mecanismos para isso. E nesse caso particular, a educação teve um papel fundamental na vida das gerações futuras como os pais da autora e da própria autora. Se eu tivesse que definir uma palavra para esse livro seria RESILIÊNCIA.
Este livro é permeado de mulheres fortes e que fizeram de tudo para mudar o rumo de suas vidas e das próximas gerações, tendo ainda mais dificuldades por serem mulheres. Além disso, é um livro diferente porque humaniza essas pessoas e mostra como todas elas que foram escravizadas assim como qualquer outra pessoa tinham sim sentimentos, ambições e refletiam sobre o que estava acontecendo ao seu redor, inclusive participando ativamente dos movimentos abolicionistas e tudo mais. Não eram alheios e tinham capacidade de compreensão, ao contrário do que se pensava na época e até mesmo hoje em dia.
A luta que começou contra a escravidão e o racismo desde os primórdios ainda acontece, infelizmente ainda temos notícias de pessoas que foram libertadas de situações análogas à escravidão, princiapalmente empregadas domésticas e inclusive o caso das vinícolas no sul do país. O mais surpreendente, triste e revoltante é que depois de tanto tempo as coisas não mudaram tanto, tem várias situações no livro que ainda acontecem atualmente. Um trecho que vale a pena destacar aqui pra mostrar isso é quando um dos personagens se alista para a guerra do Paraguai em troca de sua ‘liberdade’ se sobreviver:
“Os sulistas não recebiam bem os negros baianos destacados para a luta, e os conflitos eram sem fim [...]”.
A leitura deste livro é necessária (e deveria ser obrigatória) para reflexão da nossa história, como o Brasil foi construído e entender que temos sim uma dívida histórica com a população negra do nosso país.