Lê | @ledelicor 25/01/2019InterferênciasBriddey Flannigan está noiva Trent, e tudo já está a mil maravilhas quando ele tem a ideia de que os dois se submetam a uma prova de amor, fazer um EED antes do casamento para que assim eles possam ter certeza de que se amam e ter mais ligação com os sentimentos um do outro. O procedimento cirúrgico está super na moda entre os casais, pois promete conectar as pessoas, tornando possível sentir o que o outro está sentindo.
O casal trabalha na Commspam, uma empresa do ramo da telefonia, e por isso para evitar fofocas e que sua família, que é pouco intrometida, fique sabendo do procedimento, Briddey decide manter segredo sobre o procedimento. Contudo rapidamente, o EED dos dois vira assunto na empresa, e ela é avisada por um colega sobre o perigo do procedimento, mas Briddey não dá bola e ignora o aviso.
Então, ao acordar do EED, Briddey percebe que está conectada a outra pessoa, apavorada e sem compreender o que aconteceu de errado, ela vai tentar se manter longe do noivo, até que os dois estejam ligados. Mas com o passar do tempo, nada acontece e a situação começa a sair totalmente do controle dela. Assim, com uma ajuda inesperada, ela vai descobrir a verdade por trás do EED e os motivos de ter se ligado a outra pessoa.
Minha opinião
Esse é meu segundo contato com a autora. Ano passado li e simplesmente amei O Livro do Juízo Final, tanto que virou um dos meus favoritos. Com isso a ansiedade para ler Interferências estava altíssima, contudo o livro demorou para chegar em minhas mãos, e com isso as resenhas negativas foram surgindo e me desanimando a fazer a leitura. Agora, quase um ano depois do lançamento, tive coragem para lê-lo. Mesmo sabendo que o livro era uma mistura de ficção científica com chick lit, eu não esperava que os elementos apresentados não fossem me agradar.
Por já conhecer a escrita da autora, sei como ela gosta de desenvolver mais os acontecimentos trazendo uma narrativa mais lenta, apesar da sua escrita simples e leve, o que não foi problema para mim em O Livro do Juízo Final. Contudo, aqui, Connie se prende a problemática principal de uma maneira tão forte que eu não conseguia me ligar aos outros temas apresentados por ela. Fiquei cansada de ver Briddey falando o livro todo sobre a mesma coisa.
Eu tive dois problemas com o livro, o primeiro foi a personagem principal, Briddey. Ela mostrou-se uma mulher preocupada de mais com os outros e com sua família e desesperada em alguns momentos. Ela poderia muito bem ter levado os acontecimentos com mais calma, pensando sobre o que fazer, para que tudo fosse resolvido ao seu tempo. Isso fez com que eu ficasse irritada com ela em determinados momentos, pois suas decisões, algumas vezes, não eram das melhores. Já o segundo foi o modo como o relacionamento dela com o noivo é apresentado. No início, que era para parecer que eles eram muito apaixonados, eu não tive essa impressão. E logo em seguida ela faz o procedimento, ligando-se a outra pessoa, isso deixa ela o mais distante possível de Trent. Em nenhum momento senti que ela amava o namorado, o que foi um pouco estranho, na minha opinião.
E você sabe para quem as pessoas mais mentem? Para si mesmas. São mestres absolutas da autoilusão.
A família de Braddy também é apresentada e tem papel fundamental nas decisões da protagonista, que aparentemente tem medo da intromissão da parentada, mas também não faz nada para que isso mude. Eu nunca na vida vi uma família mais metida e abusada do que essa, não há limite quando o assunto é se meter na vida alheia, beira o insuportável. Falando em gente metida, Connie aborda esse tema também através da exposição nas redes sociais. Tanto os familiares de Brady quanto suas colegas de trabalho estão sempre conectados e conversando e fofocando sobre a vida alheia, nada passa das mensagens maldosas do povo.
Eu não sei se foi o fato de eu estar um pouco cansada da leitura ou se foi oura coisa, mas não gostei muito do “motivo” dos acontecimentos. Confesso que é tudo bem interessante, contudo um pouco limitado para mim. Os questionamentos sobre a privacidade dos nossos sentimentos e pensamentos é super relevante, principalmente nos dias atuais, em que as pessoas postam uma coisa, mas na verdade estão sentindo outra ou estão dizendo uma coisa e pensando outra bem diferente.
Mesmo com essa minha pequena decepção, quero muito poder dar outra oportunidade para a autora, assim que um próximo livro seja publicado no Brasil. Interferências é um livro para quem curte chick lit mais do que ficção científica. Um bom livro, com questionamentos atuais.
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https://www.lelendolido.com.br/2019/01/interferencias-connie-willis.html