Tamirez | @resenhandosonhos 28/07/2018Um Vento à PortaMe aventurei através da escrita de Madeleine L’engle pela primeira vez no comecinho do ano quando resolvi ler Uma Dobra no Tempo e tive uma boa experiência. Depois de muito ter ouvido sobre essa história, ter finalmente feito a leitura foi um deleite. A proposta é essencialmente um livro para jovens, mas que tem bastante a nos acrescentar, principalmente pela quantidade de informações que recebemos.
Em Um Vento à Porta porém, é como se déssemos um reboot na história e tudo o que aconteceu antes fosse esquecido. Há praticamente nenhuma menção aos acontecimentos do primeiro livro, o que pra mim foi uma surpresa, afinal foram coisas importantes e que marcaram (ou deveria) essa família.
Aqui começamos com duas premissas que parecem bem simples, mas que logo evoluem para algo louco e único, como já sei que é o hábito da autora. Charles Wallace está com dois problemas: anda sofrendo bullying na escola e pode estar doente. A primeira tem tudo a ver com a sua cabecinha inteligente e que está sempre muito à frente dos outros jovens da sua idade, e que é algo que pode ser passageiro; enquanto a segunda realmente apresenta algo a se dar atenção. E é quando os olhos de Meg, que é realmente a nossa protagonista aqui, se voltam para isso que a história começa.
“Sou um ser humano. Eu sinto. Não consigo pensar sem sentimentos. Se você tem significado pra mim, então o que você decide fazer se eu fracassar tem significado.”
Diferente do primeiro livro onde fomos brincar entre dimensões e tempo, aqui vamos ter uma questão que brinca muito mais com a física e com a biologia de uma forma mais orgânica. E, ao mesmo tempo em que fiquei surpresa com a mudança, também fiquei um pouco triste por ver toda a parte que me cativou em relação a esses personagens e a própria história sendo deixada de lado.
Sei que para muitas pessoas Um Vento à Porta é um livro superior ao primeiro, mas eu ainda coloco mais peso à história inicial e gosto muito mais dos rumos lá tomados. Aqui, novamente vamos ter a inserção de uma figura que possui dons específicos e que vai guiar nossos personagens pela história. Mas, confesso que não fiquei muito convencida ou envolvida com o plot principal.
É engraçado pensar que essa é uma série juvenil, com personagens bastante jovens, porque em certo momento do livro é praticamente impossível entender o que está acontecendo se você não estiver com todas as definições dos muitos personagens e “raças” apresentados ao longo da história. Em uma única frase a autora consegue inserir quatro ou cinco nomes que só fazem sentido à narrativa particular que ela está contado e, mesmo eu sendo uma adulta há bastante tempo, digo que me senti um tanto confusa em alguns pontos.
O vai e volta de definições e a forma lúdica que é usada para apresentar as coisas, assim como os infinitos diálogos entre personagens fazendo com que um entenda o conceito explicado pelo outro e rebatendo, acabou por me desconectar da história ao invés de ser realmente explicativo. E, aliado a ser uma trama que se distancia bastante do proposto num primeiro momento, acabei por não gostar tanto quanto do primeiro.
Enquanto caminhava pelo livro e via a aventura acontecendo e a lealdade entre irmãos, foi impossível não me lembrar de Desventuras em Série e fazer um link com a forma que ambos os autores construíram esses elos de ligação. Acho que se tivéssemos um “Q” de sci-fi na obra de Lemony Snicket, provavelmente seria visto como uma releitura mais moderna dessa por essas semelhanças.
O “nome” aqui também é algo importante e eu sempre me fascino por esse recurso. Já li vários livros que trabalhavam isso e sempre é algo que me cativa. Então, foi realmente nos detalhes que acabei ficando com a sensação de que poderia ter sido melhor. Nos detalhes mesmo, bem pequenininhos, como o cenário de parte da jornada dos personagens, que é, para dizer o mínimo, inusitado.
Meg é novamente quem vai conduzir a história e ser a peça decisiva. Calvin entra como um suporte, e que acompanha para ajudar. No que diz respeito a Charles, descobrimos mais sobre eles e sua presença é uma constante, mas mesmo assim ele fica um pouco mais afastado nesse livro.
Acho que se você já leu Uma Dobra no Tempo, vale a pena conferir esse segundo e ver se funciona bem pra você essa mudança. Eu já tenho aqui Um Planeta em seu Giro Veloz e pretendo fazer a leitura logo logo pra ver se teremos outra história isolada, ou se de alguma forma vamos ter uma conexão maior entre as partes.
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