Fernanda631 24/11/2022
Stalker
Stalker foi escrito por Tarryn Fisher e publicado em 9 novembro 2018.
Quem nunca deu uma stalkeada? Aquela espiadinha na vida alheia. Uma coisa, entretanto, é saciar uma curiosidade, algo inerente ao ser humano, dando um confere na rede social do(a) ex ou atual, amigo(a), parente ou famoso(a). Outra, completamente insana, é querer a vida de alguém. Inspirado em uma experiência pessoal da própria autora, Tarryn Fisher, Stalker: Quando a Inveja se Torna uma Obsessão, traz uma trama eletrizante sobre as loucuras que uma mulher faz para ser a outra.
Começamos o livro com a Fig Coxbury, e eu não vejo outro jeito de descrevê-la além de uma mulher louca e perturbada. Ela perdeu a filha meses atrás, mas não consegue seguir em frente, e em um dia, ela vê uma menina no parque, e nesse instante, se convence que aquela criança é sua filha que voltou.
Movida por esse sentimento de que é sua filha, ela descobre que a criança é a Mercy, filha da Jolene e Darius. E para conseguir ficar mais perto, ela vai se aproximando calmamente do casal. Então, ela compra a casa ao lado, e começa a ser a vizinha perfeita, faz amizade com a Jolene, e de todas as formas possíveis ela vai se infiltrando na vida da família, que não tem a menor ideia das intenções dessa mulher.
Fig Coxbury busca uma nova vida em West Barrett Street, mas, ao contrário das aparências, o intuito não é recomeçar na nova vizinhança. Ela compra a casa ao lado da família Avery para se aproximar de Darius (o marido) e sua filha, Mercy, e, aos poucos, assumir o papel de Jolene, a matriarca. Para conquistar o seu objetivo, Fig copia, manipula e persegue Jolene. Usa táticas e cenas para tirar a rival do seu caminho.
Inicialmmente suas intenções era apenas ter sua “filha” de volta, mas ao longo da convivência, os sentimentos de Fig vai mudando, agora ela começa a pensar em como Jolene tem a vida perfeita, a filha, o marido maravilhoso. E sua obsessão começa a intensificar. Tudo que a Jolene compra ou faz, Fig também decide fazer, e ao seu ver, de uma forma melhor que a própria Jolene.
A partir dai vamos acompanhando o desenrolar da história dessas três pessoas. E também não posso contar mais nada da história, porque você precisa das surpresas que contém nesse livro.
O começo do livro é todo narrado pela psicopata (Fig), do sociopata (Darius) e da escritora (Jolene). E a cada mudança de narração, nós vemos que tudo o que acreditávamos era mentira.
Eu particularmente, adoro essa estrutura que muda o ponto de vista e gradualmente dá outra visão para os acontecimentos. Essas viradas, além de conferirem agilidade à leitura, no caso da obra de Tarryn Fisher, são os alicerces para a narrativa, despindo os personagens principais de suas máscaras e tecendo os conflitos e dramas pessoais.
A complexidade dos personagens é o grande destaque de Stalker; os seus questionamentos e o modo como eles veem (e, algumas vezes, julgam) o outro. Eles são imperfeitos e, por isso, instigantes.
A psicopata é aquele típico personagem que amamos odiar. Que adoramos ler, mas que, “Deus me livre”, “cruzes”, “misericórdia”, ter em nossas vidas. Fig é tão insana que intriga o leitor. Não tem pudores. Fala o que pensa. Delira. Totalmente dissimulada! Chega a ser engraçada. A experiência narrativa de entrar nesta mente é tão fascinante, que, na minha opinião, ela poderia narrar o livro inteiro.
Se, por um lado, a psicopata cativa pela loucura, a escritora, vulgo a vítima da história, tem uma força surpreendente. Jolene foge daquele estereótipo de coitada, frágil – que beira a chatisse. Ela tem personalidade. Reconhece os problemas, sofre (afinal, é humana), mas, apesar de tudo, enfrenta os obstáculos que a vida lhe impõe. Não me surpreende que o público feminino aprecie tanto o trabalho de Fisher. É inspirador
Além de boas personagens, incluindo Darius – que narra a segunda parte da história -, Fisher tem uma sagacidade incisiva no texto. É envolvente, fluida e ágil. Os diálogos são afiados e as cenas conseguem transparecer toda a obsessão de Fig. Impossível não ficar incomodado com toda a perseguição.
A trama de George (ex-marido de Fig), a meu ver, é um ponto fora da curva no livro. Detesto ver um bom personagem em potencial ser desperdiçado. Senti que ele tinha algo a mais para revelar. Queria saber quem realmente era, qual a perspectiva sobre Fig. No começo, George parece um mero acessório para a narrativa da psicopata (até aí, tudo bem, normal autores utilizarem esse artifício), mas, no fim, surge bem superficial para dar uma mexida na vida da Jolene. Ele não precisava ganhar voz, ser narrador. No entanto, desenvolver melhor a relação com a ex-mulher preencheria um pequeno vazio que senti ao terminar a obra.
Independente deste detalhe, foi uma experiência fantástica e uma grata surpresa de leitura. A virada final de Stalker ainda me surpreendeu pela postura. Não tem nenhum acontecimento inesperado, porém, a forma como Jolene lidou com o problema é digna de aplausos.
Em Stalker cada um tem a sua versão dos fatos e tudo só faz sentido no final. E que final. A Tarryn encerrou o livro com uma maestria que faz você ter certeza que tudo isso aconteceu, apesar de toda a loucura, e depois de pesquisar um pouco, você descobre que isso aconteceu mesmo com a própria Tarryn como citei anteriormente. O que é verídico da história eu não sei e ninguém sabe, mas, segundo ela, foi bem parecido, e isso é de dar calafrios!
Tem um certo romance, mas esse não é o foco do livro e é meio doentio. O propósito dele é mexer com a sua cabeça, é um romance psicótico se você insistir em rotulá-lo. Se você espera um romance fofo, aconselho que leia F#ck Love da autora se você procura o thriller dramático, um livro para mudar sua vida, leia O Lado Obscuro também da autora.
Stalker é uma obra avassaladora. Uma leitura envolvente, louca e obsessiva.