Sérgio Filho 02/05/2010
O hedonismo de Petrônio
Petrônio escreveu o Satíricon com o intuito de ridicularizar a corte do imperador Nero e a alta sociedade romana. Antes que o soberano do império o condenasse à morte, o autor latino suicida-se cortando os pulsos ao mesmo tempo em que desfruta seus últimos momentos conversando com os amigos sobre os prazeres que a vida proporciona. Desse modo Petrônio seguiu a ética hedonista até sua derradeira gota de sangue, literalmente.
Obra-Prima da Literatura Latina, Satíricon condiz perfeitamente com o estilo de vida adotado por seu autor. Diferentemente do Epicurismo, que prega a procura da felicidade pela prática moderada do prazer, a filosofia iniciada por Eudoxo de Cnido aconselha a busca incessante pelo prazer.
A maioria dos personagens da obra é desprovido de pudores, as práticas orgíacas, heterossexuais e homossexuais são narradas pelo protagonista Encólpio com total desprendimento moral, visto que a visão de mundo cristã que castraria o sexo como elemento essencial e fundamental do e para o ser humano ainda não ameaçava a mundividência pagã.
Encólpio nos conta suas aventuras vividas em viagens pela Itália, bem como suas peripécias amorosas com outros dois jovens mancebos, Ascilto e Gitão. Juntos, o trio de errantes passa por situações de perigo, episódios picantes e outros de muita comicidade, como é o caso do famoso banquete de Trimalquião, sujeito bonachão sempre a pronunciar trocadilhos de péssimo gosto. A cena é uma verdadeira sátira (daí o título do livro) às altas rodas da sociedade romana da época, além de ser um devotado culto dionisíaco.
O Satíricon é considerado o primeiro romance realista da Literatura universal, lá estão características que antecipam em muito, o que no século XIX comporia a estética realista.
Por isso o parecer do crítico Otto Maria Carpeaux ao explicar porque o romance de Petrônio é tão atual: “O ambiente (...) é o das nossas grandes capitais, da nossa alta sociedade (...). A obra de Petrônio é de estranha e alegre atualidade.”