Fran 17/04/2022
RESENHA: Quem tem medo do feminismo negro?
AUTORA: Djamila Ribeiro
EDIÇÃO: Companhia das letras, 2018.
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"Quem tem medo do feminismo negro?" Qual seria a resposta para a pergunta de apresentação do livro? A obra deixa claro: quem tem medo do feminismo negro é aquele que ainda deseja continuar pensando o feminismo como algo separado, alheio às outras opressões que afligem as mulheres... a mulher negra, por exemplo, não é afrontada apenas por seu sexo, mas por sua cor.
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A universalização do estereótipo da mulher como branca, de classe média, instruída... deixou manchas na luta das mulheres por equidade. É importante reafirmar que existem mulheres que concentram maior opressão. Quando se fala em mulher deve-se esclarecer de que tipo de mulher se fala: da branca, da negra, da indígena, da que vive na periferia, da transgênero ou de diversas outras... pois cada mulher possui uma experiência de vida... e de opressão diferente.
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Nesta obra, Djamila Ribeiro se apoia em diversos estudos e relatos de experiências suas e de outras mulheres que acumulam outras formas de opressão, mas, especialmente, a racista. Relatos como a da ex-escrava Sojourner Truth, que fez um discurso, quase reprimido, na Convenção dos Direitos das Mulheres de Ohio, em 1851:
"Aquele homem alí diz que é preciso ajudar as mulheres a subir numa carruagem, é preciso carregá-las quando atravessam um lamaçal, e elas devem ocupar sempre os melhores lugares. Nunca ninguém me ajuda a subir numa carruagem, a passar por cima da lama ou me cede o melhor lugar! E não sou eu uma mulher? Olhem para mim! Olhem para meu braço! Eu capinei, eu plantei, juntei palha nos celeiros, e homem nenhum conseguiu me superar! E não sou eu uma mulher? Consegui trabalhar e comer tanto quanto um homem - quando tinha o que comer - e aguentei as chicotadas! Não sou eu uma mulher? (...)"
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É fundamental refletir que um movimento que abrange tantos mundos deve olhar para todos eles, com suas peculiaridades e necessidades, se não, não alcançará a todos igualmente.
Como ensaio, a obra traz várias referências importantes para quem deseja conhecer um pouco mais sobre o feminismo negro.