Jose 19/03/2023
É fato que a Bíblia é uma das maiores fontes de inspiração para os vários formatos e expressões de arte que existem. Tem poemas, quadrinhos, filmes, mangás, animes, séries, músicas e tudo mais que você possa imaginar. Portanto, hoje o que vou trazer é uma adaptação em quadrinhos de um poema antigo que fala sobre acontecimentos bíblicos.
Paraíso Perdido é originalmente um poema de John Milton, feito no século XVII e que contava a história da queda de Lúcifer, seu plano de corromper o homem e a promessa do sacrifício de Jesus. O poema tem 10 cantos e foi inteiramente ditado, porque o autor estava cego quando ele foi feito. Quanto ao gibi, ele adapta tudo isso para a linguagem dos quadrinhos e consegue ser único por si só.
Com um tom épico e um desenho absurdo, o espanhol Pablo Auladell adapta o poema de maneira primorosa. Ele consegue passar sentimentos de desconforto em olhares, a imensidão de um lugar maldito como o Inferno e principalmente a confusão dos seres caídos, destituídos do esplendor divino e do direito ao Paraíso. Aqui, Lúcifer – após a queda, chamado de Satã – não é tratado como um coitadinho ou como um injustiçado. Ele é mostrado com sinceridade: ciente das suas ações e aceitando seu destino, mas sem desistir da resistência contra ao julgo de Deus. Cria-se uma empatia, só que você entende muito bem que ele não é do “bem”. Ele é quase humano, complexo e nunca unilateral.
Um dos pontos chaves que te fazem sentir dentro do poema de John Milton é a tradução. Érico Assis faz um trabalho incrível, traduzindo o inglês arcaico sem tirar a emoção e peso das palavras. Tem monólogos e algumas frases de Satã que chegaram a me deixar arrepiado, e isso não é fácil de conseguir. Porém, para algumas pessoas, o português difícil, que realmente lembra a leitura da Bíblia, pode ser complicado e até deixar o quadrinho maçante, mas recomendo que leiam com paciência e muito carinho.
Paraíso Perdido, lançado aqui pela Darkside, é um quadrinho de peso. O acabamento combina com a grandiosidade da obra e as páginas lembram um pergaminho antigo. É um ótimo quadrinho, e recomendo para todos, independente de religião ou crença.