Zé - #lerateondepuder 26/10/2019
O Paraíso Perdido por Pablo Auladell
O bem de Deus e o mal que está em Satã e, principalmente, quando e por que surge este grande ser maligno, esta é uma das vertentes abordada na grafic novel apresentada por Pablo Auladell, um escritor espanhol nascido em 1972, o qual tem se empenhado em revisitar obras clássicas, ilustrando-as como uma verdadeira arte gráfica. É claro que cabe ressaltar, logo de início, de que esta história em quadrinhos retratará o clássico de John Milton escrito no ano de 1667, o famoso Paraíso Perdido.
A trama começa no meio (in medias res), quando Satã, caído do céu por dias a fio, dá-se conta de sua queda e busca amealhar seus companheiros, os demais anjos caídos, expulsos do paraíso e agora no inferno. É quando Satã declara “mais vale reinar no inferno do que servir no céu” e parte para criar o pandemônio, liderando todos habitantes do Inferno, não sem antes procurar um novo mundo criado por Deus, a Terra dos homens, onde será possível, ardilosamente, explorar suas fraquezas. Mas é quando vai sair pelos portões do Inferno, que Satã reconhecerá o Pecado, sua antiga cria e amante na forma de uma mulher, cuja filha terá também a forma humanizada, conhecida como Morte e, nesta saída das hostes infernais, pedirá autorização ao trono do Rei Caos, que lhe ordena sua ida até a criação de Deus. Assim acaba o primeiro dos quatro cantos, denominado de Satã.
A história continuará em mais três outros cantos, sendo o segundo denominado de Jardim das Delícias, começando este com o arcanjo Miguel informando a Deus os planos de Satã desejar rondar o Reino da Terra, parte pendurada no paraíso de Deus. Este canto tratará de retratar a boa vida de Adão e Eva no paraíso, até que Satã influenciará Eva em sonhos, a transgredir a única regra imposta por Deus para viver no Éden, a de não comer os frutos da árvore do conhecimento. Acaba assim este cântico com a visita do anjo Rafael, com o intuito de alertar os perigos que correm e as escolhas que podem fazer os dois novos moradores do mundo, destacando o livre arbítrio de escolher a vida junto ao criador.
Boa parte do terceiro canto, conhecido como Primeiras Lembranças do Mundo, tratará da história da guerra de Satã contra os exércitos de arcanjos do Céu. O anjo Lúcifer, um dos escolhidos de Deus, sente uma tremenda inveja por Deus criar o seu filho e determinar que todos sejam a este subservientes. Lúcifer tentará, por meio de outros anjos simpatizantes, subverter a ordem, lançando a guerra contra as esquadras santas de Deus, até que é rechaçado pelo filho do grande pai celestial, que lançará todos os inimigos ao abismo do Inferno. Findo o relato da guerra dos céus, este terceiro canto tratará da descrição detalhada da criação da Terra, dos animais, de Adão e em seguida Eva de uma de suas costelas.
O canto quarto, último da obra e denominado de Espada Flamejante, começará com a citação “e o vapor com o líbio ar adusto, começava a crestar o clima ameno”. Este epílogo trará a cena de Eva sendo concitada por Satã na forma de serpente, a comer a maçã da árvore conhecimento, ocasião em que esta mulher diz “qual seria, enfim, o crime do homem por alcançar tal conhecimento”. Depois, Eva oferecerá o fruto a Adão e serão contadas todas as consequências deste ato de desobediência, quando Deus condenará Adão a trabalhar e suar para comer o pão da sobrevivência, e às dores do parto e o domínio do marido a Eva, encarregando o arcanjo Miguel de determinar a saída daquele casal do Jardim do Éden, assim finalizando esta história em quadrinhos.
O livro em questão, conforme acima mencionado, deriva da clássica obra de Milton escrita há mais de trezentos e cinquenta anos. Este clássico é a descrição detalhada do Livro do Gênesis da Bíblia Sagrada e, por vezes, esta história foi contada ao longo dos anos, confundindo-se a autoria entre a obra sagrada e o livro de John Milton. O Paraíso Perdido original foi desenvolvido, inicialmente, em dez cantos, posteriormente sendo incluído mais dois, totalizando doze cantos, na forma de uma epopeia, com versos brancos, aqueles em que não há rimas. É uma obra-prima escrita em um momento em que a Inglaterra tendia a deixar de ser um reinado, sendo Milton uma figura política de relevância na época. Curiosamente, o autor ficou cego nos anos de escrita, finalizando-a por meio de ditado à filhos e amigos.
O fato de ser apresentado em história em quadrinhos (HQ) de forma alguma deprecia o relato destes cantos que tão reverberaram há tantos séculos, até mesmo porque as ilustrações são verdadeiras obras de artes. Há uma nítida distinção das cores em que o quadrinhos se apresentam, sendo os de Satã retratados sempre nos tons cinzas ou negros, enquanto o paraíso, Deus e os anjos, em tons coloridos. Há diversas citações escritas bem fiéis aos dizeres da obra original, mas boa parte dos quadros se apresentam somente na forma de imagens, o que talvez dificulte a interpretação devida da obra original para aqueles que não a conhecem.
A HQ em que se baseia esta resenha é uma publicação de 2018 da magnífica Editora carioca Darkside Books, a qual prima pela apresentação gráfica e diferenciada de todos os seus livros, sendo esta uma tradução de Érico Assis, contendo trezentos e vinte páginas muito graciosamente elaboradas por Auladell ao longo de anos. Não é uma HQ barata, podendo ser encontrada por pouco menos de cem Reais.
Esta grafic novel vale cada momento em que se tem com ela o contato, pela formosura de seus quadros, mas principalmente pela relevância de seu conteúdo contado. Entretanto, os leitores que não conhecem a obra original, é interessante ler e ouvir as resenhas do original disponíveis na Internet, para o entendimento mais amplo.
Paz e Bem!
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