Rafael 31/07/2020
"Por que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias"
Vidas secas é um livro bem curto, mas de uma profundidade tamanha. O texto conduz o leitor a uma série de reflexões e independentemente de ter sido escrito na década de 30 é uma obra atemporal. Aborda o sofrimento e a luta do povo sertanejo, o valor da família, justiça social, abuso de autoridade, resiliência e esperanças. Emociona. Certamente figura entre as grandes obras literárias brasileira. Graciliano Ramos provoca o leitor, colocando-o em um cenário infértil, seco, incômodo, repleto de escolhas difíceis e ao mesmo tempo cercado pelo contraste do aconchego familiar, unidos em busca da sobrevivência. O desconforto vem das incertezas climáticas, dos anseios e frustações, das privações, da humilhação, da sensação de não pertencimento e da ignorância que acomete, principalmente o personagem Fabiano, o chefe da família. Quanto ao contexto dessa maravilhosa obra ainda é possível traçar um paralelo com o filme (baseado em fatos reais) "O menino que descobriu o vento". O filme trabalha em um contexto similar de dependência do clima para o sustento, valor da família, humilhações e até perdas ao longo do caminho. Enfim, a obra de Graciliano nos concede uma empatia ainda maior com o povo sertanejo e nos inteira das lutas e força desse pedaço de Brasil tão marginalizado pelos grandes centros urbanos. Cabe ainda mencionar que na edição da Record, há um posfácio muito oportuno que se aprofunda nas nuances da obra e enriquece ainda mais essa discussão.