Andre.Pithon 18/09/2022
Bingo de Fantasia e Sci/fi do /RFantasy
3.2: Autor usa iniciais no nome
4.5
Eu vim ler esse livro sem saber nada. Sabia que era famoso, que tinha recebido grandes prêmios em meados de 2018. Sabia de influências chinesas. Nem mesmo li a sinopse. Só comecei a ler, pois as vezes a cegueira completa é uma experiência libertadora. As vezes quando faço isso acabo lendo uns absurdos de qualidade ofensiva. Hoje não. Hoje fui recompensado.
E é difícil perceber os porquês imediatamente. Poppy War abre com clichês, clássica órfã de vida péssima que vai para a academia de treinamento/magia/porrada/aprender qualquer coisa para crescer na vida. Comum, escolas parecem parecem ser um dos ambientes mais adorados de fantasia, e olha só, novamente estou aqui retornando para livros que carregam muito da estrutura do "Nome do Vento", já que muito dos professores e relações aqui construídas também me remetem a lá, Jiang é um personagem quase roubado diretamente. Ou talvez Rothfuss apenas esteja na minha cabeça pela última leitura. Indiferente. Mas enquanto o arco escolar é agradável e interessante, alimento familiar, não realmente faz nada novo, e eu estava ok com isso. Preparado prum livro inteiro de drama escolar.
Imaginem minha surpresa quando guerra estoura no final do primeiro terço, num ritmo bem mais rápido que o gênero nos leva a esperar, e os estranhos elementos místicos começam a surgir e se explicar.
The Poppy War quase consegue fingir que é YA, até o Não-Japão invadir a Não-China, e a história se tornar subitamente estranha, desconfortável, agoniante de ler. A guerra é guerra, e o Não-Japão gosta de umas barbaridades horrendas bem típicas do Japão de verdade. O uso de drogas para conter energias divinas é um tema constante, e vemos a protagonista, Rin, entrar numa espiral autodestrutiva, justificada, mas ainda assim absolutamente descontrolada.
Eu gosto de desastres, acho. Pessoas que são desastres, que pioram tudo que tocam com a melhor das intenções, e Rin é isso. May também era isso. Duas reviews em sequência que cito tanto Rothfuss quanto meu próprio EN, olha só, combos. Acho essas implosões ilógicas que acreditam-se lógicas fascinantes, tão deliciosamente doloroso, e esse livro consegue doer, consegue fazer-nos sentir a desesperança e o desespero, e entender as decisões ruins. E são obviamente ruins, e essa é graça.
Ainda assim, não consigo justificar um cinco. Chega perto, mas faltou me machucar mais. Faltou me fazer sentir mais. Houveram passagens fortes, desconfortáveis, há um worldbuilding interessante, mesmo que extremamente derivativo do mundo real, mas os momentos emocionais não realmente me emocionaram tanto assim. E eu queria me emocionar, alguns dos meus tropes preferidos estão aqui. Jovem burra transtornada fazendo merda e fodendo o mundo. Sempre divertido.
É um bom livro, e é uma autora que pretendo acompanhar com interesse. (Babel, o novo livro dela, se encontra prestes a sair, e eu provavelmente vou tentar ler assim que possível). Primeiro livro de uma trilogia já terminada, Poppy War abre bem o conflito, fecha sua trama principal, mas promete muito mais fogo e dor nos próximos. Tudo que eu podia querer.