Biia Rozante | @atitudeliteraria 04/11/2018Uma leitura deliciosa.Não é de hoje que a autora Eloisa James nos conquista com suas “recontagens” dos contos de fadas. Desta vez, inspirada na história do Patinho Feio, ela brinca com nossas emoções, nos leva por reviravoltas e um romance que vai muito além do relacionamento entre os protagonistas, empoderando uma jovem que até então não tinha voz ou presença e transformando a vida de um rapaz por completo.
Theo e sua mãe foram acolhidas pela família de James, após o falecimento de seu pai. O Duque de Ashbrook era um grande amigo do mesmo e abriu as portas de sua casa para recebê-las. A convivência tornou Theo e James amigos próximos, com um vínculo especial e uma intimidade característica de quem se conhece muito bem, a relação entre ambos é linda, porém está ameaçada, por um equívoco do Duque, ou melhor, por uma sucessão de decisões erradas, que o levaram a cometer um delito gravíssimo, ameaçando o colocar atrás das grades e ser humilhado por toda a sociedade. Tudo bem, mas por que a amizade entre James e Theo está ameaçada? Porque o crime cometido foi contra a jovem e seu dote. E a solução para tal, pode não ser bem vista por todas as partes envolvidas.
“— Não sou infeliz — declarou Theo, acrescentando com honestidade — na maior parte do tempo. Além do mais, felicidade não é algo que se possa controlar.”
A DUQUESA FEIA é divido em duas partes. Na primeira somos apresentados aos personagens principais: Theo com sua inteligência afiada, gentil e diria até que inocente, uma jovem considerada de beleza “simplória”, sem grandes atrativos, mas ainda assim um ser especial. Já James é dono de uma presença imponente, de beleza exuberante e visto como um dos melhores partidos. Ambos jovens, imaturos, com sonhos e anseios, descobrindo o desconhecido com muita vontade, se entregando ao que jamais imaginaram viver e vendo o mundo ao redor de ambos desabar sem nenhum aviso prévio, os levando do céu ao inferno em um piscar de olhos. E a segunda parte que é de fato onde a história se desenrola, nos deparando com nossos protagonistas se transformando, desbravando mundos, se descobrindo realmente e ainda amargando a reviravolta que suas vidas sofreram. Theo já não deixa suas inseguranças tomarem conta, desabrochou em forma de uma mulher forte, independente, dona de suas escolhas, de voz ativa, surpreendendo não apenas nós leitores por ver sua figura feminina tão bem posicionada e respeita para aquela época, como a todos que a cercam – homens e mulheres. E James que em nada lembra o jovem aristocrata apaixonado, que escolheu viver se desafiando, desafiando a vida, completamente contrário a posição que um dia ocupou, muito mais intenso, maduro e determinado. Pronto para enfrentar a tudo e a todos em nome do seu grande amor, mesmo que um abismo tenha se passado desde a última vez em que se viram.
“Depois de todos aqueles anos, seu marido estava diante dela de novo. Mas tudo havia mudado.”
Que história deliciosa de acompanhar, mais que uma tivemos foi três, a do casal e a individual de cada protagonista, ainda que cada uma caminhe em paralelo, quando se cruzam é uma explosão de emoções. O que mais amei foi a intensidade do amor, o sentimento em nenhum momento é questionado ou leviano, ele sempre existiu, esteve presente, mas foi vítima de maus entendidos e decisões impulsivas, que acabaram por coloca-lo como segundo plano. Outro ponto que preciso mencionar foi a força de Theo, seu poder de se reinventar, de encarar a sociedade de peito aberto, mantendo sua sinceridade e humor. Muitos poderiam ter sido os caminhos escolhidos pela autora para essa personagem, mas ela optou por ousar e foi lindo.
“Mais do que isso, ele queria estar com ela, ser o primeiro a compartilhar suas ideias brilhantes e opiniões ferozes. Em todas as suas viagens, ele nunca conheceu ninguém, nem mesmo Griffin, com quem gostasse tanto de conversar quanto apreciava conversar com Daisy.”
Pra mim o enredo entregou um ensinamento que já beira o clichê aqui de tanto que falo, mas que é muito importante e que insistimos em ignorar. A importância do DIÁLOGO. Mas realmente tomar a decisão de sentar, de escutar, de tentar conhecer o outro lado da história, exige maturidade e isso só vem com o tempo, e vida bem evidente na trama. E realmente quando o fato acontece acabamos deixando a ira, o julgamento, a ferida tomar conta, e acabamos nos cegando para todas as outras opções, e o tempo, o preço a se pagar por essas atitudes impulsivas, pode ser caro demais.
Se você ama romances históricos, recontagens, vai se apaixonar pelo livro A DUQUESA FEIA, com um romance intenso e cheio de reviravoltas a trama tem todos os elementos capazes de te deixar ansiando por mais e mais, tornando o virar das páginas algo imperceptível.
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