Resenhas - Fique Comigo

Vania.Cristina 04/02/2024

Quando o amor não é suficiente
Segunda escritora nigeriana que leio e são muitos os paralelos. Esse livro me mostrou mais ainda da cultura da Nigéria do que vivenciei com o livro Americanah, de Chimamanda. Ambos têm o mesmo pano de fundo de um país minado por golpes de Estado, por uma ditadura militar, e por muito descontentamento. Os dois livros não falam de miséria ou pobreza, mas de relações humanas. De amor. De encontros e desencontros.

Aqui é contada a história de Yejide. No começo do livro ela é uma mulher madura que vive na cidade de Jos, onde abriu um salão de cabeleleiros e uma joalheria, e encontrou o sucesso profissional e financeiro.

Yejide está de mudança, voltando para a cidade de Ifé, e transferindo para lá os seus negócios. Já tinha decidido voltar mas o empurrão final foi o convite que recebeu de Akin, seu marido que não vê a 15 anos. O convite veio pelo correio, e trata-se do funeral do pai dele.

Está relutante em voltar, não porque está deixando em Jos amigos ou amores, todos os que teve nunca a conheceram de verdade, não conheceram sua real história. Ela teme é o reencontro com Akin, o seu grande amor, desde os tempos que se conheceram na universidade. Teme ter que encarar as pontas soltas que deixou para trás, e fazer as perguntas que nunca foram feitas.

Nesse primeiro capítulo do livro, Yejide lembra da filha que não sobreviveu e de seus outros filhos. Não sabemos o que aconteceu com as crianças e qual o motivo do casal ter se separado.

A partir daí temos as lembranças do passado de Yejide, alguns capítulos narrados por ela, outros por Akin. Percebemos como são apaixonados um pelo outro, então... porque não deu certo? Aos poucos vamos entendendo todas as nuances desse relacionamento.

Yejide tem mágoas da família do marido, especialmente da sogra. No começo confiou nela, se sentiu acolhida e pensou ter encontrado uma segunda mãe. Até descobrir que, para a sogra, não passava de um meio de continuar a linhagem da família. Mas Yejide não engravida. Faz exames, rezas, simpatias, tudo que a mãe de Akin decide que ela deve fazer. Até jejum de uma semana que a faz parar no hospital. Mas nada resolve.

Já no segundo capítulo do livro vemos que Yejide é obrigada a aceitar que Akin tenha uma segunda esposa. Na cultura da Nigéria a poligamia é permitida, mas desde a época do namoro, Yejide deixou claro que não queria isso para ela. Mas se não é capaz de ser mãe, se está defeituosa... Sua auto estima é minada.

Yejide nunca conheceu a mãe que morreu no parto. Foi criada por suas quatro madrastas que a negligenciaram. Na infância, não conheceu o amor e não recebeu cuidados.

A narrativa começa na superfície e vai cada vez mais fundo. Descobrimos aos poucos que existem segredos, e acreditem, eles são surpreendentes.

É um livro triste que fala de como a mulher pode ser vítima da hipocrisia social, de como o amor não é incondicional e pode não ser suficiente. É fundamental o respeito.

Quando não há diálogo se erguem muralhas. Mesmo juntos, se há muralhas, há solidão.

gabszucolo 03/02/2024

O Amor é uma prova
Fique Comigo retrata, de forma super realista, a vida de uma mulher que não consegue ter filhos e se sente pressionada diante da cultura da poligamia na Nigéria da década de 1980. Aflita por ter que dividir o marido com outra mulher e perder o posto de única esposa, Yejide faz de tudo para engravidar, tratamentos, visita montanhas e se submete a feitiços que prometem uma gravidez milagrosa, enfrentando não só a pressão familiar por parte do marido, como uma inesperada gravidez psicológica. Porém, após finalmente conseguir ter seu primeiro filho, Yejide precisa passar por outro desafio: Lutar para seus filhos sobreviverem à luta contra a anemia falciforme.

O livro trata de assuntos delicadíssimos de uma forma muito verdadeira, junto da protagonista passamos por perdas, luto, traição, mentiras, choque cultural, desafetos, tudo isso levando como plano de fundo uma Nigéria que passava por duros golpes políticos e guerras civis, o que intensifica ainda mais nossa imersão na história que, para mim, foi um verdadeiro achado.

A trajetória da Yejide é intensa, sofrida, e ao mesmo tempo que temos consciência de que ela nem sempre toma as melhores decisões, sempre surge algum acontecimento que nos faz parar para refletir e pensar ?Será que eu não acabaria fazendo a mesma coisa se estivesse no lugar dela??.

A escrita da Ayòbámi é demais, todos os pontos são extremamente amarradinhos, não fica nenhuma ponta solta que a gente termine o livro e fique em dúvida do desfecho. Amei conhecer um pouco mais sobre a Nigéria, as crenças, as histórias e até um pouco sobre a língua... Vai demorar para eu me esquecer desse livro!

???????

Yejide, oro ifé bi adanwo ni.
Yejide, o amor é uma prova.

Kaire 01/02/2024

O tanto que perdemos para agradar outrem...
Em "Fique Comigo", Ayobami Adebayo mostra como o ser humano é capaz de tomar as decisões mais absurdas possíveis para evitar família enchendo o saco e coloca tudo na conta do amor, sendo só medo de aceitar a realidade e ficar completamente só - às vezes, somos bem patéticos.

"Hoje digo a mim mesma que foi por isso que me esforcei para aceitar cada nova humilhação: para ter alguém que procurasse por mim caso eu desaparecesse"

O jeito que a Yejide e Akin abrem mão da felicidade para fazer com que sejam eternos através dos filhos, como diz a cultura em que estão inseridos, é agoniante. É muita pressão para construir um legado, e a Yejide aceita que tudo dela seja levado até sobrar apenas o espirito máximo de sobrevivência. A cada perda dela, eu ia me afundando junto, e ver que quem estava sempre ao seu lado, e parecia ser tudo que ela realmente quis, foi o responsável por boa parte delas, me destruiu também.

Por boa parte da história eu amei o Akin e, mesmo sabendo dos segredos iniciais, mantive minha esperança de que daria a volta por cima porque parecia genuína os esforços para a felicidade da esposa. As suspeitas existiam, mas a certeza foi só ladeira abaixo!

Ayobami é a responsável por meu desalento e não tem final feliz que apague a jornada bagaceira que ela colocou aqui - se a pessoa consegue fazer isso num livro de estreia, não precisa fazer mais nada na vida (mas faça, Ayobami). É mais uma história que vai me acompanhar por um bom tempo.

Aline.Fazio 31/01/2024

Maravilhosamente marcante
Fique Comigo é um daqueles raros livros que carregamos para a vida como se tivessemos vivido todos os sentimentos e experiências dos personagens na vida real. Após todo essa vivência (sofrida) terminamos a leitura mais maduros, compreensivos, resilientes e aprendendo com erros que não foram nossos.
O livro aborda sobretudo o amor em diferentes formas, materno, fraterno, matrimonial, próprio e seus desafios e falta!
Ao mesmo tempo que é uma jornada sentimental enriquecedora é também um novo horizonte cultural já que se passa na Nígeria trazendo muito de sua cultura e também ambiente politico, além de ser uma narrativa envolvente, com reviravoltas que prendem do começo ao fim!

thelondonriver 30/01/2024

Já fazia muito tempo que eu buscava livros fora do foco Europa/Estados Unidos, e sobre esse especificamente eu tinha um expectativa bem alta e não me decepcionei, na verdade até me surpreendeu positivamente.
Antes de tudo, o que eu mais gostei foi o fato de que além de me entreter com a história da personagem, com isso livro eu aprendi muitas coisas. Ele fala bastante sobre a cultura nigeriana, além de estar sempre dando o contexto da política à época, várias coisas que eu não fazia ideia sobre esse país.
Sobre a história em si, achei muito triste mas também muito bonita, principalmente o final, que foi muito emocionante. Na verdade, vários momentos do livro foram emocionantes, e a escrita foi muito boa ao mostrar pontos de vista e momentos diferentes temporalmente dos personagens.
Enfim, apesar de tratar de temas muito pesados, foi uma leitura muito tranquila e fluida, que com certeza vou indicar pra todo mundo

Giuliana 30/01/2024

Fique comigo
A história me prendeu do início ao fim, um casal nigeriano que tentam ter filhos e depois de alguns anos de casamento a família do marido toma uma decisão (como era de costume) e várias coisas acontecem com esse casal.

A pressão da sociedade, da família, pode acabar com o relacionamento de duas pessoas. O amor existe, mas muitas vezes é esmagado por tanta exigência. Por vários momentos pensei o que faria se fosse comigo. 

O livro retrata a delicadeza das relações humanas, como lidar com a perda, como nossas decisões afetam o nosso futuro e de outras pessoas ao nosso redor. 

Me fez refletir muito se todos pudessem conversar com o parceiro de vida e expor o medo, o problema, o que gostaria de ter ou fazer, evitaria muito sofrimento. 

 

Mariane.PaciAncia 29/01/2024

Que livro!?
Amei do início ao fim!
O final é surpreendente! Vale muito a leitura!
?O amor é uma prova!?

@estantederomance 28/01/2024

Uau
Esse livro me surpreendeu demais, tô gostando de me aventurar nos gêneros e esse com certeza foi um bom começo, fiquei presa à história e amei que contou a visão tanto da protagonista, quanto do seu marido. assim, pude ver a forma como cada um lidou com seus atos e as consequências das situações, além disso, foi um livro doloroso e de muitas surpresas. a leitura é mais densa e o começo foi um pouco confuso, mas mesmo assim vale a leitura. confesso que não me conectei tanto aos personagens a ponto de chorar e sofrer com eles, mas também foi o suficiente pra eu continuar pensando na história mesmo depois de dias e também de entender de certa forma a dor deles.

léo 26/01/2024

Quer desgraça? aqui tem o tempo todo
Uma boa história, fui sem expectativa e de uma certa forma não me decepcionou, uma história densa, triste, angustiante e revoltante. Várias vezes me peguei com raiva de todos os personagens, primeira vez em um livro que achei todos eles detestáveis em quase tudo. Um ponto negativo pra mim é que achei que a história ficou meio inacabada, parece que a autora não conseguiu fechar como queria, achei que faltou o tempero. Sabe aquele bom PF mais sem a coca gelada do lado? é isso. Vale a leitura!!!

bota: 3,8/5

@ruthlunang 26/01/2024

Fique comigo
Esse livro é muito triste.

Imagina viver numa sociedade onde ser mulher é sinônimo (apenas) de maternidade, e você não conseguir engravidar? acho que a gente não tem nem como saber de Yejide realmente tinha essa vontade toda de ser mãe ou se isso era um desejo desperado de ser validada como uma mulher de verdade. Pra piorar tudo, casou com um homem que mentiu pra ela desde o começo, se aproveitando da ingenuidade dela. O que Akin fez com Yejide foi horrível, e mesmo assim eu não consegui odiar o personagem completamente.

Essa é a beleza desse livro, a humanidade que autora conseguiu trazer a todos os personagens, e ela fez isso de uma forma primorosa. É difícil demais quebrar as barreiras da própria cultura, mesmo quando isso não faz bem a ninguém.

Amei demais esse livro!

Larissa.Ohana 25/01/2024

Em todos os sentidos fique comigo!
Akin e Yejide são casados há quatro anos e desejam muito ter filhos, mas em todo esse tempo não houve sucesso, então a família de Akin decide que ele precisa casar com uma segunda esposa para ter herdeiros.
É um livro repleto de desespero e angústia, mentiras e segredos de família que te deixa pensando "e se fosse comigo? O que eu faria?" Te prende do começo ao fim, escrita fluída a acertiva sem muita enrolação.

Tai 24/01/2024

A mulher nigeriana
Sim, é um livro sobre relações, vulnerabilidades, maternidade e depressão. No entanto, o que mais chamou minha atenção ao longo da história foi o papel da mulher na sociedade nigeriana. Desde a introdução dos personagens, nos deparamos com homens que têm várias esposas, e claro, nenhuma esposa com mais de um marido, mas sabemos que muitas culturas seguiram/seguem esse comportamento, então não me causou tanta estranheza. Mas aqui vão alguns pontos que me deixaram perplexa: logo no início, Yejide menciona que precisa de autorização para participar de conversas e não aprecia conversas muito longas devido à dor nos joelhos, já que ela passa durante toda a conversa ajoelhada no chão de sua própria casa. (Oi?); quando ela concorda que Akin, seu marido, tenha outra esposa, ela pede para que ele prometa que não terá relações com ela, ele aceita, mas quebra a promessa. E quando ocorre o contrário, e ela se relaciona com outro sem o consentimento dele, ele a humilha; ela, e todo o resto da sociedade, passa o tempo todo se culpando por não conseguir dar um filho para Akin e durante todo esse tempo, ele era o culpado e o motivo estava escancarado na frente dela, ela só não conseguiu reconhecer porque vivia em uma uma sociedade que preserva e conserva as mulheres e as afasta de assuntos considerados pecaminosos, como o sexo. O próprio Akin usa essa isso, sua ingenuidade e inocência dela fazendo-a carregar a culpa da infertilidade por anos. A narrativa é profundamente sensível e dolorosa, com personagens muito bem construídos, extremamente humanos e palpáveis. Cada perda de um filho é descrita com riqueza de detalhes, transmitindo intensamente a dor de Yejide, e o desfecho também me satisfez. No entanto, não conseguiu provocar em mim tanta emoção ou apego aos personagens que inicialmente esperava sentir.

Lais 22/01/2024

Maravilhoso!
Leitura rápida, fluida e cativante! Me lembrou muito os livros da Carla Madeira (que sou apaixonada!)
História de sofrimento e alguns plots. Relata um pouco de outra cultura e crenças. Vontade de dar um abraço na Yedije! Recomendo muito a leitura!

arianeCastro 22/01/2024

Eu amei tudo, devorei em algumas horas, fiquei totalmente presa no livro e foi dificil até mesmo dar pausas, perfeito!

Clara.gianna 21/01/2024

Surpreendente
Esse livro me tirou totalmente da zona de conforto. É o primeiro romance ambientado na Nigéria que eu leio. E o primeiro livro que eu leio da autora também kkk

A abordagem crua que a autora tem com a maternidade, o casamento e a depressão é algo fora do comum.
E emoções e mais emoções em cima da realidade e das relações humanas. Simplesmente incrível!

Além de mostrar como a cultura nigeriana valoriza a gravidez e a reprodução, esse livro é uma baita aula sobre a história do país. A história da Nigéria não é muito diferente da do Brasil (fraqueza da democracia e os frequentes golpes). Não é um livro exclusivo sobre maternidade ou o papel da mulher no contexto social inserido pela autora. Vai muito além disso. Acho que retrata bem mais a delicadeza das relações humanas. As perdas, como lidar com elas e como elas afetam nosso futuro, nossas decisões...Gostei muito e recomendo demais!