@blogleiturasdiarias 03/03/2019Resenha | O Fogo Entre a NévoaO Fogo Entre a Névoa é uma história que tem tudo para melhorar. É meu primeiro contato com a autora, e saio com a sensação que temos uma duologia com grande potencial, o que me deixa com altas expectativas.
Hattori Mariko, 17 anos, aceitou seu destino: torna-se esposa do filho do Imperador em um casamento político vantajoso para sua família. A caminho de Inako — a cidade Imperial — para que os arranjos finais sejam feitos, ela acaba numa emboscada na Floresta Jukai, onde o objetivo desse ataque é a sua morte. Porém, sendo a única sobrevivente, ela decide ir atrás de quem a quer morta. E para que não seja reconhecida, ou desconfiem que ainda está viva, decide se vestir de camponês e encontrar informações necessárias para descobrir mais sobre o Clã Negro, quem supostamente é o responsável pelo ataque.
Sua aproximação com o Clã Negro lhe fará enxergar maiormente o mundo, colocando em incerteza tudo o que sabe. Nesse meio ela também aprenderá o significado de amor e amizade, podendo por em risco todo o seu plano inicial. O que é o Clã Negro? Porque eles querem matar Hattori? Que verdade põe em indecisão os seus aprendizados?
Inicialmente o que me chamou atenção para realizar a leitura, foi o fato de terem comparado a história com Mulan e trazer como fundo o Japão Feudal. Como sou fã da cultura japonesa e de Mulan — além de que sempre vi elogios a outras obras da Renée Ahdieh — fui atiçada em conhecer o enredo. E felizmente, não me decepcionei. A ambientação descrita é uma das melhores que li em fantasia. Por conhecer bastante os elementos orientais foi fácil ser introduzida e acompanhar o desenvolvimento, e o glossário no final é de grande auxílio para entender os significados de termos japoneses — é um dos maiores acertos pois gosto de encontrar palavras do idioma original no texto.
"Como água? Mariko nunca tivera a fluidez da água, sua graça natural. Sua mãe dizia que ela tinha muita terra nela, era racional demais. Teimosa demais. Quase uma rocha, meio enterrada no solo. Se Mariko era algo que não terra, ela era vento — às vezes intempestiva, sempre invisível." pág. 74
E se acha que a parte fantástica se limita a questão de ser histórico, ficamos surpreendidos ao encontrar componentes de magia propriamente dita. Existe um mistério com relação a como consegui-los e desenvolvê-los, de onde é originado entre outros questionamentos pertinentes — espero que nos sucessores isso apareça com força, já que são dúvidas relevantes. Uma informação de adição, é que até nesse item a inspiração vem da mitologia japonesa. É um prato cheio cultural, o qual me apaixonei e amei!
Sobre os personagens principais, além da Hattori teremos destaques para dois outros protagonistas masculinos. Nossa personagem principal é uma menina que agrada por tentar ser diferente do que se espera da mulher na época. Entre erros e acertos nas atitudes, sua personalidade forte e inteligente é o diferencial. Talvez não agrade todos por causa das suas indecisões e instabilidade, e no meu caso furos na construção que a frente falarei melhor. Os dois protagonistas masculinos são melhores elaborados, ganhando notoriedade, que não irei comentar pois pode virar spoilers. Falo com convicção que suas trajetórias de desenvolvimento são mais interessantes que a "face principal" — sendo um dos maiores motivos de querer ler a continuação.
E por mais que a obra seja cheia de acertos, temos ressalvas. A primeira, e que me incomodou ao ponto de ficar de pé atrás com Hattori, é a forma como se trabalha a construção das situações. Explicando melhor: a transição entre a tentativa de assassinato até Hattori conhecer o Clã Negro é vaga. Sua motivação não é crível e não possui argumentos que nos convença que o correto é ir atrás deles — pareceu birra de criança que quer aparecer para os pais. A minha sensação é que ela decidiu propositalmente entrar numa cilada, que poderia ser evitada, ficando sem sentido do porquê dessa insistência.
O segundo, é o final super clichê — entendam que ser clichê não é sinônimo de ruim. Sabe aquele fim que conseguimos enxergar já na metade páginas!? Pois é, é o caminho optado pela autora. Tenho na minha opinião a sensação que poderia ser melhor destrinchado. Os plot twists são cenas pontuais, em que algumas podem surpreender e outras não. Se você se esforçar um pouco e adentrar realmente na leitura, conseguirá antecipar boa parte deles.
"— Seja veloz como o vento. Silencioso como a floresta. Voraz como o fogo. Inabalável como a montanha. E você poderá fazer qualquer coisa...Até mesmo tirar esse galho de mim." pág. 136
O romance é algo que quero destacar pois é um item que pode se tornar problema dentro da fantasia. Por enquanto na medida certa. Não sobrepõe e nem ultrapassa o assunto principal, apesar de que posteriormente poderá ganhar força e ser um dos motivos de maiores movimentações da narrativa — e isso nem sempre termina bem.
De uma forma geral, para um primeiro volume de série está bom. Tem melhorias a se fazer ao mesmo tempo que contém qualidades agradáveis. Dá aquele gosto inicial para algo que pode eclodir no sucessor. Recomendo, principalmente para quem curte o gênero.
Sobre a parte física, a capa escolhida é condizente com o conteúdo, ainda que eu tenha preferência pela original — acho bonita. A diagramação é a padrão da editora, espaçada e simples. Existe um glossário nas páginas finais que auxilia no entendimento das informações inseridas — confesso que prefiro glossários logo nas primeiras páginas porque sou um pouco lerda, e só fui descobrir a existência dele lá pela metade das folhas. A narrativa é feita em terceira pessoa pelo ponto de vista da nossa personagem principal.
Esperemos agora o próximo que pelas informações que pesquisei não tem previsão no Brasil — já foi lançado lá fora. Espero que tenham gostado!
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