Luiza 28/08/2021
A verdade sobre as cangaceiras.
Primeiro contato mais aprofundado que travei com as histórias do cangaço. São relatos cruéis, de uma época dificil em uma região tão sofrida!
Descobri que há centenas de publicações sobre o tema, mas o diferencial desse livro é o foco nas mulheres que participaram do cangaço.
Adriana Negreiros é excelente escritora. Ela é casada com outro biógrafo de peso: o Lira Neto, que escreveu as biografias de Padre Cícero e de Getúlio Vargas! Êta casal retado, sô! ?
Recomendo muitíssimo a leitura deste livro, as histórias são bem violentas... mas a leitura é rápida, pois é fascinante: um retrato muito verdadeiro do nosso Brasil.
Adorei o livro, dou cinco estrelas!
Abaixo, reproduzo as palavras finais da própria autora sobre a questão das mulheres no Cangaço e sua pesquisa que não foi tão simples de ser realizada...!
? Pesquisar sobre o cangaço é se deparar com violências absurdas, que mais parecem saídas de filmes de terror. Em dois anos de investigações sobre o tema, entretanto, nenhuma dessas terríveis cenas me chocou tanto quanto a mais incômoda das constatações: a de que os relatos das cangaceiras sobreviventes a Angico são geralmente desacreditados em relação à extrema brutalidade da qual foram vítimas.
Incontáveis vezes, li e ouvi autores colocarem em dúvida as narrativas dessas mulheres sobre o próprio ingresso no cangaço. Embora não houvesse completado treze anos quando entrou no bando, Dadá foi muitas vezes taxada de ?exagerada? ao dar detalhes sobre o rapto e o estupro perpetrados por Corisco. Sobre Sila, raptada por Zé Sereno aos onze, há interpretações segundo as quais ela o teria acompanhado ?porque quis?.
Embora tenha feito uso constante do ceticismo indissociável da prática jornalística, em nenhum momento me permiti duvidar das versões apresentadas por Dadá, Sila, Inacinha, Otília e tantas outras que foram obrigadas a largar suas famílias para se tornarem cangaceiras. Não compreendo como se possa conceber que crianças ainda às voltas com bonecas escolhessem viver ao relento, subjugadas por homens extremamente violentos, submetidas a fome, sede e risco constante de morte.
Colocar em suspeição a versão das cangaceiras faz parte do mesmo padrão e da mesma lógica que insiste em desqualificar os relatos das mulheres quando violentadas. Uma distorção atávica, que transforma vítimas em culpadas e procura encontrar no comportamento feminino as alegadas razões para justificar a opressão.
Depreciadas em seus discursos dentro do fenômeno do cangaço, as bandoleiras também tiveram seu papel como personagens históricas relegado a plano inferior. Esse aspecto tornou particularmente complicado o trabalho de coleta de informações a respeito de suas trajetórias.