spoiler visualizarJotape 19/01/2024
Memórias de um morto-autor
"Dedicatória:
Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas".
Esse livro maduro e de romance, um dos últimos do Machado de Assis, expõe uma qualidade pura do que é ser inútil. Sim, inútil. Bras Cubas é um homem burguês do século 19, que teve sua vida cercada por inutilidade e que, infelizmente, apenas fez o papel da caridade ao fim de sua vida, na qual ele mesmo não expõe as memórias.
No final do romance, Brás Cubas resume sua vida como uma sucessão de fracassos, com exceção de um:
"Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto."
Ao romance, que instiga a curiosidade de como tudo vai ocorrer e sim, o relacionamento proibido deles seriam descobertos ou não, faz com o que o leitor mastigue ligeiramente os capítulos (o que é o ponto fraco desse livro; capítulos de poucas linhas, apressado. Claro que isso é a própria dinâmica do Machado, mais o morto-autor que possui ideias rápidas).
Há de destacar também o flerte de intimidade com o autor. Usando referências atuais, é como se quebrasse a 4° parede, descrevendo o quão absurdo são algumas situações do morto-autor.
Sendo assim, diante todos os seus fracassos, inconstâncias e romances inacabados, o próprio expõe que...
"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria".