Helena 10/12/2021
Machado é realmente um bruxo
Falando sobre o livro em si, temos um narrador bastante inteligente, engraçado e definitivamente pouco heróico. Brás Cubas é um típico participante da elite do século XIX, faz várias reflexões consigo mesmo, aponta seus próprios erros, é bastante carismático e simpático com o leitor, ao qual dialoga durante toda a narrativa, mas está muito longe de ser um mocinho. Machado é incrível ao criar uma narrativa tão deliciosa e completa, com personagens de personalides e caráter únicos e profundos, mas que somos incapazes de os conhecer verdadeiramente, sem a lente que o narrador personagem coloca sobre elas. Esse vale que existe entre o realismo e o romantismo, com um narrador que faz parte e opina na história, só mostra a capacidade do autor de conduzir histórias de todos os tipos, com várias referências a outros autores, outras línguas e culturas, Memórias póstumas é uma imersão em um Brasil de diferentes hábitos, mas com características que ainda perduram até hoje, tornando o livro extremamente atual.
Ao dialogar com o leitor, Brás Cubas adivinha o que estamos sentindo e pensando ao ler seu livro, ele julga-o junto a nós. Machado de Assis criou capítulos curtos, que as vezes não têm nada além de reticências ou textos que mais são imagens do que textos, indo a frente do seu tempo e prevendo movimentos poéticos como a poesia visual.
Quando lemos Memórias Póstumas de Brás Cubas nós desbravamos a vida confortável do defunto autor, com caprichos elegantes, amores escondidos, amizades afetuosas, relações familiares voláteis e entre outros acasos da vida. Sempre com um humor oportuno e uma escrita sublime. Pode ser difícil acompanhar no início, mas pode ter certeza que vale a pena, cada linha vale a pena.