Wags 03/04/2021
Um final apropriado para um dos maiores
"No calor daqueles lábios... eu experimentei a morte"! Com as palavras duras e ainda assim apaixonadas de Erina Peddleton Joestar, vemos se semicerrar as primeiras cortinas da colossal saga da família Joestar, desajustados com cerca de 1,95m de altura que tendem a viver pouco e que enfrentam um destino de sangue malfadado começado pela inserção de uma misteriosa máscara de pedra asteca e um certo de jovem loiro e bastante perigoso chamado Dio Brando. Hoje em dia, com a extensão que JoJo tomou, é meio difícil pensar que tudo começou por causa da queda de uma carroça em meio a um barranco e depois por um chute em um dálmata, mas aparentemente foi e ler Phantom Blood mostra o quão trickster a nossa querida fada imortal Araki-sensei é.
A história de Johnatan é consideravelmente razoável dadas as bizarrices que seus descendentes enfrentariam mais tarde, mas não menos aterrorizantes e perigosas, tanto é que ele não é capaz de resistir à morte, e termina esta parte padecendo ao lado de seu maior inimigo, que como nos velhos clichês shonens, também é aquele que melhor entende seu estado de espírito. Assim, tal qual fogo e gelo, substancialmente diferentes, mas complementares, Jojo e Dio estão fadados a serem rivais, mas também melhores amigos buscando um meio-termo, que quando não pode ser alcançado, só deve terminar na tragédia.
E exatamente por isso que Araki desenvolve uma história épica, que dentro de suas troças e repetições, lembremos que este mangá foi pensado como uma paródia de Hokuto no Ken, consegue alcançar diferenciais enormes de conciliação do leitor com os personagens que apresenta, deixando até mesmo uma ânsia por mais. Afinal, o final abrupto do primeiro Jojo deixa aberta uma série de lacunas, como por exemplo que tipo de avô seria Johnatan? Quantos filhos além de George II ele teria com Erina? Será que ele ensinaria suas boas maneiras ao seu travesso neto Joseph? E é claro, até onde iria a extensão de seu poder, caso ele continuasse sendo desenvolvido ao lado de Tonpetty e das suas próprias experiências?
Infelizmente, Araki nos tira essas respostas, mas não é incoerente em sua escolha, por que afinal que tipo de autor trairia seus conceitos, como o do destino de sangue apenas para agradar a um público ascendente? Só que ao mesmo tempo, ele também nos dá novas possibilidades, de olhar para o futuro e deixar uma réstia de esperança no corpo de Erina, ou seja, Jojo não morreu, ele continuou existindo na memória da jovem, que ao ser resgatada realiza o sonho do amor de sua vida: "Você deve viver, Erina!". E é o que ela faz, confiando a história a outro desajustado, bem menos cavalheiresco que nosso bom Johnatan, mas igualmente poderoso.
Ler o mangá apenas reconfirmou o porquê de eu amar tanto essa história, pois mesmo depois de mais de 30 anos, Jojo ainda conserva um ânsia por trabalhar com aquilo que é um dos temas mais essenciais da literatura, independentemente se é na forma do Hamon ou dos Stands, e isto é a perseverança do ser humano, e só por isso podemos colocar Araki numa singela posição dentre os maiores criadores que já existiram.