Clara T 04/06/2022O Prazer da LeituraDora descarrega toda a sua ansiedade e desconforto na leitura.
Sua vida está desabando. Separada do marido e sem emprego, aos poucos Dora está gastando todas as suas reservas numa vida sem propósito. Seu único prazer é um banho quente de banheira, muitos livros até a água esfriar e uma garrafa de vinho.
É curioso como para a personagem a leitura é um vício em parte negativo. Não há como negar que ela consegue conversar de diferentes assuntos, por conta de sua experiência literária. E Dora também é excelente jornalista por conta de suas leituras. O que lhe falta é motivação para viver.
E durante um ano acompanhamos a vida de Dora tentando se reerguer para vida, com apoio de sua irmã, de suas amigas, alguns "desconhecidos" ou recém-conhecidos e o ex-marido.
É claro que não é fácil se livrar de uma depressão sem ajuda profissional e medicamentos, mas é importante entender que tudo tem uma origem. E de uma forma ou de outra, quando começa a narração de Dora, falando de sua infância desestruturada, do abandono do pai, da bebedeira da mãe e da fuga pelos livros, fica evidente onde está a fonte do desequilíbrio de Dora.
Só que não existe um caminho fácil e simples que funcione, ela precisa encontrar algo a que se apegar, se conhecer melhor e descobrir o que a faz feliz.
Não é nada parecido com o que eu imaginava. De certa forma é até oposto ao que eu esperava. Ao mesmo tempo que gostei das citações e referências a outras obras, percebi contextos interessantes que só quem leu o que está sendo citado consegue entender. Não são só referências a obras e personagens, também referencia autores e fatos históricos de suas vidas.
Mas também me fez pensar muito em como usamos a leitura como uma forma de fuga da própria vida. E como o vício da leitura é prejudicial a si mesmo.
Pode ser decepcionante para alguns o tipo de crítica que coloco, mas não dá pra ignorar e fingir que está tudo certo.