malucpinheiro 01/06/2023
Assombrações. Aquilo que nos assombra, dá medo, aterroriza. A nossa vulnerabilidade. Um encontro entre vulnerabilidades, o único encontro possível. Mesmo que aparentemente improvável. Entre a fragilidade da infância e o abatimento da velhice. Entre as possibilidades infinitas e o caminho já percorrido (a história irreversivelmente já escrita). Presos em suas solidões, aparentemente tão distantes, um olha para o outro através do vidro, como que diante de um espelho. Monstros aparecem.
Uma sacada diante do vazio. Aterrorizava gerações. Um balde de esperança para recolher esse vazio: através da amizade, da conexão, dos afetos, do dar de si mesmo.
O livro me remeteu a quanto nos empenhamos em fugir de determinadas coisas e acabamos caindo numa armadilha, criada por nós mesmos, que nos põe dentro de uma prisão. Porta de vidro para proteger do frio e do barulho, sem fechadura do lado de fora, celular na estante mais alta, trava de segurança na porta da frente são símbolos do que tememos e queremos evitar. Ficamos presos, até pela vergonha de admitir que precisamos de ajuda, que caímos na nossa própria falibilidade.
Se por um lado, não escapamos do nosso Desejo, tal qual uma flecha direcionada ao alvo. Fazemos voltas e curvas, porque estamos, de certo modo, inexoravelmente presos também aos destinos, padrões, crenças, legados, contextos antigos, ancestrais e familiares que lutamos incessantemente para negar, nos afastar, nos livrar e, em fuga, andamos em círculos que nos fazem esbarrar com esses temidos fantasmas.
Será que essa rejeição dessa parte que também é nossa seria a solução? O distanciamento da distração não seria afinal maldade? Será que o olhar-se diante do espelho, que me mostra algo tão diferente do que eu via, de mim e do outro, não seria a chance de uma saída mais saudável, um encontro com a própria criatividade?