Ivandro Menezes 21/04/2024
O deserto dos tártaros, clássico do italiano Dino Buzzati, é um romance delicado e engenhoso.
É delicado por sua temática. Trata da ansiedade da espera, dessa expectativa de uma mudança imenente na paisagem vasta e árida. E essa também é a paisagem interior, essa vastidão desértica de quem deseja viver por um propósito maior e acaba por viver da expectativa, encastelado atrás dos muros de uma fortaleza.
O engenho de Buzatti é traduzir na paisagem, no forte, na fronteira inóspita as tramas, os nós, os desejos realizados e frustrados de cada um de nós. Giovani Drogo, que vê a juventude se esvair sem perceber a passagem dos anos, vivendo na expectativa de algo nobre, de um destino glorioso.
Sem que se dê conta, o leitor também vai página a página experimentando o marasmo, a expectativa, a angústia do protagonista, e sentindo o peso dos anos e da inércia, da erosão da esperança e do desencantamento diante da nobreza gloriosa de uma existência.
Viver encastelado pode custar caro. É vievr sem o contato, sem a beleza da decepção, sem a imensidão do toque, sem a partilha tão necessária para fazer de nosso deserto jardim.
Um livro memorável, daqueles para se retornar, revisitar e novamente se emocionar. Recomendadíssimo.