clara 06/10/2022
?Eu sou muito mais do que o amor que te dei.? Ou pelo menos era isso o que eu pensava. Depois que você se foi, percebi que, na verdade, eu sou em grande parte o amor que te dei e não muito mais do que ele. Eu gostava de pensar que era mais do que isso, pois, para mim, quem era apenas isso era pouco e comum. Eu não queria admitir a minha semelhança e não entendia que ser o amor que te dei era ser muito. Eu percebi que não queria ser apenas o amor que te dei, porque ele me trouxe um sofrimento que eu considerava vulgar se posto ao lado de outras questões da existência humana. O problema é que, ao te dar todo aquele amor, eu tinha mais forças para enfrentar todas as impossibilidades que a vida trazia. Eu não queria admitir que o amor me era necessário, não apenas dá-lo a alguém que eu acreditava ser merecedor, mas também recebê-lo de alguém que me achava digno disso. Eu pensava que seria fraqueza minha confessar que precisava de amor, porque eu via como as pessoas sofrem por ele. Não conseguia ver um coração ferido por não ter sido amado como algo grave, pois considerava que a fome, os abusos e o poder do dinheiro eram coisas muito mais urgentes de serem acabadas. E provavelmente são. Porém, hoje entendo, também é o amor que sinto por você. Agora, eu aceito que sou em grande parte o amor que te dei e sei que isso não é algo ruim, é apenas uma característica minha carregar o peso de um sentimento tão puro.