Os contos

Os contos Lygia Fagundes Telles




Resenhas -


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Ana Magiero 16/01/2022

Essa coletânea da Lygia me surpreendeu de uma forma maravilhosa! Quase nunca tinha lido nada dela e foi muito bom conhecer a escrita dessa mulher de verdade! Doida para ler mais escritas dela. Que mulher fantástica, sério. Conheçam essa autora!!!!
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de Paula 23/12/2021

Uma escritora digna de Nobel
Tive a oportunidade de ler Antes do Baile Verde a alguns contos selecionados na coletânea Pomba enamorada ou uma história de amor e outros contos escolhidos no ano de 2020 e confesso que até ler Lygia Fagundes Telles contista, não gostava muito do gênero, foi ela quem me abriu os olhos para este formato e a primeira autora com quem me deleitei neste sentido. Conheço os contos do Machado, por exemplo, que são tão longos a ponto de serem divididos em capítulos, onde alguns são publicados em livros únicos, por isso, a minha referência não era muito boa, porque para mim, o Machado era um novelista, não contista – mas, isso é algo que eu penso. O que me surpreendeu nos contos de Lygia é que ela é uma daquelas autoras de estilo único, como sua contemporânea, Clarice. A paulistana tem sua forma de contar histórias curtas que são marcantes e ao mesmo tempo únicas, deixando o julgamento de caráter dos personagens ou o encerramento da história a cargo do leitor. Ela conta sobre situações cotidianas, mas também se aventura pelo terror e fábula, sem medo de mostrar a verdadeira face das pessoas. Este livro traz em um único volume os famosos Antes do Baile Verde, Seminário dos Ratos, A estrutura da Bolha de Sabão, A noite escura e mais eu, Invenção e Memória, Um coração ardente e Contos esparsos. Mesmo que não contenha todos os contos da autora, são os que ela revisou e deixou ser republicado. Ela é uma mulher admirável, no auge dos seus 98 anos, a sua escrita não perde o vigor, a audácia e a acidez, além da sua lucidez de decidir como quer que o público leia suas histórias, isto é magnífico. Foi indicada ao prêmio Nobel de Literatura em 2016, não ganhou, mas no meu coração e no de todos que tiveram contato com um dos livros dela, Lygia sempre será a campeã. Deixo registrado alguns pontos observados nos livros e meus contos prediletos.

Antes do baile verde

Este livro eu confesso que não reli na edição única, por isso, trago os comentários feitos na resenha específica do livro apartado, que eu ainda concordo.
Os contos da Lygia não são parecidos com nada que você leu até hoje, porque eles são peculiares, de estilo único. O que eu mais gostei era de ir sem expectativas e ser maravilhada com tantas histórias realistas, de mágoa, vingança, traição, arrependimento, relações completamente destruídas e outras no marasmo, com episódios sem um desfecho explícito, cabendo ao leitor preencher as entrelinhas, ou simplesmente ir para o próximo conto, cabe a cada um o que fazer com as informações do conto.
As pessoas retratadas são humanas, cheias de pecados, imperfeições, sem nenhum ato heroico, mas facilmente identificáveis. Todo conto começa com uma sensação de calmaria, como se a vida estivesse da maneira que os personagens sempre almejaram, ou simplesmente estivessem acomodados com o que estava acontecendo, se deparam com as emoções borbulhantes por baixo da pele, trazendo à tona pensamentos e sentimentos guardados de uma maneira tão específica que acaba levando ao final do conto de maneira brilhante. Não há marasmo na leitura desta obra, simplesmente não é possível parar de ler na metade do conto, você precisa saber mais, mesmo que não vá ter uma resposta definitiva desenhada pela autora. Isso é magnífico, escrevendo não parece ser possível, mas é.
Esta edição conta com 18 contos, gostaria de citar os meus favoritos: Verde lagarto amarelo, Apenas um saxofone, O jardim selvagem, Natal na barca, Venha ver o pôr do sol, Eu era mudo e só, O Menino, são simplesmente sensacionais. O conto do natal tem ligação completa com a religião, mostrando os pontos do cristianismo desde o nascimento até a ressurreição, completamente diferente de tudo o que já vi. O conto Venha ver o pôr do sol é de terror, o que o torna uma experiência única, principalmente porque não se espera isso e ele foi estrategicamente colocado após o conto A Ceia, cujas narrativas se parecem a princípio. Todos os contos são ótimos, mas estes mereciam destaque.

Seminário dos ratos

Claramente Lygia foi amadurecendo na escrita e nos temas com o passar do tempo, é impossível não reparar que a qualidade do segundo livro é superior ao primeiro. Mesmo tendo gostado muito dos próximos, eu adorei Seminário dos ratos, acho que tem uma qualidade incrível, trata de temas importantes para o sistema político e social, além de contos marcantes.
O primeiro conto que me marcou muito foi A Sauna, como o narrador é cruel e maldoso, fazendo de tudo para chegar onde quer, sem remorso, apenas lembra do inconveniente que foi ter uma mulher simples que o amou e deu tudo por ele, para que ele se tornasse quem ele queria e foi descartada como uma sujeira que cola no solado do sapato e você consegue soltar esfregando-o no chão. Foi muito cruel e pesado, visceral e realista.
Senhor Diretor fala sobre a hipocrisia, principalmente das ditas mulheres belas, recatadas e do lar, que vivem de pudores e religiosidade para cima de todo mundo, criticando a sexualidade e todas as formas de representação feminina na sociedade, mas, por dentro gostariam de ser a atriz do filme com cena de sexo. É um fluxo de pensamento sobre uma mulher que vê revistas em banca de jornal e decide denunciá-las ao diretor da revista para que ele resolva a situação decadente, mesmo que isso seja pelo desejo obscuro de controlar as formas das pessoas se relacionarem intimamente, como se isso fosse a fonte de prazer dessas pessoas. Um ótimo conto.
Menções honrosas aos contos: As formigas (que loucura! Outro terror delicioso da autora), Tigrela e WM (lemos e ficamos no suspense para entender as minucias, um sobre quem é a tal Tigrela e o outro se os crimes cometidos são por conta de um transtorno dissociativo de personalidade, por fantasma ou de fato o que seja), Mão no ombro, A consulta e, claro, Seminário dos ratos.
O conto que dá nome ao livro é espetacular! Trata-se de uma fábula sobre os acontecimentos da ditadura militar, onde os golpistas são os ratos, que eliminaram os gatos e agora se refugiaram no interior (centro do país – Planalto Central – Brasília), onde ocorre uma mobilização para impedi-los de chegarem mais longe, mas eles acabam com tudo. Tem toques muito semelhantes ao Revolução dos Bichos, além de ter muitas camadas de interpretação. Lembrando que esse livro foi escrito e publicado na ditadura, passando pelos sensores da época. Com toda a certeza, se eu não tinha sido conquistada pela autora até aqui, este é sem dúvidas o melhor conto dela e sobre a ditadura militar, que foi uma realidade de 1964 a 1985, deixando um rastro de maldade e sangue na história do nosso país.

A estrutura da bolha de sabão

Neste os contos passam a ser mais profundos, complexos e até mesmo compridos. Dá para notar a maturidade da escrita da autora e provavelmente da pessoa Lygia Fagundes Telles, que após escrever Seminário dos ratos, estava pronta para o que viesse. Mesmo se tratando na maioria das vezes da burguesia ou a decadente classe média paulistana, Lygia introduz assuntos importantes em seus contos, o que auxiliam a entender melhor o contexto histórico da obra e ainda mais a crítica por traz do comportamento humano.
Já começa com A medalha, onde há um confronto de gerações, onde a filha quer viver sua vida e a mãe a critica, mas, a menina vai se casar no dia seguinte e estava com outro homem durante a noite toda, então, é bem difícil tomar um posicionamento, porque a noiva só faz isso porque o noivo é negro e segundo ela, não vai encontrar melhor partido. Normalmente os personagens da Lygia são repletos de lixo tóxico emanando de suas bocas, como esgoto, e neste conto não é diferente.
O espartilho é bem forte e fala sobre a decadência das famílias tradicionais paulistanas, sobre o apoio ao nazismo, o preconceito velado, as mentiras usadas para proteger os amados – cujas vidas eram podres, o racismo declarado, o controle sobre a vida da neta e a rebeldia do sangue que clamava por justiça pela sua ascendência. É muito específico, pesado, cheio de abuso psicológico e um dos maiores contos da Lygia, beira o tamanho de uma novela. Acredito que seja um dos melhores contos deste livro.
A confissão de Leontina é o meu favorito desta antologia. Conta sobre uma mulher simples, que vive da prostituição para se sustentar, após perder toda a família, exceto pelo primo mau caráter, e se vê metida em um caso de assassinato, a qual, ela é culpada. O conto é o relato desta mulher, simples e iletrada, que conta como chegou a este ponto e o que a vida lhe entregou mesmo em meio ao suor e as lágrimas derramadas desde a tenra infância. Me lembrou um pouco Torto Arado, a vida cruel do trabalhador do campo, assim como a história de Macabéa, quando foge da sua terra natal e vem tentar a vida no Rio de Janeiro. Muito crua e realista demais.
Menções aos contos Estrutura da Bolha de Sabão (sim, eu sei que não faz sentido!), e a Fuga. É um livro bom, mas os antecessores são muito melhores.

A noite escura e mais eu

Lygia estava mais introspectiva nestes contos, aparenta uma incursão mais pelo pensamento e caráter dos personagens do que as situações externas, como Seminário dos ratos e Estrutura da Bolha de Sabão. Além disso, ela tem coragem de trazer assuntos que eram verdadeiros tabus na época da publicação.
Meus favoritos nesta seleção são: Dolly (história de assassinato e liberdade feminina, assim como seu preço), O segredo, Papoulas em feltro negro e Anão de Jardim. Sobre Uma Branca sombra pálida, é sobre uma jovem lésbica ou bissexual, não fica muito explícito na história, que acaba se suicidando depois da mãe fazer uma grande pressão psicológica sobre ela, que agora é obrigada a dividir espaço no túmulo da filha com a amante dela, onde colocam rosas vermelhas (a namorada) e rosas brancas (a mãe). É bem triste e reflexivo, além de dar raiva da narradora por tanta falta de respeito com a própria filha.

Invenção e memória

Este é um dos livros reunidos que menos me marcou, embora seja muito bom. Acho que são os temas, que ao completar a sua maturidade, a autora permanece numa mesma linha de produção, o que já não gera a mesma novidade e suspense para ler o conto. Vale estacar: Que se chama solidão (acho que foi o pai da menina que fez isso), Suicídio na granja, Dança com o anjo (história de fantasma?), O Cristo da Bahia (e a conexão com um conto de fada de Oscar Wilde), Dia de dizer não, O menino e o velho (jornal sensacionalista, venha conferir esta história!), Rua Sabará, 400 (adorei o conto sobre Dom Casmurro e fiquei feliz com a análise sobre Bento e sua reação com a morte do filho, que um dia fora amado e querido antes das intrigas – para mim, senhor Bento Santiago é um psicopata, afinal, não tem um pingo de empatia naquele narrador não confiável), História de passarinho e Potyra (o realismo mágico emana nesta história, que se mescla de leve ao terror).

Um coração ardente

Como o título, estes contos são mais emocionais e viscerais, mas vou comentar apenas o conto que me sensibilizou e me lembrou de uma leitura incrível feita este ano. O conto é Biruta, que fala sobre um órfão adotado por uma família rica para ser o seu serviçal, junto com os demais empregados da casa, que tem um cachorro filhote que está naquela fase de troca de dentição que morde tudo e apronta todas. Como o próprio ser humano não vale nada para a família rica, menos ainda vale o cachorro dele e o desfecho da história é de cortar o coração, como o capítulo da Baleia em Vidas Secas. Emocionante e ao mesmo tempo reflexivo: quanto valemos aos olhos dos mais ricos?

Contos esparsos

Esta coletânea abrange contos de diversos momentos da carreira da autora, sendo possível identificar a mudança da escrita entre um texto e outro, inclusive a semelhança aos momentos das demais antologias. Quero destacar: O tesouro (uma caça ao tesouro na praia que vai dar numa cena de assassinato de uma jovem prostituta), O muro (os desafios da velhice e o retorno à infância, na viagem mística pré-morte, como a feita por Brás Cubas em suas Memórias Póstumas) e Hô-Hô (o ódio que eu tenho deste conto só perde para A sauna – ódio pelo personagem, porque a escrita é formidável).

O livro conta com uma fortuna crítica muito boa, além de contar sobre a vida da autora. Vale muito a pena a leitura, a apreciação e o saboreio destes contos. Tenho certeza que vou revisitá-los e provavelmente tudo isso aqui será modificado, assim como o é até hoje para a mãe deles, Lygia Fagundes Telles.
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Rodrigo 30/09/2021

Perfeição
Descobrir a escrita de Lygia através de seus contos foi sensacional. Tive a ideia de ler um conto por dia e a experiência foi sensacional.
Conhecer a mulher, as famílias, o insólito da obra da autora transformou-me em seu fã.
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Paulo Henrique 26/09/2021

Perfeito do início ao fim.
Esse livro magistral traz 86 contos de Lygia, que percorrem toda carreira da escritora e traz ao leitor tudo de perfeito que um(a) escrito(a) pode produzir. No meu caso selecionei 12 que me fizeram pensar muito e a me perguntar como alguém consegue extrair das palavras tanta perfeição.
Entra para a lista seletíssima do meus favoritos e assim permanecerá.
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@thereader2408 13/07/2021

Antologia quase completa da dama da literatura brasileira
Todo ano eu escolho um autor que admiro bastante e me aprofundo em sua obra, esse é meu projeto de leitura "autor do ano", comecei em 2018 e em 2021 sigo com a dama da literatura Lygia Fagundes Telles. Ainda criança conheci os contos de Lygia nas aulas de gramática e me apaixonei e felizmente as releituras sobreviveram e posso dizer que a escrita da autora me agrada bastante.

Lygia é considerada uma das maiores escritoras brasileiras e, sobretudo, ficou conhecida pelos seus contos fantásticos. Esse livro foi publicado pela editora Companhia das letras que se propôs em organizar essa antologia de contos em uma edição especial que inclui, além de suas principais coletâneas, alguns escritos que há tempos estão fora de catálogo.

Na publicação temos acesso aos primeiros contos da autora, escritos em sua juventude, até sua produção mais madura, Os contos da Lygia, além de serem incríveis, apresentam uma escrita impecável. Além do posfácio com o texto O olhar de uma mulher escrito por Walnice Nogueira Galvão vemos uma mini biografia da autora no fim do livro que é dividido em 7 capítulos em 750 páginas (levei três meses lendo).

A coletânea é composta por Antes do Baile Verde, Seminário de Ratos, A estrutura da bolha de sabão, A noite mais escura que eu, A invenção da memória, Um coração ardente e contos esparsos. Todos esses capítulos são compostos de mais ou menos 10 a 15 contos e cada um você encontra, publicado pela companhia das letras, como livros separados. É mais prático para quem não tem o hábito de ler calhamaços como esse e quer muito conhecer a escrita da autora.

Lygia além de ter um papel fundamental para literatura nacional nos apresenta várias lições em seus contos que vão desde aproveitar os mais simples momentos da vida (Antes do baile verde) até a aprender amar (Um coração ardente), ter mais paciência (Eu era mudo e só) e ser um bom amigo (Biruta).

“A criação literária? O escritor pode ser louco, mas não enlouquece o leitor, ao contrário, pode até desviá-lo da loucura. O escritor pode ser corrompido, mas não corrompe. Pode ser solitário e triste e ainda assim vai alimentar o sonho daquele que está na solidão”.

@thereader2408

site: https://www.instagram.com/p/CRSUskprRbO/
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Sérgio 09/06/2021

Magnífica!
Prosa original plenamente sintonizada com narrativas perturbadoras.
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Bela 16/01/2021

incrível. sou um pouco suspeita para falar deste livro justamente porque adoro a escrita da Lygia. sou apaixonada, passaria horas falando sobre esses contos maravilhosos.
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Léia Viana 02/01/2021

"Invento, mas invento com a secreta esperança de estar inventando certo. - Paulo Emílio Sales Gomes
Foi meu primeiro livro da Lygia Fagundes Telles e, além do vocabulário elegante que me surpreendeu bastante, a evolução - ou declínio - da sociedade, foram os pontos que mais me chamaram atenção durante a leitura, como esses fragmentos ao longo das páginas, como o conto: "Que se Chama Solidão" e o conto: "Suicídio na Granja" com esses dois trechos que gostei bastante: "...alguns justificam e se despedem através de cartas, telefonemas ou pequenos gestos - avisos que podem ser mascarados pedidos de socorro. Mas há outros que se vão no mais absoluto silêncio. Ele não deixou nem ao menos um bilhete?, Fica perguntando a família, a amante, o amigo, o vizinho e principalmente o cachorro que interroga com olhar ainda mais interrogativo do que o olhar humano, e ele?!" outra passagem também do mesmo conto que me prendeu: "Suicídio por justa causa e sem causa alguma e aí estaria o que podemos chamar de vocação, a simples vontade de atender ao chamado que vem lá das profundezas e se instala e prevalece pois não existe a vocação para o piano, para o futebol, para o teatro. Ai!... para política, Com a mesma força (evitei a palavra paixão) a vocação para a morte quando justificada pode virar uma conformação, Tinha os meus motivos! diz o próximo bem informado. Mas e aquele suicídio que abre (aparentemente) não tem nenhuma explicação? A morte obscura, que segue veredas indevassáveis na sua breve ou longa trajetória."


Alguns outros contos, como o: "Os Mortos" é triste, fala da morte em vida de um relacionamento e a tentativa vã de "salvá-lo". Os contos: "Espartilho", "A Confissão de Leontina", "Você Não Scha que Esfriou", "Se És Capaz" e "Um Coração Ardente", são o retrato da sociedade daquela época. Seus valores, preconceitos e rótulos.

Alguns desses contos me fizeram refletir muito na evolução e também no retrocesso da nossa sociedade. Pareço contraditória nesse parágrafo? Não estou sendo. Os contos foram publicados entre os anos de 70, 77, 90 e 2012, então é esperado sim a mudança no perfil nas relações humanas; mas, lendo esses contos percebo uma sociedade que vai se ajustando as novas experiências e culturas, mas que ainda está bem longe do ideal.

Recomendo muito a leitura!
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Ju Ragni 17/07/2020

Excelente
Já tinha lido vários desses contos, em outras coletâneas, mas os reli agora e li pela primeira vez vários outros que ainda não conhecia, com o mesmo prazer... Conheci Lygia Fagundes Telles quando eu tinha 14 anos. Minha primeira leitura dela foi Ciranda de Pedra. Eu era terrivelmente romântica, queria descobrir as coisas do amor, e Lygia parecia um balde de água fria, mostrando a vida como ela era, crua, impiedosa. Nos romances ainda tinha uma veia de bondade, talvez um final meio feliz, mas os contos... Nos contos ela é dura, cortante, sem rodeios. Não tem piedade e nem disfarça nada, dá a real ali, na lata... Mas é um prazer imenso a sua leitura, recomendo muito.
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mpin 21/05/2020

Lygia no auge
Essa coletânea nos traz o legado de Lygia de tudo quanto é jeito, dos anos 1970 até a atualidade. Particularmente, muitos dos meus contos favoritos são da coletânea Antes do baile verde: estes, em particular, dissecam a condição humana, as inseguranças, a visão dos personagens diante de seus mundos internos. São contos mais psicológicos. Além desses, nas outras coletâneas, há contos sensacionais dela, como Meia-noite em ponto em Xangai, Uma noite na barca (esse todo mundo leu nos livros escolares dos tempos de ensino fundamental), A confissão de Leontina, entre vários outros que não vou lembrar aqui. Em alguns momentos, Lygia experimenta com o fluxo de consciência, especialmente nos contos envolvendo famílias e os dilemas de suas protagonistas com elas. Outros são metalinguísticos, como a releitura do conto A missa do galo, de Machado de Assis, ou mesmo um conto em que ela e um dos maridos escrevem uma peça baseada em Dom Casmurro. Esses contos mais metalinguísticos trazem pouca coisa interessante, em minha humilde opinião, mas mostram momentos de experimentação da Lygia. Em linhas gerais, os contos mostram a evolução da prosa de Lygia e mostram sua expertise em retratar personagens do cotidiano das cidades, alguns bem suburbanos, inclusive, em seus anseios e contradições. Para os estudiosos de literatura, vale inclusive para analisar a obsessão da autora pela cor verde, usada de formas curiosas e enigmáticas. A prosa ora dialoga com o leitor, ora o desorienta, aproximando-se com elegância da oralidade e dando a muitos contos uma identidade única. Imperdível: são vários livros em um.
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HonorLu 29/10/2019

Ai, Lygia
Minha madrinha literária, divisor de águas dentro de minha caminhada espiritual. Sou apaixonado, passaria horas falando sobre esses contos maravilhosos. Ganhei este livro do meu melhor amigo, o que atribui a ele um valor muito maior.
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Delirium Nerd 17/08/2019

5 contos para conhecer a incrível prosa da autora
Lygia Fagundes Telles, grande escritora brasileira, possui uma prosa rica em detalhes e versatilidade, uma vez que aborda temas diversificados que vão do suspense ao romance e passam pela fragilidade das relações humanas e a condição de ser mulher na sociedade contemporânea; os contos são envoltos por um realismo fantástico que permeia nossos pensamentos, causa indagações e promove interpretações variadas sobre um mesmo ponto – há sempre um mistério, algo nas sombras, um sentimento inquietante, pairando pelo ar.

A prosa subjetiva e poética da autora encanta milhares de leitoras e leitores, das mais variadas idades, e precisa ser cada dia mais conhecida e relida, por apresentar temas necessários dentre diversas discussões. Suas personagens, na maior parte mulheres, dão vozes àquelas que conhecemos, diferentes entre si, mas igualmente cheias de bravura e deslumbramento perante o mundo.

1) Venha Ver o Pôr do Sol
O ex-namorado de Raquel, Ricardo, a convida para um passeio em um lugar um tanto inusitado: um cemitério abandonado. Os dois conversam sobre o presente de ambos, enquanto relembram fatos do passado e, ao passo que avançam no lugar, o clima fica gradativamente mais soturno; a promessa de se ver um lindo pôr do sol fica, aos poucos, mais distante e nebulosa. O desfecho deste conto é impressionante e serve como uma excelente porta de entrada para os escritos de Lygia. A obra, ainda, revela toda a podridão que pode derivar de um relacionamento abusivo e, principalmente, de uma masculinidade tóxica capaz de ir até às últimas consequências em função de um ego ferido.

O conto possui um ritmo que flui ao longo das páginas e a tensão crescente permite que a leitora ou o leitor fique angustiado para saber o que acontecerá em seu desfecho. Repare na construção do ambiente e em como a estética decrépita e invasiva encaixa-se na personalidade de Ricardo.

2) Os Objetos
Lorena e Miguel, um casal, conversam enquanto ela constrói, aos poucos, um colar de contas sobre a utilidade de certos objetos e em como estes mesmos objetos podem ser entendidos em paralelo à utilidade das pessoas que fazem parte de nossas vidas. O conto conversa sobre o ato de prestar atenção em quem faz parte do nosso convívio e sobre os problemas que a falta de comunicação, principalmente entre casais, pode gerar. Aqui, é interessante analisar a postura do personagem principal; querendo a atenção de sua amada a qualquer custo, comporta-se de modo infantil, ao passo que a mulher, claramente mais lúcida que ele, parece conhecê-lo bem e não dar a mínima para o comportamento (o que culmina na problemática do final).

O conto termina de forma que leitoras e leitores possam teorizar sobre o que acontece após o último ato de Miguel e a última conversa dos dois, regada por um teor melancólico e, de muitas formas, manipuladora por parte do homem. Este é o tipo de conto de Lygia no qual, por mais breve que seja, pode-se inferir muito sobre a construção psicológica dos personagens ali presentes, estando aberto a muitas interpretações.

3) As Formigas
Duas primas, uma estudante de direito e a outra de medicina, precisam pernoitar em um casarão muito estranho. A dona da hospedagem diz que o último hóspede do quarto em que as garotas ficariam, também estudante de medicina, havia deixado um caixote com ossos de um anão, nos quais fazia seus estudos. Somando o clima do local, muito sombrio, e a existência do caixote de ossos, as duas personagens passam a ser atormentadas por acontecimentos bizarros.

Este conto remete ao “A Queda da Casa de Usher”, de Edgar Allan Poe, e ao universo da série Twin Peaks. A estranheza do local, que parece ter vida e observar as personagens, e a sucessão de acontecimentos surreais promovem uma aura de suspense que inicia-se no primeiro parágrafo e estende-se ao último. Um dos contos de mistério da autora mais cativante e divertido de se ler!

4) Herbarium
“Herbarium” narra as peregrinações de uma jovem em busca de plantas para a coleção de um primo botânico, uma visita querida ao sítio em que mora e, mais do que isto, fala sobre o despertar das primeiras paixões, sobre a fascinação que o outro nos causa e o ciúmes que pode despontar destas trocas; fascinada pela natureza por conta do parente, a garota narra suas incursões pela mata próxima à sua moradia e, em cada gesto, nos transmite a consciência de uma ancestralidade feminina e sobrenatural muito forte, tanto no local quanto nela mesma.

A forma como Lygia conduz as descobertas da personagem e seu despertar para um “eu” primitivo é magnífica. A garota pega-se pensando na relação entre a natureza e a clarividência que, em certo trecho, evidencia-se nela pela existência de uma parente curandeira da menina, que também a possui, e pela estreita relação entre a doença que o primo tem e a ideia da morte – tanto do corpo físico dele quanto do possível afastamento entre os dois algum dia.

5) A Caçada
Um homem vai a uma loja de antiguidades e apaixona-se por uma tapeçaria que ilustra um bosque, imerso nas profundezas da mata, um caçador. A fascinação que a peça promove no personagem é gigantesca e, após este primeiro contato, episódios delirantes começam a se desenrolar. O conto possui um ritmo cinematográfico e uma crescente de fatos que prende leitoras e leitores do início ao fim do texto; a obra lembra o romance “Rose Madder“, de Stephen King, no qual uma mulher que sofre abusos físicos e psicológicos do marido reconecta-se consigo mesma após encantar-se pelo misterioso quadro de uma guerreira.


site: https://deliriumnerd.com/2019/05/23/lygia-fagundes-telles-5-contos-para-conhecer-a-incrivel-prosa-da-autora/
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Fátima Lopes 12/08/2019

Sou leitora entusiasmada da autora há mais de quarenta anos;sua escrita é elegante , profunda e sem excessos .
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Occult 01/08/2019

Excelente, sou suspeito para falar porque adoro Lygia e no entanto tinha lido só dois livros de contos dela, sendo assim a maioria foi uma grata novidade, passei vários meses refletindo e lendo sobre cada conto. .

Não se trata de todos os contos e pelo que sei não existirá uma edição completa, visto que a autora não gosta dos primeiros livros e não quis que fosse republicados, os contos aqui reúnem livros famosos da fase de maturidade literária de Lygia como Antes do baile Verde e Seminário dos Ratos. Alguns contos mais antigos foram republicados em uma nova seleção, como a do livro Coração Ardente aqui retratados e também como Contos esparsos, sendo apresentados no fim do livro.
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