Dhiego Morais 12/09/2020Motivos para lerMuito provavelmente a HQ mais aguardada por este humilde leitor de quadrinhos em 2020, Grama, da sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim finalmente veio parar em minhas mãos! São tantos detalhes importantes a serem comentados que certamente renderiam mais de um simples post, porém, decidi compartilhar com vocês alguns bons motivos para que Grama também entre para as listas de leituras do mês de mais pessoas. Vamos conversar?
1. UM QUADRINHO NECESSÁRIO PARA OS LEITORES DE HERDEIRAS DO MAR
O principal motivo que me fez ter tanto interesse por Grama (além é claro do trabalho de curadoria e pelas edições formidáveis da editora Pipoca & Nanquim), foi justamente após ter lido Herdeiras do Mar, de Mary Lynn Bracht, um lançamento em primeira mão pela Tag Inéditos em parceria com a Editora Paralela – um dos braços da Companhia de Letras.
Em Herdeiras do Mar, os leitores são levados à ilha de Jeju, na então Coréia ocupada pelo exército imperial japonês. O início da Segunda Guerra Sino-Japonesa, num movimento expansionista do Império Japonês pelo continente asiático e logo em seguida da Segunda Guerra Mundial são os cenários escolhidos para a contação das histórias de Bracht e Gendry-Kim. As “mulheres de conforto” e os demais horrores das guerras transformam nossas personagens e fornecem histórias impactantes, dolorosas e necessárias para o entendimento mais expandido desses eventos impossíveis de se esquecer.
Grama certamente é mais um livro enriquecedor, tão forte e perene quanto Maus ou O Relatório de Brodeck.
2. UM QUADRINHO QUE DEVE SER LIDO POR TODOS AO MENOS UMA VEZ NA VIDA
Grama nos apresenta a história da vovó Ok-sun Lee, que em sua infância complicadíssima em uma Coréia devastada pelo Império Japonês fora vendida por sua família – algo não muito incomum na época, tendo em vista a miséria a que muitas famílias eram acometidas –, tendo que trabalhar forçadamente para outras pessoas em restaurantes e bares, até ser levada para viver e trabalhar como escrava sexual em “Casas de Conforto” exclusivas do Exército Imperial Japonês e espalhadas pela China.
A desumanidade a que eram submetidas nas “Casas de Conforto” – um nome machista que leva em consideração apenas a visão do exército japonês, de seu bem-estar em tempos de guerra – fica evidente na medida em que avançamos as páginas. Não havia idade certa, nem tipo, nem regras, mas sim muitas mentiras e violência constante.
Ainda que não seja um quadrinho recomendado para todos os leitores, devido à faixa etária e principalmente ao tema doloroso de ser redescoberto, Grama é uma leitura essencial para que todo leitor realize ao menos uma vez em sua vida – e aqui não falamos de quando deve ser lido, e sim de que em determinado momento de nossa vida como leitor, trata-se de uma HQ importantíssima para nossa construção e transformação constantes, pois além de ser fonte de conhecimento sob a forma de um relato poderoso e real, traz à tona temas valiosos para serem debatidos sempre.
3. A ARTE DE KEUM SUK GENDRY-KIM
Os traços da artista sul-coreana talvez não agradem a todos os leitores, pois a princípio podem parecer simples demais, sem muito requinte. Entretanto, para o tom sério e triste do relato, os traços conseguem balancear momentos densos e complicados de serem postos à tinta com bastante suavidade e muita introspecção. Há até mesmo lembranças de uma quietude e de uma solidão que se completam com a personagem principal, Ok-sun Lee. As pinceladas de nanquim resgatam todo o ar de reflexão que o leitor necessita para a imersão em Grama.
Por fim, além de tudo isso a edição nacional conta com extras maravilhosos que dão ainda mais aprofundamento ao tema narrado em Grama e devem ser lidos logo após a conclusão.
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