Adriana Pereira Silva 20/12/2019
Vida que seca
“Vidas secas” pertence à segunda fase modernista, conhecida como regionalista, e é qualificada como uma das mais bem-sucedidas criações da época. Utiliza, para isso, do discurso indireto livre, narrativa não-linear, nomes dos personagens, denunciando as mazelas sociais do sertão nordestino.
O estilo seco de Graciliano Ramos, que se expressa principalmente por meio do uso econômico dos adjetivos nesta narrativa, parece transmitir a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão. Assim, ao escrever esta obra, utiliza-se de um narrador seco, com fala áspera e seca, dura a fim de que o leitor entendesse a dureza da vida dos personagens.
Mostra o drama de uma família nordestina, retirante, que vive fugindo da seca. É composta por Fabiano, sua esposa Sinha Vitória, o filho mais velho e o mais novo e a cachorra Baleia, fugindo da seca, encontram refúgio em uma fazenda abandonada e, logo que chegam, a chuva vem e traz vida a tudo. Assim, Fabiano acaba como vaqueiro desta propriedade. Assim, o narrador começa e termina a obra descrevendo a fuga desta família da seca, demonstrando que vivem um movimento cíclico.
São narrados episódios esporádicos da vida dessa família, considerado, por isso, um “romance desmontável”, pois há possibilidade desse ler de maneira desordenada cada capítulo. Contém um capítulo especial destinado à cachorra Baleia, personagem personificado da história, é como se fosse um membro dela.
A miséria é retratada pela seca geográfica e pela miséria imposta pela influência social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região, mostrando como vive essa família, à margem da sociedade. Assim, o narrador descreve 2 antagonismos: a seca da natureza, que tira a vida de tudo, e a seca da sociedade, que permite uma distribuição injusta e cruel da terra, deixando tantas famílias em absoluta miséria. Como o escritor foi influenciado pela ideologia marxista, há uma defesa à revolução socialista, vista nesta obra.
Portanto, a obra mostra como compreender a natureza é difícil, mas tanto quanto compreender a sociedade, os homens brancos, que eram homens distantes, da cidade, que podiam ser tão cruéis como a natureza com a seca.
A família de Fabiano era analfabeta, com exceção de Sinha Vitória, sempre viveram isolados e não conhecem nenhuma outra forma de vida, que não seja de exploração e de miséria. Além disso, vivem quase como bichos, não conseguem nem conversar corretamente. Fabiano, por exemplo, muitas vezes não consegue verbalizar o que pensa, o que sente ou deseja, não conseguindo nem se defender de uma sociedade que o explora, humilha e, muitas vezes, o ignora.
Assim, “Vidas secas” é um romance que traz essa denúncia social e também revela a humanidade que existe por dentro dessas pessoas tão humildes e castigadas, fazendo-nos mergulhar na alma deles e vendo a força interior de cada um, mesmo da cachorra Baleia, e seu caráter.