Ely 03/02/2021
'A infância é mais poderosa do que a ficção.'
Terminado o livro, quando penso no título 'República Luminosa' e imagino ao que se refere, me vem a angústia que talvez o narrador da história tenha sentido por um tempo. Durante toda a história esse narrador vai lembrando episódios do passado, de quando foi morar na cidade de San Cristóbão com sua mulher Maia e a filha dela, quando conheceu a cachorra Moira, e passa pelo momento em que 32 crianças misteriosas aparecem na cidade. No início elas se camuflam umas entre as outras, parecendo com as usuais crianças que vemos em situação de rua, mas o grupo começa a crescer e a coisa entra em desordem depois do assalto ao supermercado Dakota e posteriores desaparecimentos.
Durante a narrativa o leitor fica curioso: de onde elas saíram? Quem é o líder delas? Porque preferiram viver assim? Ou talvez não preferiram. As circunstâncias da vida a levaram a certo ponto e, vendo a liberdade que teriam sendo só entre elas, preferiram ficar. E isso nos traz uma nova ideia sobre infância, que crianças não são coisas a serem tratadas, que desde cedo precisamos olhar por suas necessidades também. Essa ideia me veio depois de algumas conversas do Assistente Social com o Jerónimo. E depois de uma reflexão sobre a dinâmica que as crianças tinham.
Mais pra o final do livro essa curiosidade de saber mais só aumenta, a escrita com um quê de investigativo do Andrés Barba só instiga.
É um livro interessante no que se propõe, a história se desenrola em seu tempo certo, com o intuito de nos fazer abrir o olho e direcionar a atenção justamente para essa fase da vida chamada infância, nos fazendo refletir mais sobre ela com outros olhos.
Recomendo a leitura, super diferenciada, mas surpreendente.