Mari Siqueira 03/02/2021O Construtor de Pontes destruiu meu coração para construir no lugar dele a memória de uma linda história. Markus Zusak e suas brilhantes metáforas já haviam me conquistado anteriormente em A Menina Que Roubava Livros e o autor se reafirma como um dos meus favoritos da vida.
A narrativa extensa - característica do autor -, bem como sua tendência ao discurso excessivamente coloquial, pode parecer cansativa para muitos. E em todos os seus romances, o ritmo narrativo é arrastado. No entanto, a forma como o autor brinca com as palavras e constrói ideias é única, cada capítulo é uma rica construção de figuras de linguagem e muitas delas me fizeram chorar.
Desde seu título original, A Ponte de Clay (clay, palavra que em inglês significa argila e é também o nome do protagonista) até a forma como o autor referencia os personagens, tudo é genial. Os jogos de palavras, os capítulos intercalados, a forma como tudo está interligado ao final.
A vida dos meninos Dunbar foi destroçada por uma tragédia e, aos poucos, vamos descobrindo o que realmente aconteceu. A morte e o abandono estão presentes na vida deles desde muito cedo e isso fez deles quem são: garotos cheio de raiva, tristeza e dor. O pai, que os deixou tantos anos atrás retorna com um pedido estranho: ajuda para construir uma ponte, e apenas um deles aceita - Clay.
Em sua máquina de escrever, Matthew, o mais velho dos garotos Dunbar narra a história de sua família, de como tudo aconteceu, de como tudo acabou e, principalmente, de porquê Clay ser tão diferente de todos eles. Cada página nos revela um pouco de cada personagem e seus sentimentos. Não importa o quanto pareçamos fortes, somos frágeis quando vistos de perto. Alguns de nós são feitos de argila, outros de madeira e, até mesmo aço, mas uma coisa é certa, todos nós estamos expostos ao tempo da mesma maneira. E o tempo é cruel, corrosivo, destrói tudo em que toca.
Essa é a história de uma família destroçada pelo tempo e, ainda assim, conservada nas palavras de um garoto. O final é uma enxurrada de emoções que abalaram as minhas estruturas. Existem livros que constroem pontes dentro de nós para sentimentos há muito inalcançáveis e depois os destroem, este é um deles.
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