Maikele.Jardim 07/05/2023
Favoritado
Não sei se encontrarei as palavras adequadas para expressar o quanto esse livro preencheu as horas do meu dia como um bálsamo para feridas que eu ainda tenho dentro de mim, mas irei tentar. As Extraordinárias Cores do Amanhã conta a história da mãe de Leigh, que sofria de depressão e comete suicídio. Então, vemos as coisas pela visão de Leigh, como isso afetou ela e todas as memórias que ela tem da mãe, do pai, da sua família, de segredos familiares que ela tenta descobrir, dela se dando conta que sempre percebeu que havia algo errado com a mãe, mas ela não sabia como lidar na época. Das mudanças de Leigh, ao sentir culpa por não ter feito tudo de outra maneira, de ter desejado fazer tudo diferente, de ter feito mais, da culpa que sentiu ao acreditar que a mãe fez o que fez por causa dela. Das tentativas de se aproximar dos seus avós maternos, de descobrir coisas da vida da mãe que ela nunca soube por meio da mesma, enfim. No início da leitura confesso que não consegui me conectar muito, achei muito melancólico e parado, mas depois, a história se aprofunda e há vários diálogos nos quais me senti representada, por eu sentir o mesmo. Recentemente eu vivi uma relação com alguém que sofre de depressão, então foi inevitável a identificação. Por isso senti tanta raiva em algumas momentos lendo o livro, por que realmente, nem sempre vamos saber lidar da melhor maneira com uma situação desse porte e até mesmo, mesmo que a gente se importe e queira ajudar a pessoa que amamos e que está passando por isso, as vezes simplesmente não conseguimos. As vezes é uma escolha da pessoa não receber ajuda, as vezes a pessoa se fecha tanto que nem sequer sabe como pedir ajuda. É um assunto muito delicado, só quem viveu algo parecido pode compreender. Esse livro foi meu companheiro durante uma semana, em que cada página lida eu me via ali representada. Eu amei muito alguém e eu culpei a pessoa quando a mesma me deixou. Eu senti tanta raiva, sabe? Por que eu dizia a ela que eu estava ali, que eu não deixaria ela se afundar num poço escuro e vazio como a depressão. Eu precisei admitir pra mim que a pessoa estava doente, que foi uma escolha dela ir, que não havia nada que eu pudesse fazer mesmo que eu quisesse muito fazer algo, qualquer coisa, que a curasse e a fizesse se sentir melhor. Também precisei encarar que talvez, mesmo que não existisse a depressão, era direito dela me deixar e que eu precisava aceitar o fim de todos os ângulos possíveis. Por isso me questiono se significa amor o que eu senti, quando senti tanta raiva e dor quando a pessoa me deixou. E ironicamente, hoje eu sou uma pessoa mais feliz e que valoriza mais as relações humanas depois dessa experiência. Eu fico realmente feliz pela minha capacidade de amar a vida e querer viver e ser feliz e me pego as vezes me sentindo culpada quando penso que pra isso eu precisei viver uma relação em que ambas as partes saíram muito machucadas. Eu sinto tantos sentimentos contraditórios dentro de mim que me pergunto se isso é correto, justo e verdadeiro. Me pergunto se isso significa amar e tenho medo da resposta ser não. De qualquer forma, hoje eu sinto que sou uma pessoa melhor, diferente. Não consigo mais me lembrar de quem eu costumava ser e o que fazia antes de ter vivido essa relação. Eu gosto muito de quem me tornei e como vivo hoje. Eu só espero que essa pessoa fique bem e encontre o que tanto procura. Sei que fugi bastante do tema da resenha que é o livro, mas fui surpreendida demais ao ler esse livro. Parecia que eu estava lendo a história da minha vida ou uma grande parte dela. É um livro que eu gostaria de ter escrito, de tanto que me identifiquei.