emy 12/05/2021Leigh Bardugo sempre escreve sobre personagens reais...Por mais que estejam sempre inseridos em um contexto fantástico, é difícil encontrar um autor que sabe construir personagens tão reais, cheios de camadas, cheios de defeitos, cheios de complexidade, quanto a Leigh Bardugo.
Eu já esperava que Nona Casa fosse ser um livro que eu iria adorar — eu amo a Leigh Bardugo e eu amo o gênero Dark Academia — e eu sabia que a autora daria conta do recado. Até porque, antes mesmo de começar a escrever sobre o grishaverso lá em 2012 a Leigh Bardugo já estava matutando a ideia de Nona Casa enquanto ela própria estudava nos corredores de Yale.
A minha opinião pode ser meio dura e polêmica mas honestamente eu sinto que esse livro sofreu um efeito de "vou na onda do que estão falando e já vou esperando isso" (eu não sei surgir com nomes) mas ele ganhou tanta comoção, tanto ódio, tanta militância em cima, tantas pessoas dizendo que foi o livro mais pesado e mais irresponsável que já tinham lido na vida, que eu fiquei imaginando: o que a Leigh Bardugo possivelmente escreveu aqui? E ai, confesso que quando fui ler, até nas cenas mais pesadas e mais gráficas — e sim, tem cenas bem pesadas — eu não fiquei tão impactada e até cheguei a pensar: "é isso?" no polêmico capitulo 7 que é o que falam ser o pico do absurdo do livro (o que chega a ser bem horrível considerando que o que acontece é algo realmente bem pesado e triste) mas do jeito que todo mundo falava, eu já esperava isso, mas intensificado nove vezes mais.
E honestamente, se você pega os avisos de gatilho que todo mundo fala que esse livro tem, gente, são pessoas querendo caçar gatilho em absolutamente t-u-d-o, só que aí só estão cobrando de Nona Casa: quantos livros vocês já não leram com violência física sendo descrita de formas bem gráficas (o próprio Six of Crows da mesma autora) sem ninguém militando em cima? Quantos livros/séries/filmes sobre consumo de drogas já não tiveram por aí sem a galera caindo em cima por ser pesado? (Breaking Bad, Diário de um Adolescente), quantos livros sobre mistério e fantasmas retrata possessão, mortes, depressão, assassinatos e "suicídios" sem ninguém falando nada? (Donnie Darko, Bruxa de Blair, O Chamado, Os Outros, etc.)?
Eu realmente sinto que a galera quis PROCURAR o que não gostar em Nona Casa, sem estar ciente do gênero que estavam pegando pra ler. E falar que os temas pesados foram retratados de forma irresponsável? Eu gostaria de saber o que é então ser tratado de forma responsável, é não mostrar? é isso? por que o que eu mais adoro sempre na escrita da LB é como ela não tem medo de mergulhar o dedo na ferida e cutucar. Ela vai fundo, sem parar, ela não para, ela te deixa desconfortável e é pra deixar mesmo. Sempre detestei quem só dá a pincelada por cima. Tanto homem escrevendo sobre esses assuntos só para o propósito de "chocar" e ninguém fala nada, ai quando vem uma mulher e conversa sobre isso a galera xinga. Qual o sentido disso? Irresponsável é quem coloca a cena sem aviso prévio e que não acrescenta nada na história depois. Mas aqui você consegue ver a alma plotter da LB — tudo, absolutamente TUDO, é causa e consequência. E tudo é aproveitado. Todas as informações que ela te dá, todos os nomes, todos os acontecimentos, t-u-d-o está ali por um propósito. É tanto foreshadowing que você consegue ver como ela realmente tem tudo planejado e está sempre te dando dicas do que vai acontecer.
E sobre ser confuso, "dificil de ler" e lento, honestamente, eu não achei não. Óbvio que não quero invalidar a experiência e leitura de ninguém mas eu não consegui ver diferença no tom de escrita dela daqui para Six of Crows por exemplo (inclusive confesso que primeira vez que li six em 2015 fiquei mais confusa porque realmente tinha sido um choque a evolução de escrita dela da trilogia pra duologia) mas aqui eu consegui ver a MESMA autora que eu admiro tanto com as mesmas técnicas de escrita, mesma maneira de esculpir frases e apresentar o universo, a única diferença é que ela não se limita e tem mais liberdade para escrever mais palavrões ou palavras consideradas mais 'gráficas' para descrever cenas principalmente de conotação sexual, sejam essas cenas pro bem ou pro mal, de maneira mais "libertadora" sem tendo que podar as palavras (e honestamente, só esse tema que eu diferenciaria do "adulto" de Nona Casa para o "YA" de Six of Crows, mas isso é conversa pra outra hora).
E questão de lentidão, KKKK gente eu devorei esse livro. Me prendeu de um jeito que meu deus, fazia tempo que um livro não me prendia assim, o último que isso aconteceu foi lá em fevereiro.
A LB escreveu uma fantasia urbana com um sistema de magia incrível em uma ambientação incrível de dark academia e oferece tudo do gênero aqui no livro, mas além de tudo, é uma história sobre os personagens, sobre sobreviventes, é puro desenvolvimento de suas vidas e seus traumas, e ela conseguiu colocar e abordar problemas tão reais ainda melhor do que livros contemporâneos as vezes tentam fazer. Alex Stern é uma protagonista incrível. Darlington — meu deus, LB como você consegue fazer eu me apaixonar por um bastardo do barril e ao mesmo tempo por um playboy de Yale, eu não sei, mas obrigada — e eu só quero logo o dois POR QUE O JEITO QUE ESSE LIVRO TERMINA PELO AMOR DE DEUS!
É isso, essa foi minha resenha enorme pra Nona Casa.
Que livro, senhoras e senhores.
Que livro.