Grey Borges 30/11/2019À Sombra do JatobáÀ Sombra do Jatobá - R.C. Maschio
novembro 30, 2019
Uma obra que aborda um tema tão relevante, que às vezes parecemos esquecer: Escravidão. Se não fosse as correrias com a faculdade teria sido uma leitura de poucas horas. Envolvente, emocionante e necessário.
Ambientada no final do século XIX, iniciamos conhecendo a Ama de Leite, Nanã. A qual, cuidou de duas meninas Teodora e Candida, filhas dos senhores da casa grande, totalmente escravocratas. Mas, existe um elo grande entre as três que não permite que elas vejam Nanã como uma escrava, e mesmo, sendo elas brancas não entendem a diferença que existe entre um negro e um branco.
Mas agora, Nanã foi devolvida para a senzala por estar muito doente e não ter mais utilidade para seus donos, independente do quanto ela tem sido devota às meninas, que ela ama como se fossem suas.
Porém, elas não aceitam e querem sua Ama de volta. Como o pai não presta respeito a Nanã, que tanto fez por sua família? Não, isso não pode terminar dessa maneira.
A figura central, Teodora, desde pequena tem muita curiosidade por tudo, visão revolucionária e uma veia um tanto feminista para a época. Não aceita tudo calada, e se impõe em vários momentos.
No desenrolar da trama percebe-se que o pai torna-se cada vez mais autoritário e inflexível, trazendo à tona muitos conflitos entre eles. A mãe, também demonstra forte aversão aos escravos.
Nesse contexto, com pais escravagistas e filhas com pensamentos abolicionistas se desenvolve uma narrativa que prende a atenção do leitor de uma maneira surpreendente.
"...Nenhuma mulher é médica, menina, Muito menos uma negra como eu."
"Pois acreditas que mesmo sendo um negro o menino poderá aprender?"
"Afinal, meu Deus, sinto em meu coração que sou feita também por suas mãos.
Então, por que permite que o branco trate nós de pele preta com toda essa maldade?"
Algumas coisas, foram difíceis ler e não pude contar as lágrimas que insistiam em cair. Às vezes, parece que esquecemos que tudo isso aconteceu e que era completamente normal os escravos serem tratados como uma cadeira ou uma mesa.
Em uma cena as crianças brancas usam as crianças negras como cavalinhos para brincar. Não sei expressar o quanto isso me incomodou só de imaginar.
Impossível ler e não sentir dor e rever aquilo que pensamos sobre a escravidão. Acredito que nos distanciamos tanto desses fatos, muitas vezes, sabemos que de fato foi real, porém, esquecemos a intensidade com que ocorreu.
O machismo é trabalhado de uma maneira que constatamos toda a opressão que a mulher sofreu, durante tantos anos, sem poder fazer faculdade, trabalhar, ou fazer qualquer coisa além de cuidar de uma casa, marido e filhos.
Os novos tempos chegaram até nós devido o desejo por liberdade das classes menos favorecidas e daqueles que tiveram a coragem para conquistar com o próprio sangue o que temos hoje.
Recomendo a leitura desse livro que fará com que você reflita em tantas questões. É aquele tipo de leitura que você termina diferente de quanto começou e que quer indicar para todo mundo. Comigo foi assim, e tenho certeza que será com você também.