Vinicius.Carvalho 06/04/2019
Nesta semana, encontrei-me em uma leitura arrebatadora, que consegue dialogar com o leitor de uma forma muito singular. Além disso, é um livro que trata sobre uma área próxima, o que dá uma sensação de maior familiaridade com a obra.
Essa chama-se “Cabra Das Rocas”, fala sobre a vida de Joãozinho, que busca entrar no Atheneu, colégio de prestígio na cidade de Natal - Rio grande do Norte - e é a segunda escola mais antiga do Brasil. Porém, ele mora nas Rocas, Bairro pobre da cidade, onde ninguém nunca havia ido à escola, todos achavam que isso fazia parte apenas de Cidade Alta, que era onde os ricos viviam. O fato, é que o menino queria estudar e durante seu trajeto ele enfrentará várias situações, que apresentam de forma singular 19 capítulos que perpassam de forma tênue entre a realidade e a ficção.
Uma obra produzida Homero Homem, escritor potiguar que ganhou vários prêmios por suas contribuições, é também o único autor do estado com obra traduzida para outra língua, que aliás, é o livro tratado.
Joãozinho, filho do Seu Brás - Homem do mar -, após sua inscrição para prestar o exame do Atheneu, segue apresentando o dia a dia das Rocas e os seus planos para estudar com Seu Geraldo, farmacêutico do bairro, que se compromete a ensinar ao menino o necessário para a avaliação. O fato é que João não tinha tempo só de estudar, era de Bairro pobre, então, várias coisas o cercavam e isso é vivido nos capítulos, pois o ele conhece o amor, preocupa-se se realmente deve estudar, vai ao circo, fala sobre o carnaval, sobre as idas e voltas do pai em sua casa, etc. E isso mostra que a vida não é só o que você faz ou quer fazer, tem vários micro fatores que influenciam nos resultados finais, seja de forma negativa ou positiva, e essa é uma coisa que trouxe do livro para mim.
Ao longo do caminho, além da vida de João, são apresentados personagens externos e na leitura é possível perceber que em alguns capítulos, não há conexão alguma com a ficção “central”, mas que contribuem para construir o perfil do bairro e dos moradores, que para além disso, de como era a sociedade no momento ou poucas décadas antes do que o livro fora publicado (1973). De toda a forma, tudo constrói o perfil de um menino batalhador que nada contra a sua corrente, tentando buscar algo inimaginável para seu grupo social - estudar-, e que apesar de quase nenhum incentivo, com exceção do Seu Geraldo, continuou.
Assim, o livro ensina sobre a persistência e gratidão, o esforço para conseguir algo e o retorno que os esforços trazem, dá uma lição de otimismo, que só consegui maior em “A Grande Saída” do Angus Deaton, uma ótima obra.