Abril despedaçado

Abril despedaçado Ismail Kadaré




Resenhas - Abril Despedaçado


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Cleber 29/04/2022

Sangue e vingança em nome da lei
Vendeta, tanto sangue derramado em nome de códigos da lei. Até que ponto devemos cumprir a lei? Principalmente quando a lei é tão cruel.
Gostei da leitura e de conhecer a cultura de um país tão distante. Agora fiquei ainda mais curioso para ver o filme.
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Otávio - @vendavaldelivros 05/06/2023

“Medir os dias da vida com o metro da morte é, antes de mais nada, um dom.”

É difícil imaginar como um livro que se passa nas montanhas da Albânia pode impactar tanto a nossa forma de enxergar a vida e a morte. Eu esperava uma boa experiência de leitura com Abril Despedaçado, porque já havia lido A Pirâmide, do mesmo autor, e tinha gostado, mas não imaginava encontrar um livro tão forte como este.

Publicado em 1982, Abril Despedaçado talvez seja o livro mais conhecido do albanês Ismail Kadaré aqui no Brasil, já que sua obra foi adaptada para o cinema pelo consagrado Walter Salles. Como nunca havia assistido ao filme, a história que me chegava era apenas a da sinopse e das indicações que acompanhei.

No mês de março de algum ano da década de 30, nos montes malditos no norte da Albânia, o jovem Gjorg cumpre o Kanun, o código moral que rege a vida e a morte dos moradores da região, e vinga a morte do irmão, assassinando aquele que havia retirado sua vida. Agora, ele está sob o regime do código e virará o alvo dessa vingança quase eterna, que segue ceifando vidas e famílias.

A violência, a morte e a vingança como motores sociais assustam. Como imaginar uma sociedade que “sobrevive” alimentando vendetas e assassinatos para recuperar dívidas de sangue que acabam nunca sendo pagas? Esse recorte real de uma região tão pequena faz refletir sobre como nós encaramos a vida e a morte. Como a violência virou um produto em nossa própria sociedade? A violência física, mas também a emocional, muitas vezes vendida em reality shows de grande sucesso, está tão presente em nosso cotidiano que, ao nos depararmos com uma roupagem diferente, tendemos a chamar a cultura do outro de bárbara. Mas quão bárbaros nós também não somos?

Quanto se lucra com a violência, com a fome, com a espetacularização do racismo e de todos os preconceitos? O quanto nossa sociedade violenta pessoas pobres em troca de entretenimento? Quantos jovens negros não são assassinados todos os dias em troca de uma falsa sensação de segurança para quem não vive na periferia? Abril Despedaçado é um livraço, daqueles que ficam e deixam marcas na nossa própria capacidade de enxergar o que, afinal, é o nosso mundo.
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Leila de Carvalho e Gonçalves 13/07/2018

Sangue Dado, Sangue Tomado
É inegável o fascínio da Albânia, especialmente para quem viveu durante a ditadura militar, pois se tratava de um país fechado e praticamente desconhecido onde o comunismo parecia ter prosperado nas mãos do ditador Enver Hoxha, que mantinha uma relação atribulada com a China e a União Soviética até o total rompimento. Apenas nos anos noventa, foram dados os primeiros passos em direção a sua democratização e confirmou-se um atraso que até hoje, é o maior desafio a ser superado.

Escrito em 1978, "Abril Despedaçado", de Ismail Kadaré, é um livro essencial para quem quiser aprender sobre os costumes da região, à medida que enfoca um draconiano código de leis, o "Kanun", que a margem do Estado ainda rege os montanheses do norte. Nele, a honra é lavada com sangue e a desavença entre famílias leva a uma série interminável de assassinatos que num círculo vicioso, chega a dizimar a maior parte de seus membros, ficando de fora apenas as mulheres e crianças.

Aliás, a vingança converteu-se numa mercadoria sujeita até a cobrança de imposto. Portanto, por mais insano que pareça aos nossos olhos, "sangue dado, sangue tomado" também é uma operação financeira que sustenta o "Kanun", pune ou privilegia os cidadãos de acordo com as circunstâncias e interesses.

Ambientada por volta de 1930, esta história narra a trégua de um mês que Gjorg Berisha terá antes de ser executado pela família Kryegvq, após fuzilar o assassino de seu irmão. Será a quadragésima quinta morte de uma "vendeta" iniciada setenta anos antes por conta de um mal entendido. Nesse período, ele terá que cumprir uma série de obrigações, por exemplo, assistir ao funeral da vítima, para só depois poder ocupar o tempo que lhe resta como convier e ele decide rever as montanhas de Rrafsh.

Em paralelo, é retratada a viagem de núpcias do casal Vorps, Bessian e Diana. Ele é um jornalista da capital que escolheu esse inusitado roteiro para conhecer um pouco mais sobre o "Kanun" e ambos pagarão um alto tributo pela aventura.

No ano de 2001, essa história foi adaptada para o cinema, ambientada no sertão da Bahia, numa produção franco-suíça-brasileira, dirigida Walter Salles. Foi esse filme que projetou o ator Rodrigo Santoro no exterior.

Enfim, à sombra de uma região desolada, Kadaré narra com sensibilidade sobre "a insignificância da vida levada ao limite da compreensão humana".
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Julia Manjko 29/04/2023

Riqueza cultural para ampliar as visões de mundo
Passei a conhecer o Kanun a partir desse livro e fiquei muito curiosa para aprender mais, infelizmente não tem muito conteúdo sobre ele em português então vou ficar só na vontade mesmo.

Mas o livro já me apresentou bastante pontos de vistas diferentes sobre esse código de conduta e foi isso que eu mais gostei nele, você pode conhecer essa cultura de diversas maneiras.

No final senti que o livro já tinha me dito tudo o que queria e por isso as últimas páginas foram um pouco arrastadas.

Mas resumindo foi uma experiência muito rica e com uma escrita impressionantemente fluida.
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Leila 04/02/2023

Ler Abril despedaçado é mergulhar em outra cultura, é passear pelas külles da Albânia e tentar entender esse sistema estranho de vendetas do Kanun, algo tão peculiar e próprio deles, tentar entender essa moral e ética, esse costume tão entranhado que supera até mesmo as leis constitucionais. Sei que é surreal pensar em tantas mortes por vingança e honra, mas quando você lê faz um certo sentido, rs. Gostei demais, achei a obra um livraço, uma leitura fora da caixinha. E é aquilo, posso não concordar, posso não compreender, mas entender e respeitar é possível. Tentar acessar a mente das personagens e todas suas questões existenciais é o que há de mais rico nessa experiência de leitura. Não é um livro fácil de explicar, tampouco de sentir, mas só sei que é bom de ler e é uma obra fenomenal. Então, só vai!
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Aline 13/12/2013

Dureza, hein?
Sem dúvida, Ismail Kadaré é um ótimo escritor. Também devo reconhecer seu mérito pela pesquisa tão detalhada e pela riqueza do contexto.
O início e o fim do livro são realmente interessantes e marcantes, mas considerei o livro muito monótono. A leitura empaca na chatice do "o Kanun isso", "a vendeta aquilo", "o sangue de não sei quem" e blábláblá. Além disso, foi difícil aguentar o casal mais sem graça do mundo enfiado dentro de uma carruagem e conjecturando se beija, se pega na mão ou se avalia a tonalidade da tez.
Dureza, hein?
Eilex 20/05/2018minha estante
Concordo. Li inteiro. Foi extremamente maçante. Não gostei. Emprestei ele para um amigo e ele também não gostou.


Pri 16/01/2020minha estante
Concordo. Foi muito bem pesquisado, mas que livro chato!


Rebecca Karamazov 14/09/2020minha estante
Eu concordo tanto com sua resenha. Esse livro tinha um potencial muito maior do que foi desenvolvido.




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Tho 28/05/2020

Política Econômica da Morte
Tomei ciência do código de conduta das montanhas albanesas (Kanun) através do primeiro parágrafo do livro A Paisagem Moral de Sam Harris. O impacto daquele parágrafo fez com que buscasse mais obras que tratassem do Kanun. Encontrei Abril Despedaçado. Um livro curto e riquíssimo em detalhes sobre o código! O livro valeu muito a pena principalmente pelo primeiro e segundo capítulos (aqueles onde o Kanun é citado incessantemente). Logo após o término desses capítulos, a narrativa encontra personagens rasos em relações superficiais. O comportamento submisso de Diana me fez lembrar o de Mina no clássico Dracula de Bram Stoker. O arrogante Bessian também é um personagem indigesto.

Resumindo: acredito que aqueles que buscam conhecimento e curiosidades sobre o Kanun, irão se esbaldar com a riqueza de detalhes e a inacreditável porém real identidade do código. Àqueles que buscarem uma história com personagens interessantes, um enredo com emoções, devo alertá-los de que a obra deixa muito a desejar.

Para mim foi um grande enriquecimento cultural.
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Disotelo 18/10/2021

A Atrocidade Vista de Perto.
1-Enredo: Temos dois núcleos onde o enredo é desenvolvido. No primeiro somos apresentados a Gjorg, um jovem albanês que foi forçado a matar um rapaz de um clã rival sabendo que, muito provavelmente, esta ação lhe custará a vida.
No segundo núcleo conhecemos o casal Vorps, que está na Albânia, em lua de mel. Bessian e sua esposa Diana. Bessian é um escritor que tem como objeto o sistema de vendetas da Albânia e é convidado a visitar o "príncipe" da região devido ao seu discurso elogioso, que descreve as vendetas como "algo magnífico".
Os caminhos de Gjorg e do Casal Bessian se cruzam, o escritor e sua esposa entram em contato próximo com os homens marcados para a morte.


2-Avaliação

A- Acessibilidade: Leitura simples.
B-Conteúdo: Quando o escritor Bessian Vorps aparece na trama, elogiando o sistema de vendetas, eu subestimei o autor e pensei que ele estava extrapolando a ideia de tolerância cultural e forçando a barra pra relativizar o absurdo da matança de inocentes. O contraste entre o modo gentil como ele tratava a esposa e a apologia as vendetas me levou a sentir algum desprezo por ele, como se ele representasse todas estas pessoas que aparentem ser gentis no cotidiano, mas usam sistemas e ideias para defender atrocidades na dimensão social e política, creio que não faltam exemplos hoje em dia.
No final eu entendi como uma crítica a atitude romântica do escritor, de idealizar o sofrimento daqueles que estão lá longe, nas montanhas. Pensei também como uma crítica a manipulação cruel das tradições em favor dos interesses financeiros de uma pequena elite dirigente.
Se eu não tivesse interpretado assim eu teria ficado desapontado com o livro, mas cá estou eu dando cinco estrelinhas pra obra.
C-Trama: Não tem muita trama, o enredo prioriza a exposição crítica das tradições.
D-Intensidade: O começo, com Gjorg, é bastante empolgante, mas a história perde um pouco do vigor quando Bessian entra em cena.
E-Concisão: Bom.
F-Verossimilhança: Por mais que seja baseado em contexto real, é um pouco difícil manter a suspensão de descrença intacta, mas isso se deve ao absurdo inerente a vida e não a qualquer erro do autor.
G-Personalidade: Ok.

3-Recomendação: Não recomendo para amantes de enredos eletrizantes, cheios de plots, não é objetivo da obra, mas recomendo fortemente pra quem gosta de literatura crítica.
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Vanessa.Benko 05/02/2023

Vivos não passam de mortos de licença
Despedaçado certamente é o melhor adjetivo para o livro. Pedaços de histórias, pedaços de famílias e principalmente pedaços de vidas.
Foi um convite para conhecer melhor sobre a Albânia e sua história. Culturas e leis não escritas. Um senso de justiça que está entrincheirado em cada cidadão. Um código de honra que é considerado mais importante do que qualquer governo.
Gjorg parece alguém conformado com todo o código de honra do Kanun. Entende sua importância e principalmente seu papel na vendeta já tão antiga e um pouco inexplicável entre duas famílias. Direitos pré-estabelecidos e a necessidade de fazer justiça a vidas (ou seriam a mortes?).
Diana houve relatos e explicações de como funciona esse complexo sistema de vendeta. Sua lua de mel, que poderia ser sublime e sentimental, é corrompida pelas palavras e perspectivas externas do seu marido, o escritor Bessian. Seu marido o leva para conhecer pessoalmente esse intrigante novo mundo, que a assusta ao mesmo tempo que desperta a curiosidade.
Alguns personagens secundários ainda nos presenteiam com ainda outros pontos de vistas totalmente fora dos nossos padrões ocidentais. Viajamos nos detalhes do Kanun e no respeito mútuo.
Gjorg e Diana são de mundos opostos, mas com a mente ligada pela vida e seus inconsequentes significados. Um fio frágil de ter pela última vez uma visão – sem conseguirem entender exatamente o que buscam.
O Estado não é mais forte do que uma nação decidida a manter tradições que consideram justas. Não somos capazes de julga-los. Dentro de cada decisão, é um enorme respeito intrínseco que jamais conseguiremos entender. Quem somos nós para decidir o que é avançado ou atrasado? Para dizer o que funciona melhor para cada sociedade? Assim, é um livro que nos traz conhecimentos – mas a verdadeira reflexão de como pode-se aprimorar a prática da justiça cabe somente aos ali envolvidos.
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Laura 17/09/2023

Lindas metáforas
O livro tem uma narrativa base muito interessante, onde explora a vivência em um povoado albanês que vive seus dias a base de um livro de códigos muito específicos, o livro do sangue, da vingança e da morte. o autor faz um ótimo trabalho ao descrever o funcionamento do kanun pela perspectiva de quem "sofre" com o código, de quem estuda os código com base em um interesse quase místico e na perspectiva de quem trabalha para o funcionamento do kanun. o autor constrói a narrativa e o psicológico dos personagens com lindas metáforas, mas devo comentar que capítulos muito técnicos acabam sendo um tanto tediosos, de modo geral é uma boa leitura com uma grande lição e reflexão para o leitor
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Mylenna1 08/11/2023

A morte pela morte
Um livro sobre vendeta e costumes da Albânia. Foi louco conhecer essa tradição da rixa de sangue, que como manda o costume deve-se matar um homem da família rival sem fundamento algum, simplesmente para manter os hábitos multisseculares. Não gostei do romance, deixou muito a desejar.
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Suzana 13/05/2021

É tão bom quanto me disseram que era. Livro com narrativa incrível!

O filme que fizeram aqui no Brasil (com mesmo nome), e que é uma adaptação da história para o sertão nordestino não perde em nada para o livro tbm. Enfim, muito bom. Recomendo os dois, tanto o livro como o filme.
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Lurdes 08/04/2023

"Como imaginara centenas de vezes, antes de atirar Gjorg avisou o homem, conforme mandava o costume."
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A Albânia e seus códigos de conduta explodiram minha cabeça.
Em minhas andanças literárias buscando conhecer outros povos e culturas, nada me impactou tanto quanto o Kanun.

Kanun é um conjunto de leis tradicionais albanesas, que a população foi passando oralmente, de geração a geração, sem nem mais identificar a sua origem. Estas regras só foram publicadas na forma escrita no século XX e, apesar das tentativas de extingui-lo, algumas comunidades rurais ao Norte do pais ainda o seguem.
Este código contém regras sobre absolutamente tudo, desde punições a crimes, disputas territoriais, casamentos, heranças e, uma das mais polêmicas (abordada no livro), a autorização para vingar a morte de um familiar, matando um membro da família do assassino, a chamada vendeta.
Não é nem autorização, é uma determinação para que a vingança ocorra para dar paz ao familiar morto.

O livro conta a triste estória de Gjorg, que precisa vingar a morte do irmão.
Ele não é um assassino e jamais pensaria em tirar a vida de alguém se esta não fosse a determinação do Kanun.
Se não o fizer estará desonrando a si mesmo e à sua familia.
E, assim que cumprir a vendeta, ele próprio se tornará alvo da outra família.
É muito angustiante acompanharmos o seu desconsolo por ter de abrir mão de seu futuro, de sua vida, em nome de uma tradição tão cruel.
O que fazer com o tempo que lhe resta?
Gjorg possui exatos 30 dias de vida, prazo concedido pela bessa, antes de se tornar um alvo.
É possível viver de verdade em tão curto período? Dará tempo de conhecer o amor?
Me emocionei demais com a leitura que me provocou sentimentos muito contraditórios.

O tom profético, dramático e heróico tem ares de tragédia grega ou shakespereana onde não é possível fugir ao próprio destino

Um livro lindo, delicado, sensivel.
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