matty0 16/06/2024
Dorian Gay
Desde que me entendo por gente ouço falar de O retrato de Dorian Gray, portanto, criou-se no meu imaginário que o retrato, de fato, o quadro, seria de um grande marco nessa história. Um ícone, um elemento fundamental. Mero engano, o retrato serve apenas para nomear o livro ou criar uma estética nos filmes. Na obra em si, é um objeto sem graça, pouco explorado e quase, quase irrelevante. Mas tudo bem, pq esse não foi o estopim para decretar uma estrela para este livro. Há muito mais
No início, conhecemos os 3 personagens básicos, e seguimos com eles até o fim do livro; Dorian, Basil, e Henry/Harry (que por algum motivo tem 2 nomes). Cada um deles tem uma personalidade absolutamente distinta, na qual deveria ser trabalhada,
? como acredito ter sido parte do propósito do livro ? suas filosofias, essências, contradições e amarguras humanas, dando aos personagens tridimensionalidade e profundidade. Bom, isso não acontece na prática, e a trama, nos poucos capítulos que se desenrola, percorre um caminho de divagações absolutamente mal estruturadas, onde, em sua maioria, apresenta as convicções de Henry/Harry, postergando em capítulos longos, excessivamente descritivos, e ainda assim, totalmente vazios. Henry/Harry não se sustenta como personagem. Suas ações, embora más, são fracas. Suas teorias e opiniões são patéticas, fúteis, previsíveis e óbvias. Talvez na época do lançamento do livro isso realmente tenha sido algo revolucionário, e com certeza corajoso, mas...agora? Sério? Ele é medíocre, e não consegue ser minimamente interessante em sua mediocridade. Ok, Henry/Harry, vá tomar chá e falar mal de mulheres ou algo do tipo, é a maior distração de sua vida, não é?
Sua influência sobre Dorian não é instigante, uma vez que Dorian, quando está sozinho, não segura sua própria trama. Ele é um personagem tão apático e volúvel, que, repito; mesmo que tenha sido a intenção do autor ter essas contradições, NÃO funciona, pq Dorian não brilha de forma alguma, nem o mínimo para ser vilão, ou odioso, ou tão desgraçado que o tornaria cômico. Não, ele é apenas um personagem mal escrito. Há poucos personagens aqui, inclusive. Movimentação? Nenhuma. Há filosofia barata para encher linguiça, e um salto de DEZOITO ANOS totalmente descabido para acelerar a trama, que, ironicamente, acaba perdendo diversos elementos que seriam fundamentais para o enredo.
Dorian tem 20 anos, e no próximo capítulo tem 38. Nesse meio tempo, o retrato ficou guardado em seu sótão, suas relações não foram aprofundadas, sua personalidade não foi desenvolvida, suas ações não foram mostradas, a sociedade não foi explorada, sua vizinhança quase não é mencionada. O quão cegos todos deveriam ser para não notar, ou COMENTAR que Dorian não envelheceu nada em 18 anos? Cadê o impacto? O esforço? Não tem!
O fascínio de Henry/Harry por Dorian é tão absurdo, que provavelmente ilustra o fascínio do próprio autor por este personagem. E é aí que ele cai em seu próprio golpe; que é enaltece-lo excessivamente, mas em nenhum momento desenvolver isso para o leitor. Escritores, lembrem-se; o seu personagem só é importante para você, e você tem que ralar MUITO para torna-lo crivel e importante para o público também
O final, assim como todo o livro, é previsível, tedioso, e pior; apressado. Basil foi um personagem totalmente desperdiçado, assim como todo o potencial que esse livro PODERIA ter. Mas este, na verdade, este que efetivamente foi lançado, se parece com um rascunho inicial, um esboço ruim de algo que ele poderia ter sido, e não foi