Helder 12/04/2019Thriller nacional com muito orgulhoEste livro é mais um grande desafio que este autor nos traz.
A narrativa utilizada transformou o livro em um grande quebra cabeça.
Às vezes pensamos que algumas peças foram perdidas, mas no final o autor encaixa todas de maneira perfeita.
Ouso dizer que Victor Bonini é um autor abusado. Não contente em criar um livro de suspense cheio de reviravoltas, onde seu leitor é extremamente enganado, ele ainda resolveu desta vez criar uma narrativa muito diferente, que com a ajuda da sensacional edição da Faro Editorial cheia de fotos, recortes de jornal , e-mails, mapas e notas de rodapé, torna a leitura uma experiência ainda mais interessante, tanto que diversas vezes me perguntei se estava lendo um livro de ficção ou seguindo um documentário sobre um crime que aconteceu há alguns anos.
Como me desacostumei a ler jornal, ou porque esperava um romance policial como seus dois livros anteriores (Colega de Quarto e O Casamento), no inicio a narrativa para mim foi um pouco complexa. Os capítulos são curtos. O autor lapidou seu texto para ficar mais fluido. Com diversos cortes. É menos descritivo do que estamos habituados e talvez até um pouco rápido demais. Falando assim pode parecer que o texto é pobre, mas é o contrario disso. Imagino que Bonini tenha tido um grande trabalho para lapidar seu texto, tirando todos os excessos e ainda conseguindo encher o livro de informações que façam o leitor virar as paginas com grande curiosidade.
Bonini está em seu terceiro livro e já se mostra extremamente à vontade no oficio. Ele brinca com o leitor, nos dando informações à conta gotas, mas que vão aguçando o leitor.
Kika tem 16 anos, mas não levou uma vida fácil até aqui. Órfã de pai, criada pela mãe católica protetora, ela consegue bolsa em um colégio particular em Guarulhos, cidade periférica de São Paulo que aqui acaba sendo quase um personagem do livro.
Ela é extremamente bonita e está sempre cercada por meninos. Mas aquilo que deveria ser um dom acaba sendo um peso, pois sua beleza desperta raiva, inveja e ciúmes em muitas meninas, e ela acaba sofrendo bullying, em alguns casos de forma bem forte, como o que aconteceu na primeira vez em que ela quase morreu.
E agora, dois anos após aquela terrível experiência, algo aconteceu de novo: Kika desapareceu.
Ela desapareceu numa excursão escolar feita a uma fazenda. Nenhum amigo viu o que aconteceu, mas na hora de ir embora ela não apareceu no ônibus. Tudo leva a crer que foi um sequestro.
Isso aconteceu em 2010 e mas quem nos narra a estória agora em 2019 é Sandra, uma jornalista, que foi amiga de Kika na escola e resolveu escrever um livro quase documentário sobre aquela época.
Através dos capítulos curtos, o autor nos leva para diferentes tempos narrativos.
O livro vai relembrando a investigação policial, então durante os depoimentos das pessoas que conheceram Kika, o autor nos leva para a vida dos envolvidos antes do desaparecimento, para o dia da excursão e para os dias seguintes, onde todos seguiram perguntando: Cadê Kika?
A principio, para a policia aquele seria um caso fácil, mas o tempo vai passando, diversas pistas aparecendo, mas sempre levando a caminhos sem saída.
Nos depoimentos, muitas pessoas que a policia acreditava serem amigos de Kika, na verdade passam a impressão que ela merecia ter desaparecido.
Mas há uma pessoa, que a defende: Maria João, a sua mãe. Uma mulher católica pronta a dar a outra face, mas que nunca deixa de acreditar que sua filha está viva.
Mas quem era realmente Kika?
Pra nos responder estas perguntas, Sarah nos traz os depoimentos do pessoal da escola onde elas estudavam. Depoimentos que envolvem o diretor da escola, professoras, alunos e até seus pais. E a cada depoimento o autor vai retirando uma nova sujeira de debaixo do tapete, mostrando que o local não era habitado por anjos. Os personagens são muito bem criados, e através deles, Bonini vai discutindo muitos temas atuais, como o poder das Fake News, abuso, sexualidade e a imagem sendo mais importante do que a realidade.
Bonini faz com os leitores um efeito io-io. Ele vai soltando a linha e vamos seguindo, achando que vamos desvendar o mistério, porém quando ele nos traz a resposta para aquele mistério, que achávamos que era o objetivo do livro, ele cria outro, como se puxasse a linha de novo para começar um novo ciclo, e o ioiô volta a rodar nos mantendo presos a trama.
E a cada nova pista, mais ele nos atiça, principalmente quando cinicamente nos avisa que algo vai acontecer umas 15 paginas antes.
É incrível, mas Victor Bonini é tão talentoso que nos atiça com spoilers! E a gente curte e aplaude.
Muitas vezes ele já nos avisou o que vai acontecer, mas mesmo assim vamos até o ponto e ainda nos maravilhamos quando vemos a situação ocorrendo de verdade.
Desde o inicio nos parece que Kika está viva, mas isso só melhora a estória, pois Bonini toma folego em sua estória e segue em frente para uma nova reviravolta. Assim, quando você descobre quem é o sequestrador, você precisa descobrir quem é o vingador, e quando esse se denuncia, o autor nos mostra algo que um personagem escondia e novamente você fica feliz por ter entendido tudo, mas não se engane, estamos falando de Victor Bonini que só vai nos mostrar a realidade nas ultimas paginas, onde nos dá uma nova rasteira merecedora de aplausos, mas tudo com suas devidas explicações.
Quando Ela Desaparecer é mais um bom livro de suspense deste autor que já está na minha lista de favoritos. Se você curte thrillers, corra para ler este exemplar brazuca.
No final da leitura, a única pergunta que fica no ar é : Quando será o próximo lançamento deste autor?