spoiler visualizarUiara 25/03/2015
Decepção
Pelas resenhas que li aqui, quase todos adoraram o livro, então acredito que tenho algum problema, pois odiei.
Sobre o livro: apesar de o livro nos envolver, a ponto de ficarmos curiosos com o desfecho, e contextualizar o golpe de 64, não gostei do estilo de escrita do autor, cheio de intertextualidade, intercalando várias tramas durante a narrativa. Não explora em profundidade as outras personagens - não se sabe nada do que os outros são ou pensam - e não apresenta um desfecho satisfatório para várias tramas (como por exemplo o gordo Emecê: ele contratou o Aramel para se passar por ele e encontrar a Gabriela M., depois eles já aparecem como namorados e não se fala mais no Emecê). O que fascina, apesar de tudo, é a mistura de fatos reais com ficção, e ficamos na dúvida o tempo todo sobre o que aconteceu realmente.
Também acredito que o nome não devia ser Hilda Furacão, pois boa parte do livro foca na saga do autor como comunista e suas aventuras com mulheres várias, e quase nada se sabe do romance entre Hilda e Malthus, que imagino que deveria ser a trama central (em um baile de máscaras, o casal aparece se beijando no meio da festa, mas não se explica como chegou a esse ponto). Talvez eu seja um pouco romântica demais, pois gostei do suspense e o desencontro do casal, no final, mas me decepcionei com o fato de que eles nunca mais se encontraram.
Quando comecei a ler este livro, pesquisei sobre a verdadeira Hilda, que apareceu nos noticiários ano passado, e notei que a personagem era totalmente diferente da realidade. A Hilda da ficção era uma beldade da alta sociedade que enlouquecia os homens de Belo Horizonte, e que da noite para o dia resolveu se prostituir – e por isso o fascínio de todos, aumentado ainda mais pela série da Rede Globo (com a Hilda sendo eternizada na pele de Ana Paula Arósio) – enquanto a Hilda verdadeira era de origem humilde, nordestina de traços rudes, que provavelmente se prostituiu por necessidade, e pelas fotos que vi, não tinha nada de deslumbrante, uma prostituta comum (creio que o padrão de beleza da época era muito diferente do de hoje). Provavelmente o autor fez um mix com as personalidades das prostitutas de sua época, pois me parece que a verdadeira Hilda se encaixaria mais na personagem Maria Tomba Homem. O único elemento verdadeiro em tudo isso é que após abandonar o bordel, foi morar em Buenos Aires.
Em suma, pela primeira vez na vida, considerei que uma adaptação para a TV foi melhor do que a obra literária.