Rodrigo1001 14/01/2024
As Desventuras do Pulitzer (Sem Spoilers)
Título: As Desventuras de Arthur Less
Título original: Less
Autor: Andrew Sean Greer
Editora: Record
Número de páginas: 252
Vencedor do Pulitzer de Ficção de 2018, As Desventuras de Arthur Less convida o leitor para uma viagem turbulenta ao redor do mundo.
O autor, Andrew Greer, lança mão de um narrador onisciente, de linguagem descritiva, essencialmente bem-humorada, para transportar o leitor de um telhado de Paris para os camelos do Marrocos, da gélida Alemanha para a tórrida Índia, do topo de uma montanha no Japão para aeroportos solitários, evocando a sensação de viajar para melhorar a autodescoberta e perceber o quão sozinho, caro leitor, você está no mundo.
Isso tudo soa como um enredo super excitante, certo? Porém, assim como Arthur Less perdeu a floração da cerejeira no Japão, este livro errou um pouco o alvo.
Bem, essa é basicamente a história. Arthur Less procurando por si mesmo e examinando o que significa amar.
Como eu descreveria o livro? Excêntrico, charmoso, com várias camadas, lindamente escrito e até comovente.
Eu gostei? De alguma forma, sim.
Por que eu li esse livro? Eu queria experimentar por mim mesmo o que tornou Arthur Less tão notável a ponto de vencer o Pulitzer de ficção.
Por que? Porque desde que li o notável "Os Diários de Pedra", de Carol Shields - vencedor do Pulitzer em 1995, meu apetite por vencedores do Pulitzer só aumentou.
Contudo, não obstante, todavia, repito: este aqui ficou na coluna do meio.
Te explico!
Eu sei que Arthur Less é doce, interessante e bem escrito, mas, para um leitor comum como eu, é um livro um tanto anêmico. Sim, foi interessante e, novamente, muito bem escrito, mas eu adorei? Não. Acho que não. Não identifiquei o que o tornou tão digno do Pulitzer. Agradável, para mim, mas não excepcional. Talvez eu simplesmente não seja intelectual o suficiente para um livro que serpenteia excessivamente sem envolver meu coração da maneira que pensei que faria? Talvez.
O que eu posso te dizer é que, em alguns momentos, o livro me passou uma incômoda sensação de divagação autoindulgente. Lento de início, só foi a partir da metade que realmente comecei a ser fisgado pela história. O estilo de escrita é agradável, mas o personagem principal não é particularmente atraente e a história é sinuosa.
Além disso, a incômoda sensação de ter em mãos uma cópia do maravilhoso "Comer, Rezar e Amar" de Elizabeth Gilbert não me abandonou desde o início. O enredo é exatamente o mesmo, mas Elizabeth foi mais honesta do que Andrew em criar um livro sobre alguém que viaja em busca de si mesmo.
Dito isso e como um contraponto, foi fácil me identificar com Arthur Less e sua saga. Ao longo das mais de 40 voltas que eu mesmo já dei em torno do sol, houve alguns momentos em que vivi os mesmos dramas, as mesmas situações. Essa identificação com o protagonista ficou mais forte a partir da metade do livro, quando então adicionei uma estrela ao meu ranking de pontos basicamente pela graciosidade dos capítulos finais e pelo convite à uma maior introspecção, à densidade que faltou em toda a primeira parte.
Por fim, te deixo com duas perguntas e suas respetivas respostas:
Está à altura do Pulitzer? Creio que não.
Valeu a pena? Sim.
Leia. A viagem vai ser agradável, embora não memorável.
Frases interessantes:
"Bem sei que estou fora da sua vida / Mas no dia em que eu morrer / Sei que você vai chorar" (pg. 233)
"Tantas vezes a vida se faz pelo acaso" (pg. 245)