Aline Teodosio @leituras.da.aline 19/03/2021
Medo imortal é uma coletânea de contos macabros de autores da ABL, Academia Brasileira de Letras, escritos entre final século XIX e começo do século XX. Temos aqui textos de Machado de Assis, Álvares de Azevedo, Aluísio Azevedo, Fagundes Varela, Coelho Neto, dentre outros. Temos também, como reparação, seis contos incríveis de Júlia Lopes de Almeida, que não fez parte da ABL simplesmente por ser mulher.
Os contos são de uma riqueza de escrita impecável, e se engana quem pensa que por ser clássico ficou perdido no passado. Aqui podemos encontrar diversos paralelos com a atualidade e questões que discutam reflexões ainda hoje. Os autores nos jogam em diversos contextos, ambientes e realidades.
Por falar em realidade, o assombro mais intendo nesta coletânea não se refere a fantasmas do além. O medo nasce e cresce justamente daquilo que é palpável, que é real, que vem da alma humana. Mais do que o além-túmulo, o horror se faz presente nas perversões, nos delírios, nos desvarios, no machismo, na ira, na soberba, no fanatismo, nos preconceitos, a inveja, nas pestes e doenças, na fome, na crueldade de todas as formas.
Enfrentar o sobrenatural é, por vezes, mais fácil do que lidar com certas facetas humanas.
"O medo dos mortos, disse ele, não é uma fraqueza, é um insulto, uma perversidade do coração. Pela minha parte dou-me melhor com os defuntos do que com os vivos." (Machado de Assis).