Laços de Família

Laços de Família Clarice Lispector




Resenhas - Laços De Família


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cfsardinha 14/07/2011

Calma! Não tem nada a ver com a novela de Manoel Carlos :P
São 13 contos centrados na temática "laços de família", ou seja, sua prisão doméstica, de seu cotidiano.
Mostra as formas convencionais e estereotipadas que se repetem de geração para geração. Fala da classe média carioca, mostrando uma visão decadente dos liames familiares, dos "laços" de convenção e interesse que minam a precária união familiar.
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Kamila 08/04/2013

O que “Laços de Família” nos mostra é que a vida, até mesmo quando ela se revela normal - seja num almoço de aniversário, numa viagem de bondinho, numa mudança da família, numa visita a alguém amigo ou na tomada de decisão para o que comer no almoço, etc. -, não tem nada de comum. A vida é sempre surpreendente. Basta que estejamos abertos ao que ela quer nos mostrar. E é justamente essa a maior dificuldade: estar aberto à vida e àquilo que ela quer nos fazer entender e apreender. E, de uma certa forma, este também é um tema recorrente da literatura de Clarice Lispector.
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Fulana Leitora 23/04/2013

http://fulanaleitora.blogspot.com.br/2012/08/resenha-lacos-de-familia-de-clarice.html
Em Laços de Família, Clarice Lispector nos apresenta treze contos: Devaneio e Embriaguez duma Rapariga, Amor, Uma Galinha, A Imitação da Rosa, Feliz Aniversário, A Menor Mulher do Mundo, O Jantar, Preciosidade, Os Laços de Família, Começos de Uma Fortuna, Mistério em São Cristóvão, O Crime do Professor de Matemática e O Búfalo.

Contos que nos revelam a essência do ser humano, suas dúvidas, medos, ambições, anseios, limitações, segredos... Clarice, nesses contos, nos mostra o que há de mais íntimo no ser humano. E tudo pelos meios mais corriqueiros e banais. Através dos atos mais comuns, das palavras mais faladas. Do ir ao mercado a sair para jantar. Do preparo da comida ao limpar da casa. Clarice nos mostra que tudo que fazemos e falamos esta impregnado pela nossa essência, mas, estamos sempre com muita pressa para parar e perceber essas sutilezas.

Como sempre, a escrita de Clarice nos leva a reflexão. O que há por trás das palavras? O que há por trás desse gesto? E desse sorriso?... Após essa leitura você se vê mais suscetível a perceber essas pequenas coisas. A se questionar, a se interessar pelo comum, corriqueiro, pelo cotidiano; que está repleto de sentimentos e carregado de emoções prontas a serem desvendadas.

“Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.”
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Firmino 20/06/2011

o simples
sim o simples. Clarice lispector transforma o simples em algo profundo com uma complexidade incrivel!! é exatamente por isso que a tenho como uma das minhas escritoras brasileiras prediletas. ela não precisa do exagero, do inexistente, pra criar uma boa historia. ela simplismente transfigura um simples dia a dia, uma simples conversa, um simples encontro ou até mesmo um simples jantar em algo bastante significativo e repleto de sentimentos
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Pam 10/04/2011

Clarice é irritantemente perfeita.
Como é que ela conseguiu fazer contos tão perfeitos como Feliz Aniversário e Amor?
Pergunta sem resposta.
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Liz 19/11/2011

Desafio literário 2011 - Novembro - Contos - resenha 2
Mais um livro que foi lido para a escola. Eu não costumo gostar muito dos livros que leio por obrigação, mas esse foi uma boa surpresa. Achei que merecesse uma resenha mesmo não o lendo inteiro.

“Laços de família” nada tem a ver com a novela (como alguns colegas meus pensaram). É uma coletânea de contos escritos por Clarice Lispector. No começo achei que não iria gostar pois, apesar de o livro ser bem curtinho, a leitura é cansativa para quem não gosta ou não está acostumado com o estilo da autora. Nos seus contos a ação é meio escassa; o que realmente importa é o desenvolvimento dos personagens, estupidamente profundos. Acrescentando as metáforas que aparecem em todo o lugar, a leitura só fica mais densa ainda, além de demorada, já que é necessário ler os contos mais de uma vez para entendê-lo por completo, ou às vezes, nem isso.

Bom, apesar de ter sido uma leitura cansativa, gostei dos contos que eu li. “A imitação da rosa” e “Preciosidade” foram alguns dos quais eu mais gostei, mas o melhor conto foi, de longe, “Feliz aniversário”, que fala sobre a falsidade das pessoas e situações familiares obrigatórias. Eu simplesmente amei esse conto, e tenho certeza de ter sido por viver a situação nele retratada constantemente. Em algumas passagens, fiquei até envergonhada. Clarice conseguiu forçar-me a ver várias coisas dentro de mim que eu costumava ignorar, e isso não me acontecia há muito tempo.

“O búfalo” e “Devaneio e embriaguez duma rapariga” não foram lidos por pura preguiça, mas pretendo lê-los quando amadurecer mais, assim como os outros livros da autora - fiquei louca para ler alguns como “A paixão segundo G.H.” . Espero estar pronta logo.

Recomendo esse livro para pessoas pacientes, que gostam de leituras densas, que mostram a verdade nua e crua da vida e das pessoas.
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Bia 20/03/2015

Laços de Família
O primeiro conto do livro é intitulado por “Desvaneio e Embriaguez duma rapariga”, narra a historia de uma dona de casa que cuida dos filhos e do marido com delicadeza e prontidão. Certo dia ela se sentia mal, por isso passou muito tempo deitada, ao se levantar, saiu com o seu marido pra um jantar, com alguns negociantes. Ela acabou se embriagando e falando demais, ao retornar para casa, ela reflete em tudo que falou, e que depois de um longo descanso voltaria às atividades normais.
O segundo conto do livro, com o nome bastante sugestivo é “Amor”, esse sentimento é dado como uma espécie de compaixão, que Ana, uma mulher de vida pacata, sente ao ver um cego mascando chiclete. Diante do fato ela medita e começa a ver a vida com outros olhos, ela caba perdendo seu ponto no bonde e desce no Jardim botânico, o que faz refletir mais. Ao chegar em casa, ela dar mais atenção a sua família, percebendo que o pouco que ela tem, para outras pessoas é muito.
“Uma galinha” é terceiro conto do livro, relata uma história em que a personagem principal é uma galinha. Certo dia uma família resolve mata-la para o almoço, porem ela acaba fugindo. O chef da família sai em busca da mesma, que na agonia da situação, acaba botando um ovo. A filha acaba criando um carinho pela galinha, e implora para que não a matem. Por anos a galinha é tratada como alguém da família, ate que é esquecida e acaba virando almoço.
O sétimo conto do livro é “O jantar”. A história se passa em um restaurante, quando um homem observa um velho, que para ele é desconhecido, comer de forma brusca e dura. O homem deixa por se abalar, principalmente ao ver o velho chorando. O homem vigia tudo que o velho faz, ate que o velho paga a conta e deixa o estabelecimento, porem o homem permanece ali, refletindo.
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Cláudia Matta 25/04/2014

Profundezas da alma
Laços de família é um livro complexo, em que a autora Clarice Lispector, descreve situações do cotidiano de maneira inusitada. O livro possui alguns contos bem difíceis de serem interpretados. Parece que a autora nos coloca em um labirinto, nos deixa pedidos tentando encontrar uma saída para o entendimento de seu conto. Em seus textos, ela tenta desvendar as profundezas da alma humana.
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Nelson 30/06/2014

UMA OBRA MAJESTOSA SOBRE A REDEFINIÇÃO DO AMOR.
Os laços de família são relações de amor entre diferentes pessoas, porém, o que é amor afinal? Diferentemente do que se profere normalmente, o amor é muito mais que afeto, envolve também responsabilidade e abnegação, que acarretam o aprisionamento. A obra de Clarice Lispector redefine o significado de amor, esse sentimento tão em voga é muito mais complexo, magnífico e amedrontador do que se imagina.

Abaixo estará a análise sintetizada dos 13 contos da obra, porém, arrisco-me a dizer que os contos “Amor” e “Feliz aniversário” são – de longe – os melhores contos do livro, com “Uma galinha”, “Os laços de família” e “O crime do professor de matemática” empatados em terceiro lugar.

1º conto – Devaneio e embriaguez duma rapariga: o conto tem como personagem central uma portuguesa, de fato, Lispector usa lusitanismos na escrita do fluxo de consciência da protagonista. Neste conto, a protagonista está entediada de sua vida de clássica dona de casa e mãe de família, o tédio então se classifica como parte do amor já que procede do comprometimento. Após ficar presa à cama por muito tempo, à noite, a portuguesa e o esposo vão a um restaurante para jantar com um rico comerciante. Neste jantar, ela se embriaga e isso acaba por fazê-la fugir da mesmice do cotidiano. Mas a alegria da portuguesa chega a ser ameaçada quando uma loira com um padrão de beleza mais elegante e portadora de um belíssimo chapéu chega ao restaurante. Porém, o triunfo da protagonista chega quando ela percebe que a loira possui uma cintura tão fina que é impossibilitada de parir, não podendo cumprir com seu papel feminino. Em casa – ainda sobre os efeitos da bebida – a portuguesa chega à epifania: ela se sente bem sendo esposa e mãe de família, então decide por sua casa nos eixos e assume suntuosamente seu papel. NOTA: 4 estrelas.

“AI QUE SE SENTIA TÃO BEM, TÃO ÁSPERA, COMO SE AINDA ESTIVESSE A TER LEITE NAS MAMAS, TÃO FORTE”.

2º conto – Amor: de fato, o melhor conto da obra em minha opinião. Ana é a pura representação da abnegação e dos sacrifícios de uma mãe por sua família durante a época em que o machismo ainda era intenso e também hoje em dia. Os valores se desenvolveram – felizmente –, mas as mães – e pais – ainda amam suas famílias. Durante a volta das compras para casa por bonde, Ana avista um cego mascando chicletes, esse acontecimento aparentemente desprezível acaba por abalar a vida insossa e rotineira da personagem, tornando-a livre. Logo após, o bonde dá um tranco e provoca a queda das compras – entre elas, os ovos (símbolo da vida e da maternidade) se racham, simbolizando que a quebra dos laços de família traria maior liberdade à protagonista –, o tranco simboliza a vida de Ana, que tinha sido abalada. Desestabilizada, Ana acaba por descer no ponto errado. Dirige-se ao Jardim Botânico – local de sua epifania –, ela observa as árvores e vê que ao mesmo tempo que produzem frutos e flores, também possuem parasitas – uma representação de sua própria vida e de sua condição feminina. Após se emocionar intensamente, Ana corre para casa. Lá ocorre uma inversão de valores, sua vida – considerada normal – torna-se uma verdadeira insanidade. Por fim, num ato de abnegação, Ana opta por desistir da grande liberdade promovida pelo cego mascando chicletes. Ela ama sua família, mas agora, os ama com certo nojo. NOTA: 5 estrelas – essa obra brutal e implacável, mas belíssima merecia ainda mais!

“O QUE O CEGO DESENCADEARA CABERIA NOS SEUS DIAS? QUANTOS ANOS LEVARIA ATÉ ENVELHECER DE NOVO? QUALQUER MOVIMENTO SEU E PISARIA NUMA DAS CRIANÇAS. MAS COM UMA MALDADE DE AMANTE, PARECIA ACEITAR QUE DA FLOR SAÍSSE O MOSQUITO, QUE AS VITÓRIAS-RÉGIAS BOIASSEM NO ESCURO DO LAGO”.

3º conto – Uma galinha: o conto levanta a seguinte questão, em meio a tantas – iguais e inexpressíveis – galinhas, o que faz de cada galinha um ser? Isso pode ser interpretado como uma crítica à situação – felizmente, cada vez mais rara – submissa e inexpressiva – não aparentemente igual como as galinhas, mas com destinos possivelmente iguais – de muitas donas de casa, fadadas a serem “consumidas” e desgastadas cada vez mais e mais pela sua família, a quem dedicam seu amor. O menor conto do livro apresenta ao leitor a história de uma galinha, comprada com objetivo de ser a refeição da família. Mas ela consegue escapar num voo desajeitado e em sua luta instintiva pela vida, ela é perseguida pelo chefe da família através dos telhados da vizinhança, até que é capturada e levada de volta para o lar opressor. Estressada, a ave acaba por botar um ovo e em meio desse ato tão sagrado – a maternidade – ocorre uma quebra do cotidiano e os sentimentos das pessoas da família acabam por mudar, a galinha torna-se o xodó da casa. Mas após passar-se um certo tempo e a beleza de sua feminilidade – associada à maternidade – também enfraquecer, os membros da família esquecem de seus sentimentos e a galinha torna-se refeição. Admito, que num ato de hipocrisia – afinal, também como carne de galinha – fiquei chateado com o fim da protagonista. NOTA: 5 estrelas.

“QUE É QUE HAVIA NAS SUAS VÍSCERAS QUE FAZIA DELA UM SER?”.

4º conto – A imitação da rosa: nesse conto, a personagem central é Laura, que voltou recentemente do hospital no qual tinha sido internada. Enquanto espera a chegada do marido em casa, Laura se prepara para ir jantar com ele e com amigos – Carlota e o marido. Percebe-se que Laura é uma mulher muito insegura e tenta ser a “esposa ideal”: submissa e discreta. Além disso, é adepta ao perfeccionismo. Após tirar um cochilo, acaba por fitar as pequenas rosas que comprara na feira e então decide manda-las para Carlota pela empregada. Mas depois disso ocorre um conflito na consciência de Laura. Por que as rosas a ameaçavam? Por que não poderia ter para si algo tão bonito e perfeito como aquelas rosas? Esses pensamentos de Laura – seu anseio por romper com a ideologia preconceituosa da época – acabam por se digladiarem com o seu desejo de ser a “esposa ideal” para Armando. Por fim, o medo e a insegurança que ela sentia de perder Armando – caso ela se tornasse independente do mesmo – acaba por vencer o anseio por independência e ao menos um pouco de egoísmo. NOTA: 5 estrelas.

“OLHOU-AS COM INCREDULIDADE: ERAM LINDAS E ERAM SUAS”.

5º conto – Feliz aniversário: com certeza é o mais voraz dos contos de Lispector. O conto retrata o octogésimo-nono aniversário de D. Anita. Ao longo da história, percebe-se que a grande maioria – ou talvez todos – os parentes da velha estão ali cumprindo um dever, poucos – ou talvez nenhum – ainda possuem um relacionamento emotivo com a matriarca ou até mesmo com algum outro membro da “família”. Os laços de família entre essas pessoas se esmigalharam e foram substituídos pela hipocrisia, até mesmo Zilda – a filha com quem D. Anita mora – detesta a ideia de fazer a festinha em sua casa e – assim como os outros – trata a protagonista como um grande empecilho. Em seu fluxo de consciência, D. Anita – que provavelmente já tinha notado a quebra dos laços de família há anos – reflete sobre seus filhos e outros descendentes que segundo ela não passavam de carne de seu joelho, apenas Rodrigo – um neto – seria carne de seu coração, então velha cospe no chão num gesto de asco por seus familiares. Por fim, o filho mais velho, José – que seria o responsável por fazer um discurso em homenagem a mãe – não sabe o que discursar, ele então diz: “Até o ano que vem!”. Após utilizar essa “sacada genial” para driblar o constrangimento, José e os outros membros da família não sabem nem ao menos o que dizer uns aos outros, nem mesmo um “boa noite”. Enquanto isso, D. Anita continua sentada na cabeceira da mesa, pensando. NOTA: 5 estrelas – outro conto merecedor de uma nota maior.

“O TRONCO FORA BOM. MAS DERA AQUELES AZEDOS E INFELIZES FRUTOS, SEM CAPACIDADE SEQUER PARA UMA BOA ALEGRIA. COMO PUDERA ELA DAR À LUZ AQUELES SERES RISONHOS, FRACOS, SEM AUSTERIDADE?”.

6º conto – A menor mulher do mundo: narra a descoberta – pelo francês Marcel Pretre – da menor mulher do mundo, que seria de uma tribo de africanos pigmeus, os Likoualas – aliás, ela estava grávida. Depois de sua imagem ser publicada em vários jornais do mundo, é narrado o desejo de proteger aquela “criaturinha selvagem” que muitas pessoas tinham por Pequena Flor – o nome dado por Marcel Pretre à pigmeia. Esse anseio pode ser explicado pelo fato de seres e objetos pequenos – como Pequena Flor – serem normalmente ligados à fragilidade – afinal, todos amam um cachorro ou um bebê pequeno e fofinho –, a fragilidade acarreta os sentimentos de proteger e possuir – ambos, ingredientes do amor. As pessoas possuem uma necessidade voraz de amar e de possuir. No fim, descobre-se que caso Pequena Flor pudesse falar a língua de Marcel Pretre, diria que ela amava o explorador, mas também amava seu anel e sua bota. Em meio a tantos perigos, o que importava era não ser comida, era viver, amar e – consequentemente – possuir. NOTA: 5 estrelas.

“... ERA MUITO BOM TER UMA ÁRVORE PARA MORAR, SUA, SUA MESMO, POIS É BOM POSSUIR, É BOM POSSUIR, É BOM POSSUIR".

7º conto – O jantar: neste conto, um idoso – provavelmente um senhor de posses – chega em um restaurante e se comporta de forma imponente e rude, comendo vorazmente os alimentos entregues pelo garçom – também no restaurante, o narrador observa o idoso. Apesar de parecer ser um homem importante e forte, o idoso também aparentava possuir enormes problemas – provavelmente familiares ou financeiros – e tenta esconder isso, já que a sociedade exigia – e ainda exige – que os homens sejam sempre fortes e que escondam suas fraquezas e sentimentos considerados majoritariamente femininos como a sensibilidade. Após o idoso pagar a conta e sair do restaurante, o narrador – que é de uma geração posterior e mais esclarecida que a do velho – conclui que ele não precisava ser como o velho para ser um homem. NOTA: 5 estrelas.

“MAS EU SOU UM HOMEM AINDA. QUANDO ME TRAÍRAM OU ASSASSINARAM, QUANDO ALGUÉM FOI EMBORA PARA SEMPRE, OU PERDI O QUE MELHOR ME RESTAVA, E QUANDO SOUBE QUE VOU MORRER – EU NÃO COMO. NÃO SOU AINDA ESTA POTÊNCIA, ESTA CONSTRUÇÃO, ESTA RUÍNA. EMPURRO O PRATO, REJEITO A CARNE E SEU SANGUE”.

8º conto – Preciosidade: retrata uma parte da vida de uma garota de 15 anos, que apesar de feia e desinteressante, ainda prezava sua única preciosidade – uma clara alusão à virgindade. Com finalidade de preservar sua preciosidade, a jovem tenta não chamar atenção do sexo masculino – até mesmo pensamentos poderiam denigririam sua preciosidade –, mas seus sapatos faziam barulhos altos enquanto andava, isso a incomodava. Até que um dia, ela é estuprada enquanto vai para escola – ela tinha saído cedo demais, não tinha ninguém na rua, só ela e dois homens. A protagonista fica em estado de choque, vai para escola e depois para casa – aparentemente, até aquele momento, ela ainda não tinha “computado” o que havia acontecido. Ao chegar em casa, ela pede sapatos novos, segundo ela, seus sapatos velhos e barulhentos não eram ideais para uma mulher. NOTA: 4 estrelas.

“MAS POR DENTRO DA MAGREZA, A VASTIDÃO QUASE MAJESTOSA EM QUE SE MOVIA COMO DENTRO DE UMA MEDITAÇÃO. E DENTRO DA NEBULOSIDADE ALGO PRECIOSO”.

9º conto – Os laços de família: Catarina e sua mãe, Severina, estavam indo para a estação de trem, onde a senhora se despediria da filha após passar duas semanas na casa de Catarina. Catarina se lembra do quão desconfortável estava com a visita da mãe, Severina e o genro não se suportavam, mas na partida tornaram-se delicados e gentis um com o outro, Catarina ria pelos olhos. Uma freada do táxi acaba por jogar as mulheres uma contra a outra, isso se torna uma catástrofe, aquela intimidade entre seus corpos já tinha sido esquecida. Os laços de família estavam desgastados, o tempo e a distância entre as duas enfraqueceram a relação entre mãe e filha. Logo após, elas evitaram se olhar. Já dentro do trem, Severina não sabia o que dizer a filha e vice-versa, até que a campainha da estação toca, elas se assustaram e começaram a chamar uma pela outra, como se elas tivessem esquecido de dizer algo como: “sou tua mãe, Catarina. E ela deveria ter respondido: e eu sou tua filha”, mas não disseram nada. Ao chegar em casa, Catarina vê o filho e procurando chamar a atenção dele, a mãe sacudiu uma toalha na sua frente. Foi quando, pela primeira vez, o menino lhe disse: 'Mamãe', sem nada pedir, e num tom diferente do que usava antes. Catarina ri – seu corpo todo, não apenas seus olhos, as janelas da alma – e decide passear com o filho, deixando o marido sem saber onde iam. Em seguida, ele – chateado em ser excluído – decide levar a esposa e o filho ao cinema depois do jantar. Os laços de família entre pais e filhos podem se desgastar com facilidade, o tempo e a distância podem tornar um pai/mãe e filho(s)/filha(s) completos desconhecidos. NOTA: 5 estrelas.

“QUE COISA TINHAM ESQUECIDO DE DIZER UMA A OUTRA? E AGORA ERA TARDE DEMAIS. PARECIA-LHE QUE UM DIA DEVERIAM TER DITO ASSIM: SOU TUA MÃE, CATARINA. E ELA DEVERIA TER RESPONDIDO: E EU SOU TUA FILHA”.

10º conto – Começos de uma fortuna: Artur é um adolescente obcecado por dinheiro, ao longo da narrativa percebe-se que ele começa a aprender as manhas da vida e das pessoas. Enquanto Artur começa a conhecer o “mundo adulto”, nota-se também a situação dramática das mais clássicas donas de casa – no caso, a mãe de Artur – associada apenas a procriação e ao trabalho doméstico, sem entender nada que não tenha relação com panelas e um fogão. NOTA: 3 estrelas – de fato, devo admitir que (em comparação aos demais) este conto é um tanto dispensável em minha opinião.

"... E ENTÃO, PELO VISTO, LOGO QUE ALGUÉM TEM DINHEIRO APARECEM OS OUTROS QUERENDO APLICÁ-LO, EXPLICANDO COMO SE PERDE DINHEIRO".

11º conto – Mistério em São Cristóvão: numa noite, uma família deleita de sua abastança, a única infeliz é a moça. Após irem dormir, três homens fantasiados – um galo, um touro e um cavalheiro diabólico – apreciam o belo jardim da casa. Invadem-no para colher um jacinto – a flor dos prazeres da existência. Os três fantasiados representam animais e um cavalheiro diabólico, seres dotados do coração selvagem que contraria a abastança – que contraria também a própria vida, afinal, a vida é um desequilíbrio. Porém, o jacinto não chega a ser colhido, já que a moça aparece na janela e ela e os fantasiados se entreolham. A ação dos representantes do coração selvagem desestabiliza a família, a moça grita e os fantasiados fogem para a festa à fantasia que os esperava. A ex-abastada família chega à conclusão que a moça falava a verdade, já que o talo do jacinto estava quebrado. A partir daí, todos se esforçam para reconquistar o equilíbrio em suas vidas, menos a moça, cuja infelicidade causada pelo tédio da abastança fora substituído por cabelos brancos. Assim como em “Os laços de família” e “Amor”, a freada do taxi e o arrancada do bonde representam a tomada de consciência, o grito da protagonista quebra a monotonia que a família vivenciava. NOTA: 5 estrelas.

“UM GALO, UM TOURO, UM DEMÔNIO E UM ROSTO DE MOÇA HAVIAM DESATADO A MARAVILHA DO JARDIM...”.

12º conto – O crime do professor de matemática: um dos três contos protagonizados por homens, sendo este o melhor deles em minha opinião. Um professor de matemática – símbolo da frieza – encontra um cachorro morto em uma rua, decide então enterrar o cão como penitência por ter abandonado José – seu verdadeira cão – em uma outra cidade. Após enterrá-lo, o protagonista começa a pensar em José, desde filhote, ele e o professor de matemática se davam muito bem e brincavam juntos, mas a única exigência do cachorro incomodava o dono: José exigia de si mesmo que ele fosse um cão, e do professor que ele fosse um homem. Em lucidez, o professor conclui que trair o sentimento de confiança – outra parte da composição do amor – de um cão seria um crime menor – daí sua frieza – e acreditou que ninguém o condenaria ao Inferno por causa disso. Até que – em um clareamento de sua mente – ele percebe que José desejaria muito mais que uma mentira, desejaria que o professor cumprisse seu papel como homem e principalmente como humano assumindo seu crime. E então o protagonista desenterra o cadáver canino e desce a colina que tinha subido para sigilar seu crime contra os sentimentos de um cão, José. NOTA: 5 estrelas.

“DE SI MESMO, EXIGIAS QUE FOSSE UM CÃO. DE MIM, EXIGIAS QUE EU FOSSE UM HOMEM”.

13º conto – O búfalo: o último conto desta magnífica obra conta a história de uma mulher rejeitada no amar, que busca no Jardim Zoológico aprender a odiar com auxílio das feras, porém, é primavera e as feras selvagens tornaram-se amantes dedicados. Tanto leões, como macacos, hipopótamos, elefantes e camelos não conseguem guiar a fêmea rejeitada pelos caminhos do ódio. Durante a leitura, percebe-se que a personagem se sente aprisionada – e os animais é que estão a observá-la por detrás das grades –, isso é uma clara alusão ao seu amor, ela se sente presa por ele. Após não conseguir achar a carnificina que procurava nos animais, a protagonista vai para a fila da montanha-russa do pequeno Parque de Diversões do zoológico. Na montanha-russa, a brutalidade do brinquedo faz com que a personagem passe por um situação semelhante a Ana de “Amor”, a Catarina de “Os laços de família” e a mocinha de “Mistério em São Cristóvão”. Ao voltar a ala de exposição de animais do Jardim Zoológico, ela se depara com o quati, ela estava completamente ciente de sua própria situação – sua sede por ódio, movida pelo amor rejeitado. Mas ela não pode e não consegue odiar o ingênuo quati, ela desvia seus olhos do mamífero curioso. Até que ela se depara com o grande búfalo – símbolo de masculinidade e virilidade –, ele estava de costas para ela, ele a ignorava assim como seu amor. Ela chamou a atenção do búfalo, jogou uma pedra em seu terreiro. O búfalo se voltou para ela e caminhou em sua direção, ela amava o búfalo, mas tinha finalmente chegado ao ódio. NOTA: 5 estrelas.

“ONDE APRENDER A ODIAR PARA NÃO MORRER DE AMOR?”.

Clarice Lispector era fenomenal, uma verdadeira interprete dos sentimentos mais profundos e da essência humana. E o mais fascinante é que esta escritora fenomenal faz parte de nossa abundante e incrível literatura.
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Helena Frenzel 25/07/2014

Quem ainda não leu nada de Clarice poderia começar, talvez, por esta coletânea. Adorei!
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igor 20/08/2014

Incomparável Clarice
Segundo livro que leio da Clarice, e meu primeiro livro de contos dela. Clarice é um caso a parte. Me inicie em sua obra com o romance de estreia, Perto do Coração Selvagem, mas recomendo a quem quer se aventurar no universo clariciano, comece pelos contos. Aquele livro é um choque. Com esse não é diferente, mas pelo menos com os contos dá pra dar uma respirada. A coisa com Clarice é que ela tem um estilo que até então me era inédito e, sinceramente, incopiável, que mistura a ação da historia com o pensamento do personagem numa espécie de epifania, numa conexão sincronizada que às vezes soa desconexa. Só depois descobri que essa técnica é chamada de fluxo de consciência, a qual Clarice é mestra. Os contos desse livro são fortes. Não tem como você se identificar, afeiçoar ou, na maioria das vezes, se incomodar com o que se lê aqui. Mas voltando à forma estilística da Clarice, apesar da dificuldade de acompanhar a narração em alguns momentos, concordo com o critério que a própria decretou para o entendimento de suas obras. É bem simples: não é questão de inteligência, ou toca ou não toca.

A mim tocou.

http://igorleoncosta.blogspot.com.br/
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Gabriel 27/08/2014

Excelentes contos!
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Thay 05/12/2014

O livro de 135 páginas, Laços de Família, da Clarice Lispector, apresenta uma coletânea de 13 contos da autora, sendo: Devaneio e embriaguez de uma rapariga; Amor; Uma galinha; A imitação da rosa; Feliz Aniversário; A menor mulher do mundo; O Jantar; Preciosidade; Os Laços de Família; Começos de uma fortuna; Mistério em São Cristóvão; O crime do professor de Matemática; O Búfalo.
Com exceção do conto O Jantar, que é escrito em primeira pessoa, todos os outros doze são escritos em terceira pessoa. Além disso, Clarice Lispector utilizou de forma relevante a imagem da mulher na sociedade, visto que, na maioria das vezes, a mulher era a personagem principal da narrativa.
Em geral, o livro trata-se de momentos familiares, suas relações e problemas. Em todos os contos, você se sente dentro da história, conseguindo sentir a tristeza, a angústia e o medo de cada personagem.
Um aspecto que se pode perceber na maioria dos contos, é o fato de sempre haver famílias que convivem bem às vistas do público, mas não têm compaixão uns pelos outros, como no conto Feliz Aniversário, quando, logo no começo do conto, retrata-se as vestimentas da família chegando à festa, mas que não se arrumaram para o aniversário, mas sim para passear em Copacabana, mostrando que a família foi ao aniversário apenas para que os outros vessem que estavam presentes, não porque queriam estar lá.
A autora consegue fazer de simples momentos, grandes histórias. Mostrando cada detalhe que, normalmente, todos deixam passar despercebidos na correria do dia a dia.
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