spoiler visualizarBianca 04/03/2024
Hamlet: Uma Odisséia de humor e reflexão
Um verdadeiro fidalgo, cheio de excelentes predicados, de agradável convívio e elegante aparência. Realmente, falando dele com o conhecimento de seus méritos, ele é um modelo de cortesia, pois nele se acham todas as virtudes que um livro pode ter (Hamlet, ato V cena II). O enaltecimento que Osric faz de Laertes se relaciona honrosamente com o que achei de ?Hamlet?. Em princípio, eu já sabia que teria uma experiência literária diferente de qualquer outra que havia tido anteriormente, principalmente por ser uma obra escrita como roteiro de peça teatral. Contudo, o que eu não esperava, era me divertir e conectar tanto com um personagem escrito há cerca de quatro séculos atrás, que é responsável por uma sequência de mortes trágicas, incluindo a sua própria.
Certamente, uma das maiores qualidades de ?Hamlet? é o quão destoante o personagem principal é dos demais. Seu tom de ironia e sarcasmo em momentos inoportunos, tornam a tragédia dramática, leve e envolvente, que apesar de em cada página me apresentar uma palavra que eu não conhecia antes, me fez querer continuar a descobrir até onde Hamlet iria com sua ideia de vingança, e sua relação com os que viviam a sua volta. Entretanto, esse senso de humor não é único do personagem principal, e esse fator é o que dá espaço para uma das melhores cenas do livro em minha opinião, a cena I no ato V, com os coveiros.
É nesta cena, o único momento da obra, em que Hamlet fala com alguém que não sabe quem ele é, e nem sua posição de príncipe, o que dá liberdade ao coveiro em sua ignorância de ser honesto, desafiando o único senso de humor do livro até então. Esse encontro é para mim uma das partes mais divertidas e agradáveis da obra, pois além de uma conversa engraçada, contém no seu final um monólogo profundo e reflexivo de Hamlet sobre a vida e seus valores após a morte.
Diante disso, quem dera eu pudesse julgar ele ao tratar assuntos tão sérios e tomar decisões irreversíveis com humor e graça, quando é nisto que Hamlet mais se relaciona comigo e que eu mais o invejo, por conseguir fazer com tanta frequência, ao redor de todos que conhece, o que quase ninguém consegue: ser ele mesmo. Ao tratar as complexidades da vida com deboche, e as pessoas com quem convive com veracidade, faz parecer que os últimos momentos de sua vida foram bem vividos. Admiro muito mais sua coragem em ser honesto, louco e verdadeiro, do que em ser um herói vingador de seu pai.