Mariana Dal Chico 22/03/2022O primeiro calhamaço de 2022 foi “O Romance d’A Pedra do reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”, de Ariano Suassuna que li em conjunto com o pessoal do @leiturarte_
Eu conheço alguns teatros do Suassuna, mas esse foi meu primeiro romance e encontrei um humor diferente do qual esperava, frequentemente presente, mas menos escrachado.
Esse é o tipo de leitura que exige atenção - e paciência -, do leitor. Já que há muitas referências reais, modificadas e ficcionais. A linha do tempo pode ser um desafio e a quantidade de informações pesa na leitura.
Deixo aqui uma dica para quem vai se aventurar: não tente se apegar e compreender cada referência na primeira leitura, pois isso vai exigir pesquisa literária, política e biográfica da época em que ele foi escrito, fazendo com que seu ritmo de leitura caia drasticamente. Tudo isso enriquece a leitura com suas camadas e a complexidade própria da vida, mas não é essencial saber cada detalhe para conseguir entender o romance como um todo.
Quaderna é um personagem ímpar, dono de uma autoconfiança invejável, ele começa o livro dizendo aos leitores que aquela é uma tentativa de defesa de um crime do qual ele não é responsável.
Utilizando diversas técnicas literárias, guiado por dois mestres que estão em campos filosófico e ideológico completamente opostos, o narrador é verborrágico e por vezes empolado. Para mim, o mais interessante, é perceber como o autor faz uma crítica ao sistema judiciário/político por meio da linguagem própria desse mundo e também uma crítica aos literatos e suas obras pretensiosas.
“Eu mesmo já estou ficando entediado com essas infindáveis teses acadêmicas, que só incluo aqui porque são indispensáveis ao entendimento do meu caso.” p. 216
O final pode deixar alguns leitores frustrados, já que esse era para ser o primeiro volume de uma trilogia, que foi repensada e não continuada. Mas, no box comemorativo de 50 anos de publicação, há um caderno de textos e imagens com um capítulo de conclusão para o Romance d’A Pedra do Reino. Este, escrito especialmente para dar um fechamento na minissérie veiculada pela Rede Globo. Do ponto de vista literário, Suassuna não considerava esse texto acabado.
Foi uma experiência de leitura memorável, mas compreendo aqueles que não conseguem chegar ao final das quase 800 páginas, ou mesmo aqueles que não gostaram do que encontraram.
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