Romance d

Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta Ariano Suassuna




Resenhas - Romance d´A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta


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Andreia Santana 30/03/2012

Um romance para decifradores
Romance d´A Pedra do Reino não é leitura para ser feita às carreiras. É livro de decifrar, de palmilhar página a página, em compasso de quem anda pelos descaminhos do sertão sob um sol abrasador. O estilo da obra de Ariano Suassuna é difícil de definir. Seria cordel, novela de cavalaria, autobiografia, exorcismo de um trauma passado, história de amor, de ódio e de sangue, epopeia em prosa? O próprio personagem principal, Dom Pedro Dinis Quaderna, nos dá a pista: é um castelo de sonho, “a obra máxima da raça brasileira”. Bem disse Raquel de Queiroz no prefácio, que ler livro escrito por um erudito é o diabo. Ou você eleva o pensamento ao nível do visionário e delirante Quaderna (e da genialidade de seu autor), ou deixará a leitura inacabada. É de delírios, miragens de deserto, de legenda e sonho que trata essa obra. Da grandeza do homem mesmo diante da mesquinharia da vida.

A idade média nunca se acabou no sertão do Brasil. Em pleno século XIX do fim da monarquia, cangaceiros eram príncipes vingadores, beatos transmutavam-se em sábios merlins, prostitutas em misteriosas feiticeiras, sinhazinhas eram as damas de peitos macios e olhares sonhosos. E os mancebos, heróis trágicos. No começo da primeira república, alvorecer do século XX, a têmpera do sertanejo era forjada nesse fogo passional. Romance d´A Pedra do Reino é uma obra totalmente passional, dotada de uma paixão tão fanática, iluminada e beatífica quanto a do “santo” Antonio Conselheiro de Canudos.

Um rico mosaico de personagens desfila no grande palco que é esse Romance d´A Pedra do Reino. Personagens inspirados na cultura sertaneja e no gosto do autor pelas “demandas novelosas, embandeiradas e epopeicas” das novelas de cavalaria medievais. E alguém conseguirá pensar em Quaderna sem enxergar nele a ingenuidade de Quixote lutando contra moinhos de vento? Mas, Quaderna, um personagem complexo, que suscita amor, ódio, riso fácil, asco e piedade, é também moldado à semelhança daquele diabo sertanejo e treteiro, filho (ou seria o pai?) de Pedro Malazartes.

O livro não é linear, é uma mistura de muitas histórias dentro de uma única história, como aquelas bonecas russas, as matrioskas, em que ao abrir a maiorzinha, aparece outra e mais outra... Quaderna traz no sangue a tragédia de sua família, com tudo o que ela significou para transformá-lo no ardiloso arremedo de cavaleiro de triste figura que ele é. Suassuna, por sua vez, é um escritor que traz no sangue a tragédia do assassinato do pai, por causas políticas. Nesse sentido, o livro tem seus traços autobiográficos, mas é muita pobreza interpretativa reduzi-lo apenas a uma catarse individual. A Pedra do Reino vai além.

A leitura, árdua em alguns trechos, revela diversos momentos de grande prazer. O burlesco, o ridículo, o mal-ajambrado dão a tônica de uma narrativa febril, pontuada de picardia e de citações poéticas clássicas e populares, de descrições detalhadas da heráldica de bandeiras e brasões que, no entanto, é visão de um único homem delirante. Quaderna conta sua história, do seu jeito, para as belas damas de peito macio e para os nobres senhores, ao mesmo tempo em que na segunda metade da obra, responde a um longo interrogatório em um inquérito policial. Ele parece acreditar piamente nas motivações nobres de cada um dos seus atos e usando uma lábia fina (de diabo sertanejo) tenta nos convencer e ganhar a simpatia da audiência para a sua causa.

Quaderna, o charadista - A história, totalmente aberta e enigmática não traz a clássica resposta para os ”whodunit” da vida. A charada central permanece indecifrada: Quem assassinou o velho rei degolado, tio de Quaderna? O rapaz-do-cavalo branco era mesmo o jovem herdeiro do coronel morto, ou era um líder sertanejo querendo reeditar uma versão armorial da Coluna Prestes? Os fatos são passados ao leitor através do ponto de vista de Quaderna, um homem supostamente louco, com toda certeza de personalidade exótica e valores morais flexíveis (para não dizer amoral), mas que em determinados momentos, revela aquela lucidez involuntária dos inocentes. A maldade de Quaderna, se é que existe, não é maquiavélica e isso fica muito claro nos seus embates com o “Fucinho de Porco”, o corregedor nomeado para descobrir os assassinos do rico coronel e achar possíveis focos de uma nova Revolução Comunista em Taperoá, no sertão da Paraíba.

O leitor, e o corregedor, desconfiam que Quaderna possa ser o assassino desse tio que ele parecia idolatrar. Nós, leitores, ao menos, acreditamos que a motivação do suposto crime, se é que foi mesmo Quaderna, foi menos pelo interesse na herança (no tesouro enterrado numa furna do sertão) do que para ter com a morte tão sanguinolenta e misteriosa, o motivo, “o centro do enigma da epopeia” que o esdrúxulo Quixote de Suassuna quer tanto escrever.

Quaderna, megalomaníaco, age em nome do desejo ardente de ser gênio da raça brasileira, quiçá gênio da humanidade, está completamente tomado e alucinado pela lenda que criou para si mesmo e para sua malfadada família. Até a cegueira muito peculiar do personagem, que almeja ser maior que Homero, não deixa de ser uma metáfora precisa para descrever alguém que abriu mão da vida ordinária e calcinada no sol e nas pedras da caatinga, e transportou-se para dentro de um sonho acordado. Quaderna só vê a miragem e para ele, a miragem é a única realidade que consegue discernir.

Colcha de tacos - O cenário político do Brasil das primeiras três décadas da república, os fatos históricos que na leitura de Quaderna e de seus seguidores sempre descambam para a legenda e o sonho, as crenças e crendices do sertanejo, com toda a sua propensão ao fanatismo, as guerras de sangue entre as famílias poderosas, a tênue linha fina onde se equilibram os míticos cangaceiros, esses heróis-bandidos ou bandidos-heróicos, tornam A Pedra do Reino à primeira vista, uma colcha de retalhos mal remendada.

Mas, quem já viu uma colcha de tacos (aquela feita com quadrados e losangos de tecido colorido) sabe que à primeira olhada, a colcha se parece com uma maçaroca confusa de panos costurados aleatoriamente. Mas, ao acostumar os olhos, percebe-se a ordem precisa e o padrão de encaixe dos quadrados e losangos, que formam um rico mural “amosaicado”. A colcha, tão comum de encontrar nas casas pobres do sertão, é uma unidade formada por muitas outras, uma realidade compacta criada a partir dos fragmentos (dos pontos de vistas) de realidades diversas.

Assim é A Pedra do Reino, muitos livros dentro de um, aparentemente sem conexão, mas todos interligados, encaixados com precisão, unidos com a cola ancestral da mistura dos povos que formaram o Brasil no seu âmago. Sem deixar de ser um elaborado entretenimento e uma preciosa obra de arte literária, é ainda uma aula de sociologia e de história sobre o caldo “flamengo-ibérico-mouro-negro-tapuia” da nossa cultura brasileira, como bem diriam os dois mentores intelectuais de Quaderna, os caricatos Clemente Hará Ravasco, advogado negro – e comunista - com sobrenome espanhol; e Samuel Wan´Ernes, sinhozinho falido dos engenhos de Pernambuco, que se orgulha do sobrenome holandês legado pelos conquistadores chefiador por Nassau.

Abrir a mente para as conexões invisíveis presentes nessa ancestralidade de tantos povos misturados num único povo é essencial na leitura de A Pedra do Reino. E também, abrir a mente para aceitar que um romance pode abrigar na sua essência muitas outras linguagens como a poesia, o teatro, a musicalidade sertaneja, o compasso das ladainhas e as invocações apocalípticas dos adivinhos.

A Pedra do Reino é um exagero de livro, não tanto pelo tamanho de suas mais de 700 páginas, mas porque ele ambiciona abranger a vida, essa fera tão terrível quanto a “onça do divino” e tão doce (sem deixar de travar na língua) feito uma cajarana madura.
Douglas 21/06/2013minha estante
Achei bem complexa sua resenha, o que acabou não trazendo o que eu buscava saber. É um romance? Se é, é uma história emocionante com personagens marcantes? E o que mais se acrescenta o livro além da trama?

Obrigado.


Andreia Santana 21/06/2013minha estante
Oi Douglas, como eu disse logo na abertura do texto da resenha, O romance d´a pedra do reino não é fácil de classificar. É uma mistura de vários gêneros. Essa obra não cabe em rótulos e nem em categorias de escola, muito menos em divisões academicistas, não tem como precisar se é romance, cordel, epopeia (que é um tipo de poesia épica), história, crônica, romance anárquico, panfleto? A obra transita por vários gêneros e por nenhum. Suassuna, na sua genialidade, orquestrou uma narrativa fantástica que mescla vários gêneros literários conhecidos e outros que ele, muito provavelmente, inventou. Não sou erudita, sou apenas uma jornalista que gosta de escrever. Minha resenha é a opinião passional de uma leitora, não um tratado de estudioso. Propositalmente, fiz o texto da mesma forma labiríntica que o livro, porque ele é de leitura árdua, de difícil compreensão. Pra absorver esse romance é preciso abrir o espírito e a mente e embarcar na viagem de Suassuna e no sonho de Quaderna.


Juliana 05/01/2019minha estante
Andreia, que resenha incrível, obrigada pelo esmero!


Andreia Santana 02/02/2019minha estante
Obrigada, Juliana. A literatura requer respeito e esmero, acredito nisso. Abraços!




Fábio Valeta 05/06/2021

A Pedra do Reino é um livro complexo, cheio de significados e bem diferente do que eu esperava quando comecei a leitura. Foi a primeira obra que Li de Suassuna, sendo que no máximo havia visto adaptações de seu trabalho como a minissérie “Auto da compadecida” da Globo mais de 20 anos atrás.

O próprio livro é difícil de se classificar. Carlos Drummond de Andrade o chamou de “Romance-memorial-poema-folhetim”. Já Rachel de Queiróz descreve-o como: “...é romance, é odisseia, é poema, é epopeia, é sátira, é apocalipse...” e seu narrador/protagonista também faria questão de salientar a existência da safadeza na obra além de provavelmente acrescentar vários outros adjetivos.

O livro conta a história e é narrado por Dom Pedro Dinis Ferreira Quaderna, descrito por si mesmo como um poeta-escrivão, cronista, charadista e astrólogo, além de descendente dos Reis do sertão, remetendo a uma história real acontecida cem anos antes da época em que se passa a história. No qual dezenas de pessoas foram mortas em um frenesi religioso. Quaderna, seria o descendente do Rei louco que promoveu a chacina e acredita ter o direito à coroa (ao contrário dos “falsos” reis da casa de Bragança) e só não toma uma atitude, pois ele próprio sabe que é covarde e tem medo de ser morto igual seu antepassado infame.

Mas Quaderna, não satisfeito em narrar a própria história, em sua narrativa mistura cultura sertaneja, poemas, literatura brasileira, ideologias políticas e crenças religiosas e além da própria História do Nordeste brasileiro, com ênfase da Paraíba e Pernambuco. Há uma grande influência do Sebastianismo em sua fala: a crença de que o Rei Português D. Sebastião não morreu na batalha de Alcácer-Quibir na África em 1578 e que um dia ainda retornará para criar o Quinto Império, o reino de deus na terra, onde não existiria miséria, fome ou desigualdade. Crenças que também foram a base de um dos mais famosos levantes da História do Brasil: A Guerra de Canudos. O livro acaba se tornando além de um romance, um tratado filosófico, religioso, político e até mesmo histórico e literário, em uma mistura que é difícil saber o que é inventado pelo autor e o que é História.

É uma obra definitivamente interessante, mas bem complexa de se ler. O narrador é por demais verborrágico e para cada pequeno detalhe de sua história vão-se páginas e páginas de ideias, ideologias, poemas ou qualquer outra coisa que o ajude a contar a história do jeito que deseja. Tanto que a maior parte das suas quase 800 páginas se refere a um depoimento de apenas 4 horas, prestado frente a um corregedor que investiga a história do “Rapaz do Cavalo Branco”. História essa que é citada desde o início da obra e que mesmo assim o livro termina antes que se desvende-a totalmente. Inicialmente, a Pedra do Reino seria a primeira parte de uma trilogia, mas Suassuna desistiu da ideia enquanto trabalhava no texto do segundo volume. E com o passar dos anos revisou a obra original de forma a encerrá-la em si mesma (embora deixando várias pontas soltas, propositadamente, segundo seu narrador/personagem).

Para quem se interessa em ler o livro, a minha principal recomendação é que leia com calma e com todo o tempo necessário. Eu demorei quase 03 meses para concluir a leitura e mesmo assim tenho a certeza de que muitos detalhes passaram desapercebidos.
Natty 07/06/2021minha estante
Estou de olho há um tempo,mas com medo de ler e não entender3?


Fábio Valeta 07/06/2021minha estante
Não achei uma leitura fácil, mas recomendo mesmo assim.


Natty 08/06/2021minha estante
?




Gláucia 17/07/2010

Cansativo.
Criei a expectativa de uma leitura leve e divertida mas não é bem assim. O livro é extenso e acabei me perdendo nas peripécias e viagens dos personagens. No final já não sabia quem era quem e o que eles realmente pretendiam.
Cayo 24/10/2011minha estante
Verdade. O livro não é leve.


Thiago 09/02/2015minha estante
Gláucia eu acho esse livro um dos mais engraçados que eu já li na minha vida, e de fato você pecou achando que ia ser um livro leve, as misturas de gêneros torna a obra inclassificável o que se torna fácil se perder na leitura, bem que você poderia fazer uma releitura e dá uma chance ao velho Ariano.




Érika 03/02/2018

Épico, sem dúvida, mas um pouco irritante
Já faz um mês que eu concluí a leitura deste livro, um mês que eu tento escrever sobre ele, sem sucesso. Hoje faço mais uma tentativa; esperamos que eu consiga condensar minhas impressões sobre essa obra quase digna de Dostoiévski, em tamanho e conteúdo.

Ressalto que esse "quase" não provém de uma preferência intrínseca pelos autores estrangeiros em detrimento dos nacionais, embora minha queda pelos russos seja grande. Durante a leitura do livro, quando pensava em escrever uma resenha dele, estava pronta a tratar o "Romance d'A Pedra do Reino" como uma obra digna das de Dostoiévski, já que ele tinha tudo que se encontra nos gigantescos romances do famoso realista: crime, diálogos profundos, personagens bem desenvolvidos, certa ironia na observação dos comportamentos humanos, um protagonista longe de ser perfeito, alternância de cenas meditativas com as cômicas e com as dolorosas, que retratam em sua crueza os sofrimentos e as maldades.

No final, porém, Ariano Suassuna nos prega uma peça tão grande — daquelas que a gente antevê, mas não quer acreditar — que eu fiquei um pouco desapontada e decidi classificar o livro como uma espécie de híbrido de Dostoiévski com Lemony Snicket (que eu aprecio bastante, também, mas certos hábitos dele me irritam).

Acho que foi essa irritação e a leve sensação de ter sido enganada que me fizeram adiar a redação desta resenha.

Mas tudo em sua ordem. A edição que eu li era esta aqui, com prefácio da Rachel de Queiroz, que eu não entendi um pouco direito, graças à riqueza de referências à história em si, e só fui compreender (e concordar em muitas partes) depois da leitura completa.
Além do prefácio, antes do livro em si há um artigo analítico cujo autor eu não me lembro, mas que tem uma citação muito interessante de Alberto Moravia, segundo o qual "em todo escritor que tenha um conjunto de trabalhos que revele o seu esforço, a gente encontrará temas que se repetem." Eu sou uma leitora repetitiva, quando me apego a um autor, vou devorando aos pouquinhos toda a obra dele, então posso atestar pela observação a veracidade dessa frase. Ela também se aplica ao Ariano Suassuna, e, como ressaltou a prefaciadora, o Romance d'A Pedra do Reino, o livro todo, e não o seu protagonista, é uma imagem e condensação do autor. Neste livro o leitor encontra tanto o drama de A Mulher Vestida de Sol, quanto o tema religioso, a comédia, e o personagem espertalhão, como em O Auto da Compadecida. De fato, a ambientação da história é em Taperoá também, e o próprio João Grilo, herói do Auto da Compadecida, faz aparições discretas duas vezes no livro.

Sobretudo, no Romance há o Sertão e há os folhetos — os próprios capítulos do livro são denominados folhetos — e toda a atmosfera heráldica e nobiliárquica, de uma nobreza bem local, que caracteriza o Movimento Armorial a que Suassuna com orgulho se filiava.

Meu primeiro encontro com o Romance d'A Pedra do Reino, tirando as vezes em que eu passava por ele na biblioteca e pensava "Que livro grandão!", foi numa prova de concurso público. O texto para interpretação na prova de português era o Folheto que inaugura o livro, e o achei muito bem escrito e intrigante. Confesso que namorei esse livro muitas vezes na biblioteca, com mais afinco depois desse episódio, mas não tinha coragem de iniciá-lo. No fim do ano passado, aproveitei umas duas-três semanas que permaneci sem computador para devorar o livro.

Para minha felicidade, a história acontece justamente no nordeste, na década de 1930, grande parte entre 1935–38, então ainda me serviu como material de pesquisa para o meu romance histórico , já que estou escrevendo justamente uma parte que se passa no nordeste em 1935, no período que cercou a Intentona Comunista. Em Romance d'A Pedra do Reino não há uma retratação desses acontecimentos, mas o nome de Luís Carlos Prestes e toda a tensão em torno do comunismo que existia na época é ventilada ocasionalmente no livro, inclusive nas cenas cômicas, como o diálogo a seguir, entre um senhor e uma mulher da ala conservadora da Vila de Taperoá:

A senhora fala assim, mas é porque ainda está pensando nos cachorros sertanejos do nosso tempo, uns cachorros mais educados e respeitosos do que esses cachorros perdidos, de hoje! Tudo, agora, é um fim de mundo, minha senhora Dona Carmem, e os cachorros de hoje em dia não respeitam mais ninguém, são, todos, influenciados pelo comunismo! A senhora não se admire mais de nada, porque, do jeito que as coisas vão, daqui a pouco até os cachorros sertanejos menos conceituados vão andar por aqui no maior dos atrevimentos! Se ainda fosse um cachorro de respeito, um cachorro civilizado, como os da Alemanha, ainda ia! Mas um cachorro reles desses, um cachorro qualquer, de pé-de-serra, sentir-se no direito de se escanchar nas cadeiras das senhoras, aí não, é demais!

O livro começa com o narrador-protagonista Dom Pedro Dinis Ferreira-Quaderna se apresentando com uma dezena de títulos, dentre eles a de genuíno monarca do Brasil, e, em estilo empolado, nos propondo uma série de situações enigmáticas que promete explicar ao longo da narrativa, a saber: o motivo da sua prisão, o assassinato de seu tio, ocorrido naquela mesma torre em 1930, o desaparecimento de seu primo, Sinésio, e as desventuras do Rapaz do Cavalo Branco.

É a chegada deste Rapaz do Cavalo Branco à vila de Taperoá — ou antes, os eventos que precedem essa chegada — que inauguram a ação do livro, no Folheto II. O viés armorial se apresenta ali com toda a sua força, e o empolamento da narrativa de Dinis alcança tamanho vigor, falando de cavaleiros e bandeiras e brasões que chega a entediar. A cavalgada, porém, é interrompida bruscamente por uma emboscada promovida por um grupo de cangaceiros — o que me espantou um tanto, já que eu pensava que o grupo já se compunha de cangaceiros enfeitados verbalmente por Dinis— que tem um desfecho sangrento. Com esse episódio, o autor e o narrador nos alertam para não esperar só desfiles e nobrezas do que vem adiante, mas também certa crueza na sequência dos acontecimentos.

O livro tem por volta de 750 páginas grandes, e descrever ciclo por ciclo e folheto por folheto a ação que vai-e-volta (como o príncipe do título) entre 1930, 1935 e 1938 transformaria esta resenha em outro livro, embora menorzinho. Então vamos tentar resumir.

Ao longo da Parte I (Prelúdio: A Pedra do Reino), Dinis congela a história dos visitantes da Vila de Taperoá e passa a nos explicar porque atribuiu a si mesmo o título de Rei, lá no início, nos conta a história de seus antepassados, que reinaram na Pedra do Reino (os incidentes a que ele alude podem ter se originado em incidentes reais do Século XIX no Sertão, como se entrevê pelas epígrafes do livro), e depois explica como ele mesmo se coroou Rei, resgatando a nobreza de sua linhagem.

Apesar de querer o título, porém, ele não deseja ter o mesmo fim de seus antepassados: admira toda a atmosfera violenta que os cerca, e o próprio fato de terem sido mortos em banhos de sangue, mas admite ser, ele mesmo, covarde e sem muitos talentos viris. Assim, pretende construir seu próprio legado de outra maneira, o que nos leva à parte II.

Na Parte II (Chamada: Os Emparedados), Dinis nos apresenta um pouco mais de sua formação, a saber, de sua formação intelectual, curiosamente equilibrada entre Esquerda e Direita, representadas em seus posicionamentos, respectivamente, nas pessoas do Professor Clemente Hará e do Doutor Samuel Wandernes. Clemente é negro, adotado por um padre, que lhe deu educação, advogado, comunista, ateu, realista, nativista, e afeito às escritas teóricas. Dinis cita algumas de suas ideias ao explicar, em outro momento do livro, porque se considera "monarquista de Esquerda":

Ora, segundo Clemente, as pessoas da História brasileira e sertaneja que fazem essas coisas, são sempre da Esquerda e do Povo! A Direita das cidades, a "Burguesia urbana" (para usar a expressão do genial Epaminondas Câmara), o que quer é viver tranquilamente, roubando, na vida pacata e ordeira de quem já está bem instalado e só deseja mesmo é ordem pra poder furtar mais à vontade.

Samuel, por sua vez, é descendente dos nobres de engenho pernambucanos, loiro de olho azul, posteriormente Promotor de Justiça, integralista, católico, romântico-medievalista, fanático pelas origens ibéricas do Brasil e apegado à poesia. Os dois foram professores de Dinis (e seus irmãos e primos), e, até a idade adulta, exercem grande influência sobre o narrador que, em tudo, se define como um meio termo entre os dois, que são amigos e comensais de Quaderna, ao mesmo tempo em que o tratam com desprezo e condescendência.

Essa feição de Pedro Quaderna como meio-termo dos seus dois professores foi muito bem trabalhada pelo autor até os mínimos detalhes (talvez até o exagero), como o fato de ele ser do signo de gêmeos, associado, pelo pouco que eu sei desse assunto, a uma dubiedade até traiçoeira. Em qualquer caso, a formação eclética e indecisa mesmo de Quaderna aparece em todos os seus atos. Ele ora concorda com um dos professores, ora com outro, e com mais frequência com nenhum deles, propondo sua própria e terceira via, que geralmente mescla características das ideologias de ambos os professores — como vem fazendo desde o início do romance.

Não sei se essa era a intenção do autor, mas ficou a impressão de que Dinis reflete, nessa sua composição híbrida, o povo brasileiro. Clemente representa a origem negra e indígena (o "oncismo" negro-tapuia, como ele gosta de dizer), enquanto Samuel reflete a parte europeia da origem do Brasil. Dinis aparece entre os dois, e seu sentimento por eles é interessante: um misto de respeito, admiração, e também desprezo, tanto por sustentá-los, por ver as hipocrisias de cada um, por irritar-se secretamente com o modo como o tratam e, acima de tudo, por acreditar-se superior a eles.

De fato, ele acredita ser o Gênio da Raça brasileira, e também o Gênio da Humanidade.

Toda essa parte, que nos apresenta ricas discussões filosóficas, existe para explicar como Dinis resolveu o dilema de ser rei sendo covarde: citando uns quantos folhetinistas, ele chegou à conclusão de que o que um rei precisa para ser rei é de um Castelo, e de esse Castelo não precisa ser, necessariamente, um castelo físico. A obra-prima de uma pessoa é, também, um castelo — e eis como ele decide que vai construir um castelo em forma de romance.

Qual romance? Este que temos em mãos, que conjuga em si poesia, excertos de obras de outros, tem um crime insolúvel, uma história de amor trágica, citações de outros 'grandes' escritores, e todos os outros elementos que ele colhe das conversas com seus professores que seriam necessários para compor a Obra Máxima da Humanidade.

Na Parte III (Galope: Os Três Irmãos Sertanejos), o narrador ensaia retornar à ação do livro, em 1938, ao começo do processo que levou à sua prisão, e nós retornamos com ele.

Entre visões (visagens, como ele chama), conversas e outros episódios bizarros, como um duelo com penicos, ficamos sabendo um pouco mais sobre Dinis. Se até então tínhamos guardado sobre ele a impressão de uma pessoa menor ou fragilizada entre outros mais poderosos, impressão levemente manchada por insinuações e segredos escapados aqui e ali, na terceira parte vamos descobrir que, ao contrário, Pedro Dinis é uma pessoa um tanto quanto influente — para não dizer poderosa — na Vila de Taperoá. A mão dele parece estar em todos os negócios que acontecem na cidade, desde os nobres até os escusos, desde o encargo da biblioteca, o funcionamento de um jornal, a organização das Cavalhadas na festa do Divino Espírito Santo, até a manutenção de uma casa de prostituição.
Uma das cenas mais dostoievskianas do livro é a conversa de Quaderna com Pedro Beato, um velho com cuja esposa, Maria Safira, Quaderna vive amigado. É o momento do livro em que vemos o narrador mais exposto; provavelmente esse beato é a única pessoa que o protagonista respeita de verdade. Diante dele, em especial diante da ausência de ódio por parte dele, Quaderna enxerga todos os seus erros e faltas e fragilidades, e é uma das únicas vezes em que o vemos manifestar alguma dose de humildade. Abalado pela conversa com Pedro Beato e por uma anterior visão da Moça Caetana — uma prefiguração sertaneja da Morte — , Quaderna sai para uma volta antes de ir à delegacia, aonde foi convocado para dar depoimento. Encerrando esse ciclo místico, ele encontra outra pessoa, que remete ao satânico tanto quanto Pedro Beato remetia ao divino, e que lhe mostra uma crueldade, contando-lhe histórias escabrosas de incestos e do assassinato de um bebê, cujo corpinho foi lançado no barranco do rio e agora é disputado pelos cães.

Essa história também produz forte impressão sobre Quaderna, e, quando ele sai dali, tem-se a forte impressão de que ele foi chamado a um momento de decisão; seus possíveis caminhos foram colocados diante dele — para o céu, com o arrependimento, ou para o inferno, com a continuidade de seus atos e negligências culposas — e que seu próximo ato decidirá, irreversivelmente, o caminho escolhido.

O incidente com Maria Safira na igreja deixa clara a escolha do personagem.

Em seguida Quaderna encontra o juiz e a escrivã ad hoc— moça em que ele, ocasionalmente, joga cantadas — e começa uma nova fase do livro, com o depoimento do Rei da Pedra do Reino no processo reaberto para investigar a morte misteriosa do seu tio (sim, a mencionada lá no começo), e a participação do próprio Quaderna nesses eventos.

Metade da Parte III e as Partes IV e V (Tocata: Os doidos e Fuga: A demanda do sangral) abordam um pouco mais os eventos que Quaderna prometera relatar. Ele nos explica um pouco melhor como ocorreu a morte de seu tio — e como esse tio era meio doido, e como eram complicadas suas relações familiares — e o sequestro e morte de seu primo Sinésio, O Alumiado, acontecidas no contexto da 'Revolução' de 1930, e cercada de uma atmosfera messiânica, já que a população da vila espera pelo retorno de Sinésio. Tudo junto e misturado porque, segundo os pensamentos que o autor coloca na boca de Arésio, o irmão mais velho de Sinésio (com todo o jeito de um Caim ou de um Mítia Karamazov mil vezes piorado), política e religião, entre outras coisas, são meio inseparáveis na América Latina:

Por exemplo: seus amigos são incapazes de ver que o Exército e a Igreja são, na América Latina, os únicos Partidos organizados, disciplinados e verdadeiramente existentes.

Além de figuras políticas, aparecem figuras políticas, um ou dois tesouros escondidos, uma família arquirrival envolvida com velhos aliados da família do tio, uma moça meio piradinha que promete ter papel vital e romântico e trágico... a história vai se intrincando mais e mais e nos deixando curiosos para ver como aquela teia bizarra vai se desenrolar. Ao mesmo tempo, as páginas vão diminuindo gradualmente, e uma suspeita desagradável nos inunda.

Nos atos finais da história, retornamos finalmente à cavalgada do Folheto II, sua chegada à Vila de Taperoá, e os ensaios do que promete ser uma rumorosa aventura, a qual, ao que tudo indica, contou com a participação vital de Dinis — ou até foi arquitetada nos mínimos detalhes por ele, como pensa o juiz, e confesso que eu também — e deu causa ao processo e à posterior prisão.

E então chega o final, que eu não vou contar porque seria muita sacanagem, mas que é muito Lemony Snicket. Quem leu Desventuras em Série deve ter noção do tamanho da minha irritação.

Apesar dos pesares, considero o Romance d'A Pedra do Reino e do Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta um daqueles livros difíceis de esquecer e difíceis de absorver por completo, graças a trechos profundíssimos como este:

Por enquanto, só existem dois tipos de Governo: o dos opressores do Povo e o dos exploradores do Povo. O primeiro, é o dos Tiranos, o segundo, é o dos Comerciantes. No primeiro tipo, o Povo é submetido e esmagado em nome da grandeza, no segundo é explorado em nome da Liberdade.

E este, ambos colhidos de um dos diálogos mais profundos, quase no final do livro, entre Arésio Garcia-Barreto e o jovem comunista Adalberto Coura:

O mais que o homem verdadeiro procura, em seu conflito com o mundo, é colocar uma precária ordem em sua vida e um certo estilo em sua melancolia, em seu destino, que é, por natureza, despedaçado, triste, falhado, enigmático e trágico. Para isso, o homem tem duas fontes, duas raízes de defesa — o choro e o riso. Mas o choro e o riso verdadeiros, aqueles fincados profundamente e cujo ritmo se alimenta de sangue e de subterrâneo. Dinis Quaderna não é alegre, Adalberto. Quem passou o que ele passou e viu o que ele viu, não pode ser alegre. Os subterrâneos do sangue dele são como os meus, povoados de mortos sangrentos, que flutuam no rio da desordem. Apenas, enquanto eu resolvo meu conflito pelo choro e pelo suor do sangue e da violência, ele resolve o seu pelo riso; mas eu não sei qual o mais despedaçado, se o meu sangue ou se o riso dele!

Fragmentos do Romance vão ficar em minha mente por muito tempo. Sua natureza é, de modo geral, fragmentada mesmo. É difícil falar em enredo ou em fio da meada nesse livro. Ele é quase um álbum, uma colagem compilada pelo autor ao longo de 12 anos (1958–1971), cheia de referências, citações, intertexto, e muita, muita metalinguagem. Sobram, inclusive, as alfinetadas aos escritores, tais como esta:

Então Adalberto Coura tirou de sob o colchão da cama uma pequena brochura suja, com o título de Pensamentos sobre o estado. O livro tinha algumas indicações que fizeram Arésio sorrir, porque indicavam a extrema juventude em que ainda se achava o autor. Em primeiro lugar, na capa, anunciava-se logo que aquela era a primeira edição, indicando-se, assim, que o autor esperava tal demanda do público que logo se seguiria outra. Depois, na folha de rosto do livro, via-se escrito "Coleção Livros Eternos — 1º Volume".

É um livro sobre um livro, um livro dentro de um livro, com tanta coisa pra se pensar, meditar e rir que, a despeito do desapontamento final, e de não recomendá-lo para menores de dezoito anos, por alguns trechos escabrosos e violentos, não posso negar-lhe o título de épico.

site: https://medium.com/@rikabatista/resenha-romance-da-pedra-do-reino-e-o-pr%C3%ADncipe-do-sangue-do-vai-e-volta-d9781ad49c89
Renatinha 04/03/2018minha estante
Tenho ele guardado em casa mas ainda não comecei a ler, infelizmente!


Vinicyus B 14/08/2018minha estante
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Thiago 09/02/2015

Obra-Prima
Li este livro faz alguns anos, mas ainda recordo de várias cenas gravadas de forma indeléveis na minha memória, como por exemplo o duelo de penicos e as altercações e os mestres do Quaderna, enfim livro incrível e merece ser lido, recomendo com muita veemência.
Zi 08/03/2017minha estante
Não sei por que esse livro não é tão badalado na literatura brasileira como "Grande Sertão - Veredas", pois é do mesmo nível.




Thiago Barbosa Santos 19/06/2017

Quaderna, o Dom Quixote do sertão!
"É romance, é odisseia, é epopeia, é sátira, é apocalipse...". É assim que a escritora cearense Rachel de Queiroz define o Romance d'A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna. E essa realmente é a melhor definição para o livro que para mim, humilde leitor, está no hall das grandes obras da nossa literatura, mesmo a história sendo mais conhecida pela adaptação para série da Rede Globo.

O livro traz como tema o movimento sebastianista, misturando ficção e realidade de uma maneira tragicômica. Dom Pedro Diniz Quaderna, protagonista, é uma espécie de fidalgo sertanejo, herdeiro da coroa da Pedra do Reino. O avô dele, João Ferreira Quaderna, o Execrável, se proclamou rei do Brasil e causou a morte de muitos fieis em nome da ressurreição de Dom Sebastião, rei de Portugal Morto na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos.

Influenciado por todas essas histórias de realeza e pela cultura popular, como os romances de cavalaria da literatura de cordel e manifestações culturais a exemplo da cavalhada, Dom Pedro Diniz Quaderna cria todo um universo fantasioso e passa a sonhar com um novo reino no sertão.

Quaderna tem ares quixotescos. Possui também a ambição de escrever uma epopeia, que seria uma obra literária de tal magnitude que o tornaria gênio da raça brasileira e da humanidade. O mestre Ariano conta todas essas histórias de forma poética, trágica e ao mesmo tempo bastante irreverente.

O Auto da Compadecida consagrou o autor paraibano para o teatro. E o Romance d'A Pedra do Reino provou que ele também é um romancista admirável. No posfácio do livro, publicado em 1970, Maximiano Campos traduz com precisão essa afirmativa: "O Brasil encontra agora em Ariano Suassuna, que já era o seu maior dramaturgo, um grande romancista".
Leio, logo existo 22/07/2017minha estante
Excelente resenha. Bateu aquele desejo de ler o livro!
Ele está sendo relançado. Correr para comprar! ?




O Leitor 27/02/2009

Globo
Bom, sou uma daquelas pessoas que gostam de ler antes de ver... E no momento que soube que a Rede Globo iria fazer uma adaptação do Romance da Pedra do Reino, procurei pelo livro e li... É um livro bastante cansativo, imaginem do início ao fim (?), o interrogatório de uma pessoa contando sobre as suas gerações passadas, toda a história da família de imperadores de um Reino do nordeste, etc... Levei uns 3 meses para concluir,ms consegui com a expectativa de ver como ficaria a microsérie e, sinceramente, o livro se mostrou melhor. A melhor parte, descrita genialmente pelo Ariano, é a batalha dos padrinhos do Quaderna, um usando como arma um pinico. E a parte da cavalhada também é maneiro. Quem nunca viu uma, como eu, dá para se sentir assistindo uma pela forma que está descrita. Não conhecia a literatura do Suassuna e o livro me mostrou que ele é um daqueles gênios vivos da literatura brasileira. Quem gostou do Auto da Compadecida, pelo filme, irá gostar desse livro, pelos personagens e o modo folclórico pelo qual a história é conduzida. Já ouvi dizer que Ariano Suassuna merece um NOBEL DE LITERATURA e concordo plenamente. Como o Nobel não premia pessoas mortas, atualmente ele é um dos raros que podem representar o Brasil em um prêmio assim.
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Biu.V 30/03/2009

Armorial
O livro o "Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta é uma tranposição oral da peleja entre Mouros e Ibéricos com uma pitada brasileira, no sertão da Paraíba e Pernambuco. É um livro hilário como só sabe ser hilário Ariano Suassuna. O ponto alto: as discussões entre o fidalgo Samuel (Ibérico) e o tapuia Clemente (Mouro). Um romance alegórico armorial que traz uma beleza impar para o Sertão das Carvalhadas. Um ótimo livro com tiradas geniais, que só mesmo Ariano Suassuna para escrever algo assim. Amei o livro, uma obra-prima da Literatura brasileira.
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IvaldoRocha 06/07/2009

Um dos melhores
Com toda a certeza um dos dois melhores livros que já li, coloco tranquilamente ao lado de Don Quixote. Talvez não tenha toda a universalidade de Cervantes, embora também trate de um mito quase universal de Don Sebastião, mas é simplesmente fantástico. Vale a pena ver antes um pouco da historia real que envolveu a pedra do reino, onde várias pessoas foram realmente sacrificadas.
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oficial 17/12/2009

Verdadeira jóia da literatura Brasileira e Nordestina.
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Adrya.Jordanaa 08/03/2024

Romance da pedra do reino e o príncipe do sangue vai e volta
É uma leitura densa e desafiadora, mas extremamente recompensadora para aqueles que se aventuram por suas páginas. Com uma trama cativante, personagens inesquecíveis e uma reflexão profunda sobre a identidade brasileira.
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cfsardinha 25/07/2011

Fora o fato de ser meio doido, como todo livro do autor, esse romance se assemelha ao Auto da Compadecida e é chamado por Ariano como um romance picaresco. É tipo um poema, uma odisséia.
O livro é todo entremeado de religiosidade e erotismo, heroismo e covardia. O personagem principal, Dom Pedro Diniz Quaderna, como se auto-denomina, nos arrasta pelos seus mundos alucinados, através dos seus delírios genealógicos e seus mistérios e enigmas nem sempre decifrados. Nas contradições do comportamento do personagem principal, um "herói" grotesco, estão as do seu coração. No meio disso tudo, uma representação do seu mundo sertanejo - como ele queria que esse mundo fosse, ou como imagina que é. Com tudo sempre muito belo e mágico. É inspirado em um episódio ocorrido no século XIX, no município sertanejo de São José do Belmonte, perto de Recife, onde uma seita tentou fazer ressurgir o rei Dom Sebastião - transformado em lenda em Portugal depois de desaparecer na África (Batalha de Alcácer-Quibir).
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Fernando Lima 17/05/2013

Divisor de águas
Não vou me atrever a escrever uma resenha aqui, pois algumas das que eu li dão conta de tudo o que eu gostaria de dizer sobre a obra.
Porém não posso deixar de expressar as impressões que a leitura me causou:
É magnífica! Uma obra de gênio, pois reúne numa obra traços da cultura nordestina com acontecimentos históricos que não se restringem ao sertão nordestino, como é o caso da guerra entre ibéricos e mouros, e o advento do comunismo.
A obra, alem de ratificar o que eu já pensava sobre Ariano Suassuna, me abriu novos horizontes literários e com certeza vai me tornar mais criterioso na escolha das próximas leituras.
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Jorge 12/01/2014

Um ensaio político-fantasioso romanceado.
Recomendo não esperar do livro um enredo de aventura, vejo que os fatos em si não fazem parte da discussão primária do livro. Na minha concepção, li em "A Pedra do Reino" uma história sobre idealismos, lados opostos e sobre como Diniz Quaderna nos propõe unir a fidalguia ibérico-brasileira com o socialismo negro-tapuia. É comum passar por esses termos contraditórios, como "monarquia de esquerda", e igreja católico-sertaneja. Há sempre um rei fidalgo, honroso, honesto e popular que voltará pra trazer glória ao povo sofrido do sertão. Seja ele Dom Sebastião, O desejado, ou Dom João Ferreira Quaderna, o Execrável, ou Sinésio, O Alumioso. Um debate popular de homens eruditos, recheado da sabedoria do sertão e de fatos assombratícios de cangaceiros, cantadores e visagens. O Brasil que Ariano Suassuna sonhou.
No "Romance d'A Pedra do Reino", Suassuna demonstra sua monstruosa cultura, mas não por pretensão e pedância, mas porque o contexto exige tal, pois encontramos diversos debates literários, políticos e históricos do Brasil e do mundo. Além de tudo, é uma aula! Muitas vezes eu me confundia com nomes dos personagens que são muito parecidos, e me perdia no meio de mil referências históricas e literárias, mas entendo que é necessário pra compor o tom idealista e quixotesco do livro... Acho essencial reler a obra, pois há tanta minúncia, tanta história por trás de histórias que o livro se torna impossível de absorvermos tudo que o velho Suassuna nos passou. Uma obra de alto nível para a eternidade.
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Zi 22/07/2014

D. Quixote do Sertão
Este livro, como bem disse Rachel de Queiroz, é difícil de rotular, pois ele é ao mesmo tempo crônica (que relata fatos “meio” verdadeiros – supostamente históricos), romance de cavalaria, conto fantástico e até romance erótico (vide nele poemas como Romance da Filha do Imperador do Brasil). Melhor deixar que Lino Pedra-Verde (um dos personagens do romance) o defina: “história litúrgica, epopeica, lunária, astrológica, solar, risadeira, de putaria, bandeirosa, e cavalariana”.
Lendo-o, expressões como despilotada do juízo, desassitido de vergonha e palavras como alumioso remeteram-me a Guimarães Rosa, coisa com que Rachel de Queiroz não concorda, porque diz (com razão) que Rosa era um inventor de pessoas e palavras, enquanto que Suassuna é um transfigurador de palavras e sintaxes. Aliás, permitam-me fazer um parêntese: não sei como se pode verter Guimarães Rosa para outros idiomas, mas sei que existe versão de Grande Sertão: Veredas até em holandês. Por outro lado, na medida em que Antonio Houaiss traduziu Ulisses de Joyce para o português, uma prodigiosa façanha, parece que não existem impossibilidades no reino da tradução. Mesmo assim, traduzir este Romance da Pedra do Reino para outros idiomas é-me inconcebível, pois como verter o trecho em que Clemente tenta explicar ao nosso “herói” o que é o “penetral” com as seguintes palavras: “- Olhe, Quaderna, o “penetral” é de lascar! Ou você tem “a intuição do penetral” ou não tem intuição de nada! Basta que eu lhe diga que “o penetral” é “a união do faraute com o insólito regalo”, motivo pelo qual abarca o faraute, a quadra do deferido, o trebelho da justa, o rodopelo, o torvo torvelim e a subjunção da relápsia!”.
Nosso herói, D. Pedro Dinis Quaderna, na realidade um anti-herói, pois ele mesmo se declara “um homem sem talento e sem sustança, um sujeito que não podia montar muito tempo a cavalo sem assar a bunda e inchar os dois joelhos de uma vez” ou que não quer “arriscar a garganta e nem me meter em cavalarias, para as quais não tenho nem tempo nem disposição, montando mal como monto e atirando pior ainda!” está preso, após sua quixotesca e epopeica desaventura e o livro, em que cada capítulo é um Folheto, pretende ser um Memorial dirigido à Nação Brasileira à guisa de defesa ou apelo, a ser anexado nos autos do processo em que se acha envolvido.
Pois é, nobres Senhores e belas Damas dos peitos macios (como diz D. Dinis nos seus Folhetos), é uma leitura deliciosa. Eu reputo como um dos livros “essenciais” da literatura brasileira. Tive sorte de ter sido um dos livros que li antes de morrer (arte que não pretendo praticar tão cedo).
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