bardo 23/03/2024
Hyperion de Dan Simmons, consegue ser paradoxalmente um livro muito bom e muito ruim. Explico, para o que se iludirem com o marketing comparando o livro a outras obras como: Senhor dos Anéis, Duna, Fundação ou Nárnia; certamente vai se frustrar. É possível sim encontrar alguns paralelos, mas de um modo geral são forçados. Tampouco o livro é uma Space Opera tradicional. Lido com esses olhos o livro é péssimo.
Agora Hyperion lido para além da historinha, que em si é relativamente simples: peregrinos dirigindo-se a um santuário aterrorizado por um monstro; torna-se imensamente mais interessante, mesmo considerando as talvez tentativas do autor em emular os defeitos do gênero.
A quantidade de referências, algumas óbvias outras só acessíveis mediante uma boa bagagem literária ou buscas antecipadas sobre o livro, tornam a obra bastante rica, complexa e em alguns momentos enigmática. O fato desse primeiro livro ser essencialmente um prólogo não ajuda muito. Para os interessados na historinha, pode ser bem frustrante.
Deixando-se de lado a narrativa em si e olhando-se para os debates tratados o livro cresce enormemente, o autor faz uma profunda reflexão sobre a crença (especificamente a judaica e a cristã, mas não somente), política, criação artística, consumo, massificação, nossa relação com a tecnologia (inquietantemente profética), propósito versus mortalidade entre várias outras.
A despeito da boa tradução acredito que a experiência de leitura no original (se possível) seja ainda mais rica. O material de apoio da edição da Aleph ajuda bastante o leitor meio perdido, o texto de André Cáceres e o vídeo de Mell Ferraz são bastante esclarecedores**.**
A despeito da densidade, do apelo sexual as vezes irritantemente imagético em momentos inoportunos e de alguns personagens construídos para serem detestáveis, Hyperion de Dan Simmons é uma obra intrigante, complexa e que não subestima o leitor. Vale também dizer que que pede, que exige releituras.