Renata CCS 24/06/2014Doceira, contista e poeta.
"Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (...)"
Pelo trecho desta carta dirigida a Cora Coralina em 1983, por Carlos Drummond de Andrade, após ler a obra “Vintém de Cobre”, nota-se que o poeta encantou-se com o seu trabalho e, ao ter a carta divulgada, Cora desperta o interesse do público leitor e fica conhecida em todo o Brasil.
Cora Coralina (pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas) era uma mulher simples, doceira de profissão e alheia a modismos literários. Produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.
Modesta, ela se achava mais doceira do que escritora. Cora escrevia com simplicidade e seu senso poético já se percebe na escolha do pseudônimo. Passei algumas horas em companhia de suas palavras e posso afirmar que esta senhora escrevia sem rodeios, sem meias-palavras, com sabedoria e sensibilidade. Além de escrever sobre sua cidade natal, versou sobre a essência da alma feminina, falou sobre a família, relacionamentos, filhos, sonhos, mágoas e amor.
Devo confessar que apenas conhecia um pouco da obra de Cora Coralina antes desta leitura. Não posso dizer que me apaixonei por sua escrita, mas Cora me lembrou, em vários momentos, que a vida exige intensidade e de como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.
Uma mulher de alma doce, como os doces que fazia.
Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.