Ana Júlia Coelho 22/01/2024Marcelo, como todo jovem de sua idade, faz merda sem pensar nas consequências. Numa dessas, fraturou uma vértebra e ficou sem movimentos do pescoço para baixo. Precisou ficar na UTI, depois mudou para um quarto, mas, ao longo de 3 meses, até ir para casa, teve muita oportunidade para refletir e reavaliar, com saudade, sua vida de fanfarrão.
Entre descrições da vida no hospital, também somos levados para a época em que ele saía, se divertia e pegava todo mundo. Numa dessas, o autor descreve quando decidiu ser músico e até nos mostra umas letras feitas por ele (muito ruins, por sinal). Essa parte me deixou bem entediada, achei um pouco monótona, junto de outra parte onde ele divaga sobre muros nas cidades. Ele entra em reflexões políticas que não me agradaram, mas entendo esse lado, já que o pai dele foi vítima da ditadura.
Foi muito legal acompanhar esse choque entre “minha vida era incrível e eu podia fazer o que eu quiser” e “agora dependo de outra pessoa para tudo, só meu cérebro ainda funciona”, porque nos faz refletir sobre a vida e sobre a falta de acessibilidade na maior parte das construções do Brasil. Ele, que era um garoto que não planejava nada, vivia intensamente, passou a analisar se consegue chegar facilmente em um simples cinema.
Enquanto reaprende a viver dependendo de uma cadeira de rodas, ele percebe que pode permanecer o mesmo, apesar dessas pequenas adaptações na vida. Nesse pequeno relato ele demonstra todos os altos e baixos de precisar fazer fisioterapia, a ansiedade em descobrir se conseguirá voltar a andar e todas as explosões de emoções que uma situação dessas desencadeia em uma pessoa.
Gosto que a edição tenha mantido o vocabulário da época, mesmo que algumas expressões e palavras sejam inapropriadas para o politicamente correto de 2024. A graça de um livro é, além de entregar uma história que nos faça refletir (ou apenas se divertir), manter preservada a cultura da época em que foi escrito, e esse livro manteve totalmente a essência da juventude do autor.
Para mais resenhas, me siga no instagram @livrodebolsa